"A Ministra de Estado e das Finanças"


António de Oliveira Salazar (AOS) foi ministro das finanças e presidente do Conselho de Ministros (CM) já não se sabe por quanto tempo. A muitos, pareceu-lhes uma eternidade.

Como aldeão que era e democrata de gema, sempre utilizou, mesmo com o que chamava de "adversários políticos" uma terminologia correcta, educada, polida.

Jamais se dirigiu à sua Assembleia Nacional (AN) sem tirar aquele chapéu grotesco que sempre trazia, ou entrando de botas nos passos perdidos de São Bento (SB).

Enquanto ministro das finanças, tinha destas a ideia de uma mercearia, onde, à noite, se esconde o apuro diário. Escondia esse dito, em forma de barras de ouro, nos cofres do Banco de Portugal (BP).

Era um rural respeitador das ideias alheias, cultivava as diferenças e nunca chamou a polícia, mesmo política, para qualquer tipo de repressão a quem pensava ou agia de modo diverso do seu. Em suma, um humanista.

Desde António Oliveira Salazar que o país não era bafejado por um ministro das finanças tão poupador, tão zeloso dos dinheiros públicos e que nunca por nunca tivesse vendido a nacionais e estrangeiros uma parcela, por mais minúscula, da fazenda pátria.

É a actual ministra das finanças, não sei se públicas se privadas, pois não está ainda esclarecido se trata daquelas ou destas.

Manuela Ferreira Leite, que é a ministra de quem se fala, tem sobre António Oliveira Salazar, e desde logo, uma incomensurável vantagem - faz, pelos seus dotes físicos, inveja a qualquer Claudia Schiffer já em franca decadência.

É uma ministra simpática, sempre pronta a responder com amabilidade à Comunicação Social - nunca se lhe topam quaisquer tiques desabridos ou de autocracia, o que não seria de estranhar se se pensar na escola política de onde surgiu. Superou-a.

Tem, como todos nós, uns pecadilhos fiscais - aqueles três mil contos que se esqueceu de declarar ao seu ministério e aquele Director-Geral que ganha, não se sabe como, e com que fundamento legal, uns módicos 30.000 euros mensais.

É ainda ministra de, ou do, Estado, mas aqui não se sabe quais são as suas funções, dado que sempre nos fala de dinheiro, de défices, de poupanças, de negócios públicos e privados, de como conseguiu, com sua acção regeneradora, evitar que a União Europeia (UE) nos levantasse um processo de contra-ordenação por incumprimento culposo das regras do mealheiro.

Como toda a gente, Manuela Ferreira Leite, de quando em vez, perde a tramontana, sobretudo com gente que, sendo de outra religião partidária, não entende o que ela diz. Não entende ou não quer entender.

Nessas ocasiões, como ministra do Estado e do Dinheiro, assiste-lhe o direito de deixar cair o que, em António Oliveira Salazar, seria um dislate despropositado, mas nela se deve ter como desabafo, ante adversários que querem é prejudicar o seu labor, não cumprindo a máxima da sua filosofia política e que se sintetiza em

...deixem-nos trabalhar...

Vai daí que, respeitando embora aquilo que ontem era a Assembleia Nacional e hoje a Assembleia da República, com as adequadas e essenciais diferenças, a Srª Ministra perdendo, mas logo encontrando, o perfil adequado às altas funções do Estado que é seu, em se voltando para um habitante desta última, que teimava em questioná-la, teve, forçosamente, de lhe dizer...

...O senhor não merece o ordenado que recebe...


o senhor não sabe do que está a falar

.
...pergunta é de um ignorante...


É de não questionar que se a ministra disse que o deputado, porque de deputado se tratava, não merece o dinheiro que recebe, é verdade, pois o Dinheiro que o deputado recebe não é do país, mas da ministra e ela é quem diz quem merece e quem não merece o dinheiro que paga...

E se a ministra, que é também ministra do Estado, afirma que o deputado não sabia o que dizia e era ignorante, só pode ser verdade, pois é o ministro de Estado quem decreta quem é e quem não é ignorante.

Problema é saber se a ministra das finanças e do estado, quando deixar de o ser, aceita as regras que ora impôs ao deputado e não vai antes a correr ao DIAP participar por injúrias de um ministro de estado e das finanças que lhe entregue tais terminológicas prendas.

Ponto final.

Alberto Pinto Nogueira


Publicado por josé 18:57:00  

8 Comments:

  1. dragão said...
    Pois, brilhante!...O postal, claro está. Já que a ministra é uma Madame Min do piorio! Só lhe falta a vassoura e o caldeirão.
    ABA said...
    Boas!
    Não vejo que paralelo se possa estabelecer entre MFL e AOS, mas enfim, adiante!
    Por menos polida que a senhora possa ter sido com o deputado, seria interessante efectuar uma sondagem sobre o que as pessoas acham da intervenção da ministra - mesmo tendo em conta os índices de popularidade de que goza junto da opinião pública.
    É que parece-me, e talvez a senhora o devesse ter tido, que o país está cansado de ver premiado, não o mérito nem a excelência, mas uma generalizada e irritante vulgaridade em pessoas que têm responsabilidades e obrigação de se constituir como valor acrescentado e não como défice de qualidade.
    Há de facto muita gente medíocre.
    Claro que temos parlamentares brilhantes (poucos) que discursam de improviso e elevam o nível da AR.
    Não foi o caso. O homem não estava de facto preparado. Isto não iliba a senhora, de modo nenhum; mas que diabo, não ocultemos com isso a vulgaridade!
    Calorosas saudações.
    zazie said...
    caro Alberto, você assim obriga-me a fazer uma coisa que nunca tinha feito na vida: um comentário "politicamente correcto".
    Pois é. Eu nem vi aquilo de que fala, nem sou fã da ministra nem pesco nada de finanças mas, que raio, parece que a si é que lhe cai a tramontana quando lhe deu para comparações com o Salazar a par de umas bocas machistas (raios que odeio esta palavra) em relação ao aspecto físico da ministra.
    E olhe, fosse ela a Claudia Shiffer a ver se não lhe achava muita piada ter chamado ignorante ao outro. Pois eu achei e não me incomodam quedas de tramontana dessas...
    Aqui para nós: vocês homens deviam tirar partido dessa característica fazendo precisamente o contrário, mandando apenas piropos.
    Não se diz mal da estética de uma mulher a menos que não se seja muito homem ou se esteja a falar em privado enquanto se emborcam umas cervejolas e projectam os caroços das azeitonas contra as paredes da sala...
    zazie said...
    autoritarismo é autoritarismo, não tem nada a ver com regimes nem obrigatoriamente com tempo de ditadura. A Margare Tatcher também era autoritária e não a iamos chamar de salazarista, pois não?
    zazie said...
    e não a chamaríamos salazarista que escrevi com os pés mas não gosto de apagar.
    josé said...
    A MFL pode ser apodada de autoritária e "ditadora", levando com o "salazarismo" no lombo,que é um exemplo para os que nunca se enganam.
    Sê-lo-á, nesse caso, por antonomásia que é a figura de estilo que toma um nome próprio por um comum e vice-versa.
    E, por essa via, já o PN se livra das críticas...
    zazie said...
    e tem toda a razão! já me penitenciei pelo facto. Principalmente depois de ter lido a corajosa entrevista!
    zazie said...
    o que queria distinguir era o autoritarismo que até pode ser eficaz do espírito de merceeiro de poupar pequenino. Este último é que por cá tem uma enorme tradição salazarista. O Mário Cláudio até o referiu num romance... o poupar que até levava a escrever com letra miudinha e aproveitar os papelinhos todos...

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