Peclecs explicados

Um dos aspectos mais interessantes destas janelas virtuais alcandoradas no universo blogosférico é a variedade e diversidade de temas e textos que se abrem e ficam expostos ao navegante ocasional.

Nas lojas da blogosfera nacional, o visitante encontra de tudo um pouco, mas rareiam os artigos essenciais: os de informação esclarecida.
 
Sobra a opinião, escasseiam os factos em primeira mão. Copia-se largo e em extensão e por isso, a maior parte dos blogs são eminentemente dispensáveis, como diria o Vasco Pulido, em dia amargo de entrevista de ocasião.

Se alguma coisa podemos dizer que nos é essencial e primordial, é a saúde. Daí que assuma importância fundamental conhecer quem nos trata dela e quem dela se ocupa para também a ter.

Não adianta apontar mais longe ou prolegomenar mais: o que aqui me traz, são dois blogs - dois - e os escritos sobre a nossa saúde!

Um deles, tenta explicar alguma coisa de medicina a quem não entende - os intelectuais!

Às vezes atrapalha-se, mistura desabafos com diagnósticos e radiografias e a explicação prometida fica adiada. Outras vezes, abre as portas do conhecimento a quem estiver interessado. Como por exemplo aqui, nesta cópia que transcrevo, prestando a vénia devida:

“Há cerca de um ano, "Por motivos de saúde que requereram uma opinião urgente de determinada especialidade, desloquei-me por mais do que uma vez à urgência central do Hospital de Santa Maria. Segui todos os trâmites que seguem todos os outros doentes: inscrição, espera, triagem, e aguardei, aguardei e aguardei, observando.

As comunicações móveis e os cochichos entre os vizinhos de cadeira, ambos facilmente audíveis, permitiram que fosse suspeitando dos diagnósticos dos meus colegas de ocasião (longe de imaginarem que o colega de ocasião era um médico-doente).

Como médico, entristeceu-me ver a sala de espera repleta de pequenos casos: pais com filhos com febre, filhos com os pais com febre, pequenos traumatismos, infecções urinárias, lombalgias à espreita de uma chapa, cefaleias e depressões e outras situações menores.

De quando em vez entravam alguns directos.

Um denominador comum nas suas conversas para justificar a vinda ao hospital central era o facto de não terem encontrado uma alternativa personalizada em quem pudessem confiar, isto é, o seu médico de família.

Os próprios reconheciam que poderiam ser tratados noutro local e terminavam assim: não encontrei o médico de família, não o pude contactar, o centro de saúde estava fechado, para ir a outro médico que não conheço, venho antes aqui, etc.
Se estes doentes tivessem uma relação personalizada, próxima do seu médico ou uma pequena equipa de médicos, se os médicos dos centros de saúde fossem responsáveis pela organização dos seus serviços, se ganhassem pelo que produzissem, incluindo consultas telefónicas tipo call-center, não tenho dúvida de que os doentes prefeririam muito mais uma opinião conhecida, que aceitariam e que lhes transmitisse confiança e os médicos sentir-se-iam com mais vontade de trabalhar, se o seu ordenado não dependesse apenas da assinatura mensal da folha de ponto, quer trabalhem no duro, quer cocem as paredes e das muitas vénias ao Sr. Director".

Este texto tem um ano ao qual dei o título de "As Portas Fechadas".

Este é que é o problema das nossas urgências hospitalares. Lado a lado, a atrapalharem-se e a atrapalharem os médicos e outro pessoal da saúde, estão feridas com meio centímetro e grandes eventrações, estão infecções urinárias e septicémias, estão traumatismos cranianos com massa encefálica no exterior e pequenos "galos", estão paragens cardíacas e neuroses cardíacas e muitos outros exemplos.

Haverá por parte de alguns utentes falta de civismo, mas para muitos, falta de informação ou mesmo de alternativas.

E já agora pergunto: quantos habitantes da blogosfera, não recorreram já às urgências hospitalares centrais por dor de dentes? Por dor de ouvidos? Por dor de *....”

Outro blog que explora as mesmas vias, por caminhos mais ínvios, às vezes escatologicamente anarca na escrita e radicalmente ético no conceito , é o do AlVIno.

É blog que se com os óculos do sentido de humor. Não é para toda a gente , porque o dom, infelizmente, não chega a todos.

Mas é radical e urgente no desabafo em que se escreve sobre quem nos trata da saúde, nos hospitais do SNS e dos PECLECS. Eu fiquei assustado, porque o diagnóstico é de tumor maligno! E não vejo quem o extirpe!

O PECLEC, para quem anda distraído, é o Programa Oficial de Recuperação das Listas de Espera. E as estatísticas até Agosto passado estão aqui:

Segundo outros desabafos na blogosfera:

“Nesta intricadas decisões entra sempre o factor das Listas de espera dos Hospitais. Não sei se os leitores se recordam das críticas quase diárias às listas de espera nos tempos dos Governos Socialistas; era incrível como os Ministros de Guterres não resolviam aquela velha questão; o PSD obrigou todos os Ministros do Governo Socialista a prestar contas quase mensais na Assembleia da República. A recuperação de listas de espera iniciou-se em vários Hospitais, mas sempre debaixo de fogo cerrado da oposição.

E agora que o PSD está no poder? Decide-se! Criou-se o PECLEC (Programa Oficial de Recuperação das Listas de Espera). Acabaram os doentes? Qual quê! Os doentes do PECLEC serão intervencionados durante as horas normais de serviço? Deve ser, porque o Senhor Ministro já admitiu que já entraram nas listas de espera mais doentes do que aqueles que foram resolvidos e que o PECLEC terá de ser esticado por mais 2 dois, pelo menos…

Ou seja, a recuperação de listas de espera andará por aí à espera do seu fim, enquanto semanalmente o Ministro vai decidindo quantos novos doentes entram e saem das ditas listas… A decisão fundamental não é tomada? Que interessa se se fazem muitas ou poucas cirurgias? O que interessa é que o povo vá acreditando que este Governo está a decidir…”

Quanto à escrita Alvinesa, aqui fica só uma amostra:

"Açim, é fássil ganhar guita... E bão ber que os mesmos médicos uperam nas óras de cirurgia de rutina, e consultam nas mesmas órinhas, e mamam o urdenado normal e o guito todo do PECLEC?

E os que se baldam purque ficão a durmir, que uperaram muito nos PECLECs na béspera? Açinam cumo se foçem aos Servissos, na boa... cumessa a trafulhisse pelos diretores, claro!

O isquema não paça de chular umas guitas ao istado, desdobrar as cirurgias se puçível, no tempo já pago pelo urdenado abiar os PECLECs, currer pra clínicas e cãotinuar a PECLECar...

Os auditores são nabos, em geral, e cãofião nos dados e registos... forjados pelos PECLECadores... bão tupar 2 ou 3 cazos mal rejistados mas não tópão a estrutura da trafulhisse! "

Parece-me um retrato demasiado impressionista para não ser verdadeiro!

Publicado por josé 12:13:00  

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