Atrás dos Tempos Vêm Tempos e Outros Tempos Hão-de Vir


«Eu pego na minha viola
E canto assim
Esta vida
A correr

Eu sei que é pouco e não consola
Nem cozido à portuguesa há sequer
Quem canta sempre se levanta
Calados é que podemos cair
Com o vinho molha-se a garganta
Se a lua nova está para subir

Que atrás dos tempos vêm tempos
E outros tempos hão-de vir
Eu sei de histórias verdadeiras
Umas belas
Outras tristes de assombrar

Do marinheiro morto em terra
Em luta por melhor vida no mar
Da velha criada despedida
Que enlouqueceu e se pôs a cantar
E do trapeiro da avenida

Mal dormido se pôs a ouvir
Que atrás dos tempos vêm tempos
E outros tempos hão-de vir
Sei de vitórias e derrotas
Nesta luta que se há-de vencer
Se quem trabalha não esgosta
No seu salário sempre a descer



Olha a polícia
Olha o talher
Olha o preço da vida a subir
Mas quem mal faz
Por mal espere
Se o tirano fez a festa
P'ra fugir
Que atrás dos tempos vêm tempos
E outros tempos hão-de vir
Mas esse tempo que há-de vir
Não se espera como a noite
Espera o dia

Nasce da força que transpira
De braços e pernas em harmonia
Já basta tanta desgraça
Que a gente tem no peito
A cair
Não é do povo
Nem da raça
Mas do modo como vês o porvir

Que atrás dos tempos vêm tempos
E outros tempos hão-de vir»

«ATRÁS DOS TEMPOS VÊM TEMPOS»
Letra e música: Fausto Bordalo Dias



(Fausto, um dos maiores escritores de canções em português, acaba de lançar mais uma obra, nove anos depois das «Crónicas da Terra Ardente». Chama-se «A Ópera do Cantor Maldito» e é, obviamente, obrigatório para quem gosta da música portuguesa de qualidade)

Publicado por André 20:25:00  

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