acerca da cultura geral

Tambeu eu lí as declarações de Freitas do Amaral a pedir uma disciplina de cultura geral  nos currículos.  Por respeito  não ao personagem, não à memória do mesmo mas à memória da imagem que em tempos tive do professor estive tentado a passar ao lado. Mas já que Francisco José Viegas pegou no assunto talvez valha a pena contextualizar a proposta de Freitas num plano mais vasto.

E esse contexto mais vasto é o contexto do politicamente correcto.

A Freitas não preocupa que o nosso sistema de ensino prepare analfabetos funcionais que achem que Afonso Henriques é o nome de um avançado do Vitória de Guimarães, o que realmente preocupa Freitas, e que está subjacente à sua proposta, é a noção de que o Estado por via da escola, por substituição à família e à Igreja, em maior ou menor decadência, deve incutir nos miúdinhos, qual catequisador, uma série de verdades e axiomas sobre o mundo. A essas verdades e axiomas deu Freitas o nome de "cultura geral". É a nova "Religião e Moral" do politicamente correcto.



É politicamente correcto detestar Bush e abominar Sharon, como é politicamente correcto ver a história do Médio Oriente a preto e branco. É politicamente correcto abominar e descriminar os fumadores (nem que os aumentos estratosféricos do preço do tabaco levem, como já acontece em França, a assaltos a tabacarias a fazer lembrar os tempos da lei seca). É politicamente correcto  defender o consumo de drogas leves, e despenalizar o das pesadas, assim como defender salas de chuto, até nas prisões (pedindo a demissão última do Estado)  mas já é politicamente incorrecto defender pura e simplesmente a nacionalização da distribuição, controlo de qualidade e consumo das mesmas pelo Estado (acabando assim com toda a criminalidade inerente e com o tráfico)

O problema com a proposta de Freitas, como com as propostas politicamente correctas em geral, é que por serem generalistas em demasia e quererem impôr uma certa vontade acabam por minar, em última instância, a individualidade, e o direito ao livre arbítrio e liberdade individual de todos e cada um.

Talvez o sonho de Freitas seja incutir, implantar como no Blade Runner, uma certa visão do mundo quase que de nascença  na memória de todos. Não  é  preciso ter lido o Fatherland  para se saber que uma coisa destas só poderá acabar mal. 

E depois, porquê ficarmo-nos pela cultura geral,  pela memória perfeita? Porque não também genes perfeitos ? ...

Notam um padrão ? eu também ...

Publicado por Manuel 03:32:00  

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