Editorial


O País assistiu ontem com estupefacção a uma série de eventos e afirmações, envolvendo o Sr. Ministro de Estado e da Defesa e também líder do Partido Popular, Paulo Portas as quais nunca passariam pela cabeça de ninguém, mesmo àqueles que mantém vivo o "universo alternativo" que pretende ser este "meta-blog".

Primeiro foi a questão dos submarinos: Com o País mergulhado numa crise económica de fundo, o Ministério da Defesa resolveu "economizar" e comprar dois submarinos (aos contrário dos três inicialmente previstos) "possivelmente" (!) ao consórcio alemão.

Além de saltar à vista a transparência de todo o Processo (recorde-se que e a propósito deste "negócio", o presumível consórcio perdedor chegou ao ponto de editar um suplemento de várias páginas numa das revistas, de referência, de grande-informação da nossa praça a chamar a atenção para as virtualidades do "concurso" para País - tendo em conta que falamos de um Concurso Público, onde o número de decisores é limitado estamos conversados sobre a magnitude das pressões) o anúncio da decisão foi acompanhado de afirmações avassaladoras.

Com efeito "Não podemos esquecer que os submarinos são decisivos para auxiliar o Estado - através da informação e do seu carácter discreto - no combate ao tráfico de droga e imigração ilegal" sublinhava Paulo Portas, Ministro de Estado e da Defesa em conferência de imprensa além de realçar a "inteligência estratégica" que tal aquisição permitirá ao Estado adquirir ...




Mas, vamos por partes, é um facto que Portugal não pode abandonar a sua vocação atlântica, nem deixar de preservar e defender um dos seus maiores activos que é a Zona Económica Exclusiva. Mas, daí a afirmar-se que que os submarinos são vitais vai um grande passo.

Imaginemos por momentos que o Sr. Ministro tem razão e que de aquí a 10 anos as coisas são "diferentes" do que são hoje.

Alguém acredita, sóbrio, sério e na plena posse das suas faculdades mentais que dois submarinos, de um País pequeno farão alguma diferença ?

Num cenário catastrofista, além da inevitável ajuda externa, o único verdadeiro meio de defesa do País seriam meios terrestres, aéreos e marítimos "leves", rápidos e flexíveis i.e. tudo aquilo que os submarinos que se pretendem adquirir não são.

Quanto à questão do combate à imigração ilegal, alguém está a ver os dois submarinos a fazer um "muro" na nossa costa algarvia para evitar uma "invasão" de marroquinos ?

E digo costa algarvia porque no restante da nossa costa a justificação se torna ainda mais absurda ...

Isto para não falar da profusão de informação que pode ser obtida por meios muito mais simples e baratos como a obtida via satélite, via radar ( a propósito porque será que nunca mais há uma rede decente de radares costeiros ? ), etc.

Quanto à questão do combate ao tráfico de droga a questão é muito simples, ou o Senhor Ministro explica cabal e objectivamente como é que dois submarinos podem ser mais eficazes que uma boa rede de radares costeiros e uma frota de lanchas rápidas e embarcações de combate "ligeiras" (frota essa inexistente, vá-se lá saber porquê) no combate ao tráfico ou então estamos conversados ...

À noite fomos presenteados, na entrevista ao mesmo Ministro e líder partidário, conduzida por Judite de Sousa na RTP-1, a um exercício que deve ter feito Goëthe roer-se e contorcer-se todo, onde quer que esteja, pois à beira da demagogia, cinismo e perfídia ontem expostas pelo entrevistado o Mefistófoles de "Fausto" é um verdadeiro aprendiz.






Meio mundo indignou-se porque o euro-deputado Pacheco Pereira comparou no seu "abrupto" o discurso sobre a temática da imigração do Dr. Portas ao de Le Pen, e ontem a "vítima", jurou que não, afinal é um humanista e um democrata-cristão, e explicou porquê.

Assim para ele o problema é que, no passado recente, o número de imigrantes duplicou, e duplicou logo aquí em Portugal, por causa da permissividade do nosso sistema, da facilidade de operação das mafias de leste, etc.

Na lógica cristalina do Dr. Portas se não se puser imediatamente um travão a este fluxo, nomeadamente ao vindo de Leste, o País corre riscos sociais graves já que os imigrantes representam já 10% da população activa (frisando que devem ser mais pois temos ainda os clandestinos)

Convém abrir aqui um parentesis para explicar aos incautos que o Dr. Portas ( tal como em boa medida uma das suas némesis - o Professor Marcelo ) é, sempre foi, um político, e antes jornalista, de salão, e quanto muito também de parques de diversões.

Não há Bem nem Mal, não há "pessoas" (fora claro, as da élite em que ele se movimenta) apenas, e quanto muito, objectivos e objectos de estudo social, o "povo", a "plebe", que deve estar grata por uma vez por outra o Grande Doutor Portas se lembrar dela.

Uma vez é a Lavoura, outra os reformados, outra os ex-combatentes e por aí além. Acontece porém que desta vez se foi longe demais.

O Dr. Portas procurando secar antecipadamente a eventual ameaça que possa vir a ser representada pela "Nova Democracia" do seu antigo protegido Dr. Monteiro resolveu, encapotadamente, eleger como "nicho" eleitoral a "ocupar" uma fatia substancial dos desempregados actualmente existentes.

Ora, essa fatia, que consiste essencialmente em jovens recém-saídos das universidades ( e respectivas famílias), com cursos que não servem rigorosamente para nada (excepto aumentar as estatísticas de licenciados e agradar à OCDE) mesmo quando tem (o que raras vezes acontece) substância científica, sendo na prática uma enorme horde de analfabetos funcionais. "Desempregados" estes que tem canudo e orgulho nele (assim como os seus progenitores) e um canudo é sempre um canudo.

Não interessa ao Dr. Portas, que o grosso, senão todos, dos postos de trabalho ocupados por imigrantes de Leste, o sejam porque os naturais cá da terra ou não se querem "rebaixar" a exercê-los ou pura e simplesmente não tem qualificações.

Não interessa ao Dr. Portas que o País esteja a desperdiçar imbecilmente este autêntico maná que é a "invasão" (sem nada se ter feito por ela) de quadros e técnicos altamente qualificados (que até tem impostos e segurança social em dia - mesmo quando em situação ilegal) como antes já tinha feito aliás D. Manuel I, quando estupidamente resolveu expulsar os Judeus do País, a "mando" dos Reis Católicos, impedindo assim que a Revolução Industrial pudesse ter começado dois séculos mais cedo - e em Portugal - e iniciando a decadência que ainda hoje perdura.

Nada disso interessa ao Doutor Portas porque essa fatia do eleitorado, avidamente disputada por todos os quadrantes, pode ser crucial no futuro em termos eleitorais e se para isso for preciso apelar subliminarmente aos que de mais rasteiro existe como o são os sentimentos xenófobos então que se apele ...





O "humanista" e "democrata-cristão" Paulo Sacadura Cabral Portas que ao afirmar que pretende evitar crises sociais e sentimentos xenófobos sabe muito bem que os está a acicatar porque acha que está a garantir votos, bem pode agradecer a Pacheco Pereira, e ao seu "abrupto", porque Pacheco Pereira errou ...

Portas não é de facto parecido com Le Pen, é parecido na forma, na substância e na intelectual arrogância, com aqueles nacional-socialistas que levaram à queda da República de Weimar, etc, etc ...

Publicado por Manuel 07:00:00  

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