A minha resposta ao postal do Abrupto

Num pequeno texto, uma súmula de acusações, sem factos; sem argumentos e sem justificações, José Pacheco Pereira aviltou este blog. Com uma pequena bolsa de opiniões baseadas em preconceito e, pior, juízos de valor que a si mesmos se definem.

O capo do corpo de delito é o “anonimato” num blog “político”. O que é um blog “político”? O que se dedica à causa da política em sentido lato de, como agora se diz, cidadania? Os jornais e media em geral, são “políticos”, neste sentido? O Expresso e o Público onde José Pacheco Pereira escreve crónicas sobre política geral, são-no? Para bom entendedor, passemos então à frente…ou mais atrás um pouco.

Sobre o anonimato, vou dar de barato que a discussão já estiolou nos argumentos essenciais. Se José Pacheco Pereira não os apreendeu, ainda vai a tempo. Basta googlar umas tantas palavras e fica esclarecido sobre o valor e desvalor do uso de pseudónimos para assinar escritos. Particularmente, tenho a dizer que conheço nos blogs com maior divulgação e noutros que nem tanto, gente suficiente para testemunharem a minha identidade- quem sou; o que sou e o que faço, onde e quando- para o bem e para o mal. Se isso não for suficiente…tenho mais um argumento: não preciso de revelar o nome para acrescentar valor ao que escrevo. Não ganho a vida a escrever…e isto é mesmo uma insinuação, pode estar certo, agora.

Quanto ao demais, sugiro-lhe a leitura deste postal que publiquei em 4. 9.2005, de crítica a Vital Moreira e no qual concentro a minha atitude ética no blog e no qual publiquei, mais uma vez o endereço de email e pedi a um energúmeno que aí me insultou que o fizesse pessoalmente. Até hoje… Além disso, como toda a gente sabe, este blog tem caixa de comentários onde qualquer visado se pode defender e…atacar. O Abrupto não tem. E não é anónimo.

Passemos à questão oculta e insidiosa dos escritos na “perspectiva corporativa ocultada”. O que é uma perspectiva corporativa? A que é apresentada a partir do interior de uma corporação e secundando os presumidos interesses dos seus membros?

Vejamos, o que José Pacheco Pereira quer referir, sem mencionar expressamente, insinuando portanto, é que aqui os meus escritos estão ao serviço da causa de uma corporação que no caso poderia ser a dos magistrados. Bem, poder, podia. Mas como os escritos estão aí, podem sempre sindicar-se para lhes topar esse perfil maldito, que o inquisidor aqui lança ao público.

O teor das inquisições várias, ao longo dos tempos, tem todas este mesmo perfil. Desde o tempo medieval até aos modernos, as acusações mais graves contra alguém e que levam à eliminação social e muitas vezes individual, são geralmente acusações desse tipo. Para não atrasarmos muito o relógio do tempo, no tempo de Salazar, dizia-se que alguém não era da situação e estava tudo dito. Redizia-se que era subversivo e ia parar com os costados ao Aljube ou à António Maria Cardoso.

Ainda no tempo em que José Pacheco Pereira conhece muito bem e anda a historiar, numa outras perspectiva oculta, dizia-se que alguém era fassista e estava o assunto arrumado. Agora diz-se que é corporativo e é caso assente para remessa expedita ao desprezo argumentativo. Nem é preciso explicar o significado da palavra, pois o significado preciso e querido já lá está. E é pena porque já tenho visto escritos a denunciar precisamente esse uso da linguagem típica do autoritarismo de todas as ditaduras e pretensos ditadores. Citar a seguir e neste contexto, “as liberdades”, só por distracção.

Defender uma interpretação das leis num sentido ou noutro, é defender necessariamente e sempre, interesses corporativos de magistrados? Defender posições de princípio, com menção expressa a esses mesmos princípios, -ao contrário de José Pacheco Pereira que se refere amiúde à “liberdade”, “democracia”, “demagogia”, etc , como termos suficientes de justificação e explicação de opiniões- é ser corporativo?

Defender um grupo de profissionais do foro, no caso a magistratura em geral, quando foram atacados publica e notoriamente por um ou mais governantes, apodados impúdica e impunemente de privilegiados com objectivo conseguido de aviltamento, é defesa corporativa? E mesmo que o fosse, de onde vêm o mal? Da defesa em si mesma? ? Não é admissível?!

Por exemplo, Paula Teixeira da Cruz, que o tem feito, quase sozinha na classe política ( no sentido de ser de um partido e exercer cargos políticos), também é “corporativa”? Em 17.9.2005, antes da greve dos magistrados, defendeu-se aqui mesmo , neste blog, uma posição totalmente oposta à greve que se adivinhava. Corporativismo, isto?!

JPP defendeu-os, alguma vez ? Não me parece! Concordou com o Governo e atirou mais achas para a fogueira. Qual é então a sua perspectiva de classe? A dos políticos? JPP é um membro da classe política, no sentido apontado. Acharia correcto que se escrevesse que as suas opiniões escritas no blog e jornais e media, são a “perspectiva corporativa ocultada”? Faço a justiça de pensar que não será assim, embora com muita benevolência, face às evidências.

A questão fundamental, neste assunto é esta:

Acha ou não que há uma guerra entre poderes do Estado, particularmente entre o poder judicial e o legislativo/ executivo? As evidências estão aí, para serem analisadas. Fazê-lo, apontando episódios dessa luta, denunciando as intromissões de um poder noutro, é perspectiva corporativa ocultada? Apontar as evidentes incongruências argumentativas, por exemplo de um Vital Moreira, constitucionalista, ex-juiz, ex-deputado, professor, político e blogger, é necessariamente um reflexo “corporativo” se ele ataca injustamente um grupo profissional? E que dizer da atitude de Vital Moreira? É a perspectiva de quem? Dele próprio, só?

Seria, talvez, se não víssemos depois as nomeações, recomendações e condecorações. O poder agradece os seus serventuários, como José Pacheco Pereira sabe- e muito bem. Aqui, nos meus escritos anódinos apenas pretendo mostrar o que me parece criticável nessas várias perspectivas, partindo de bases argumentativas que procuro justificar, ao contrário de José Pacheco Pereira e mesmo de Vital que se bastam com os argumentos baculinos, muitas e muitas vezes.

Fará algum sentido criticar e apodar de “corporativos” os argumentos que se contrapõem aos dos que os criticam e se situam na área dos criticados?! Fará- se os próprios entenderem situar-se no campo da discussão dos poderes do Estado, tomando partido por um lado ou outro. Mas essa discussão elimina necessariamente a autoridade para se apodar o outro de corporativo e parece-me ser esse o caso.

A questão de equilíbrio dos poderes do Estado, não merece uma discussão alargada? Quem a faz nos blogs? Há alguns por aí e com muito mérito. Alguns são exactamente blogs de magistrados que assumem a sua condição profissional, aparentemente porque acreditam nessa forma de apresentação. É uma opção válida. Tão válida como se o fizessem por pseudónimo, parece-me.

No entanto, há outros blogs que partem de perspectivas diversas e apresentam argumentos que em tudo poderiam ser igualmente classificados de corporativos. Os meus argumentos são os de um diletante, apenas. Alguém que apenas aponta as carrapetas aos vitais que se julgam vitalícios e muitas vezes andam nus e a mostrar as misérias. Será de arrogante e pretensioso? Contestem no escrito dos comentários. Há quem o faça.

Em vários postais que escrevi aqui sobre esse assunto, coloquei a tónica no aspecto essencial: a de que o princípio da divisão de poderes do Estado, firmado na Constituição, merece reflexão e que se deve questionar quem no poder executivo tendencialmente pretende invadir campos alheios para lhes cercear direitos e empobrecera democracia, num exercício que pretende justificar o ditado do poder que corrompe e do poder absoluto que corrompe desse modo também.

Ainda não vi José Pacheco Pereira muito preocupado com isso. Mas vi-o com algumas outras coisas de politiquice. Quererá José Pacheco Pereira que lhe venha aqui recordar o que escreveu no tempo do governo de Santana?! Isso que escreveu nessa altura, é o quê?! Exercício de cidadania?

É certo que por cá, neste blog,( mas não por mim, entenda-se) a tónica foi idêntica. Mas há um mundo de diferença entre quem é conhecido na política e dela vive directa e indirectamente e quem procura apenas colocar no ar as suas opiniões, sem interesses ocultos ou declarados. Política por política, é pecado fazer num blog, se não for assinada por nome conhecido? Não me parece, mas é esse o anátema que José Pacheco Pereira lança aqui no escrito.

Não vi José Pacheco Pereira apontar o dedo a certos blogs, como um desaparecido Barnabé, onde se insultou soezmente, com o nome dos autores publicados, o presidente da República aquando de certas decisões que não lhes interessavam politicamente. Vi, sim , aplausos a esse tipo de blogs valorosos que colocam o nome dos autores que depois são convidados para escrever em jornais...entrando no mainstream do politicamente correcto. Nem o vejo apontar o dedo ao Blasfémias, onde um dos autores, presumido qb, anda há meses e meses a chamar ao PR, D. João VI, e outros mimos de calibre pesado.

E vejo agora uma ignomínia grave: José Pacheco Pereira refere uma “mentalidade justicialista arrogante e prepotente”. O que quer dizer “justicialista”? Para melhor compreensão, aponto um exemplo concreto do que a mim me parece ser o exemplo mais perfeito do conceito:

Em Agosto de 2004, uma assessora da PGR, Sara Pina, filha de um ilustre escritor e jornalista Manuel António Pina, do Porto) foi corrida sumariamente da PGR, por terem sido publicadas por um jornal, gravações de conversas que este manteve com jornalistas em que esta, que tinha essa incumbência específica na PGR, se pronunciava ingenuamente sobre aspecto do processo, sem que tal significasse qualquer violação de segredo de justiça, como aliás, se veio a comprovar posteriormente.

Quem fez José Pacheco Pereira então, ao tomar conhecimento do teor das gravações publicadas pelo Independente? Republicou-as! Deu-lhes espaço de audiência pública e aumentou a ignomínia, depois de saber que essa publicação no jornal era a prática de um crime específico.

José Pacheco Pereira escreveu assim no seu blog, depois de transcrever integralmente a gravação de conversas particulares publicadas pelo Independente, republicadas precisamente no blog Barnabé (para ele considerado um blog valoroso, porque nada anónimo...embora nos comentários o teor de muitos deles, faria corar de vergonha um estivador do séc passado):

Esta mulher já está na rua das suas funções ou não? O PGR sabia ou não que a sua porta-voz (a que transporta a voz) falava assim com um jornalista ou não? Porque se sabia, a porta é a mesma. E rápido.”

O que significa isto? Posso dizer que foi das prosas mais violentas que vi escritas em blogs sobre uma situação concreta, visando uma pessoa concreta e o seu assassinato profissional. O autor é o mesmo que agora vem recriminar aos outros um suposto “justicialismo”!

Na altura, escrevi um postal, a dizer que José Pacheco Pereira incorreu em possível prática criminal, no blog. E expliquei porquê, com as razões que podem ser lidas aqui e que se resumem no comentário que coloquei então. O postal começa assim:
“Ontem[ 13.8.2004], o Abrupto de JPP, transcreveu de um outro blog, mantendo no entanto a transcrição na sua integralidade truncada (omitiu a primeira parte que até contextualizava o diálogo), a conversa que o jornalista Octávio Lopes manteve com a assessora de Imprensa da Procuradoria Geral da República, Sara Pina.
É sabido e o Abrupto não podia ignorar que essas conversas que o jornalista manteve com a fonte, estavam sob reserva. O jornalista gravou a conversa e guardou o registo. Há indícios fortes de que cometeu um crime, com essa actuação.

Isto que aqui escrevi então, significa justicialismo de quem? Meu - ou do autor do Abrupto que sumariamente exigiu a demissão e responsabilidades de Sara Pina, (e do PGR, à cola) sem sequer se inteirar dos factos tal como ocorreram e sem querer perceber o que se passou? A verdade é que Sara Pina foi despedida do cargo que exercia na PGR, aparentemente por exigência directa do PR, sem justificação plausível a não ser a da escandaleira artificial amplificada por alguns, entre os quais, inequivocamente se conta José Pacheco Pereira.

Não consta que na minha cruzada justicialista tenha feito tanto estrago pessoal, como a atitude de perseguição pessoal e legalmente injustificada o fez. E contudo, ainda tem a supina lata de acusar de justicialismo! Saberá mesmo o que é isso?!

E que dizer da pedrada seguinte? “O blogue está cheio de insinuações sobre tudo e todos, alimentando uma atitude policial de desconfiança,”?!

Estará tanto assim? Ou antes, estará mais do que aquilo que escrevem nos jornais um Miguel Sousa Tavares; um José Manuel Fernandes e um Eduardo Dâmaso, só para citar os colegas de escrita no Público?! Exigem-se provas a José Pacheco Pereira! Provas concretas do que acaba de escrever, sob pena de passar por uma simples atoarda o que escreveu. Sem valor e a recair nele o peso da ignomínia. E são fáceis de procurar, pois os escritos estão todos em arquivo.

Que vale o facto de se ter escrito aqui sobre os escândalos revelados em primeira mão na imprensa escrita, mormente o da Galp, o dos escritórios de advogados de topo, o caso Eurominas, o caso Pina Moura, com esta simples referência feita por Pacheco Pereira num programa de televisão de grande audiência , ainda em Dezembro de 2005 , relatado no Expresso nestes termos:
“(…) Pacheco Pereira, na Quadratura do Círculo , depois de acentuar o excesso de escutas telefónicas que se fazem em Portugal, virou-se para Jorge Coelho e afirmou:
Você não tenha dúvida nenhuma de que está ser escutado.
Coelho admitiu logo que sim e adiantou que os altos cargos do Estado já contam com isso quando falam ao telefone.
Os jornais divulgam as escutas de políticos com conversas que nada têm a ver com processos investigados.”

Será preciso comparar a gravidades entre ESTAS insinuações que envolvem um universo de milhares de pessoas, entre magistrados e polícias e altos funcionários públicos e as que por aqui alguma vez se produziram?!

Como se escreveu nesta Loja, em Dezembro de 2005, as escutas, e a sua revelação, para Pacheco Pereira têm um valor relativo. Por exemplo, escreveu na revista Sábado , nessa altura sobre o caso de Laurentino Dias que foi apanhado em conversa comprometedora com outro grande do futebol: Pimenta Machado! Diz PPereira que nesse caso talvez seja caso para dar importância ao assunto, dado tratar-se de um secretário de Estado ( na altura não o era, porém). Laurentino Dias é do PS…

Logo, este segredo é menos importante do que outros que atingem os companheiros de luta de Pacheco. É um segredo relativo e o crime já não lesa majestades, mas apenas almocreves. E isso, é assunto de estrebaria, como toda a gente percebe. Como toda a gente já percebeu, “quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré”!

A propósito de mais insinuações sobre tudo e todos, “de insinuações sobre tudo e todos, alimentando uma atitude policial de desconfiança” julgo ter sido suficientemente eloquente sobre quem é o quê.

Compreendo que alguns visados pelo que aqui escrevo, não gostem da Loja. O estilo, agreste e agressivo por vezes, pode não agradar aos mais sensíveis. Lamento. Em minha defesa, poderia dizer que há pior, entre os supostos amigos de José Pacheco Pereira. Cito Vasco Graça Moura, por exemplo que apodou de nomes interessantes alguns adversários, por ocasião das eleições para o sítio onde está. Eticamente irrepreeensível, se calhar, para o Abrupto que lhe publicou poemas nessa altura.

Porém, a José Pacheco Pereira não lhe reconheço qualquer autoridade para escrever o que escreveu. E sinto-me ofendido pelo teor do postal. E assim findo a conversa, deixando escrito que me chamo José. E o meu email é jmvc@sapo.pt. E mais não digo, pois chega e sobra.

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Publicado por josé 19:19:00  

9 Comments:

  1. Fernando Martins said...
    Continuem assim e não liguem - o JPP tem estes "de repentes" que lhe maculam o cérebro mas depois passa-lhe...
    zazie said...
    bravo josé!
    Tonibler said...
    Caro josé,

    Deixem de se armar em virgens ofendidas. O Pacheco não é flôr que se cheire, mas vocês também não nem fazem esforço nenhum para o serem. Então qual é exactamente o problema?

    Fiquem felizes com o facto do blog do Pacheco ser uma seca e ninguém ler aquela porcaria.
    Carlos Monteiro said...
    Vocês e o JPP devem combinar isto para dar audiência aos respectivos blogues, não é?
    Cosmo said...
    Vou mandar imprimir Tshirts com a frase

    "Antes blogger anónimo que palerma conhecido!"

    Há compradores?
    Luís Bonifácio said...
    Bravo Manuel!!!
    Isabel Magalhães said...
    Excelente resposta. Adorei!

    E tb concordo que o blog do Pacheco é uma seca. Só pasmo como há leitores que lhe 'fazem' o blog.

    Saudações digitais.
    zazie said...
    Pedro Martins Barata,

    «Alias, e curioso que os comentarios ao vosso blog nao possam ser anonimos, mas os vossos postais o sejam»

    Com essa afirmação só confirma que info-nabos há-os por todo o lado, não apenas nos tribunais.

    Olhe, eu estou a comentar registada e então como é? sou anónima ou não anónima?

    O registo é igualmente válido para quem tem blogue como para quem comenta. O que é detectado é o IP não é a versomilhança do nome e apelido ou o facto de aparecer na tv!

    Qualquer pessoa pode registar-se no blogue com o nome que lhe apetecer. O facto de haver comentários com necessidade de registo serve apenas para se evitar que os não registados se apropriem do nome, ou nick e enderço de outrem.
    zazie said...
    endereço

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