o nível dois

Eu e outros dissemos já que um desembargador que costuma exprimir pensamentos rápidos sobre assuntos judiciários, deveria pensar duas vezes, antes de emitir opiniões polémicas e de discórdia segura, porque se arrisca a ser criticado na praça pública da escrita. Quem diz o que quer, ouve o que não gosta, costuma dizer o povo.
Manuel António Pina, numa crónica na Visão, apodou o desembargador de “queirosiano”.
O visado pela crónica da Visão, não gostou da graça e escreveu à revista, que publica a carta na edição de hoje. Considera-se injuriado pelo epíteto e na mesma carta, adverte os leitores da revista, que vale a pena agir através do sistema judiciário, “para pôr cobro às diatribes daqueles que sofrem do complexo da última palavra e julgam que são deuses só porque opinam nas páginas dos jornais, das rádios e nas televisões.”

Quem diria que um epíteto tão prosaico e sem qualquer laivo de ubuesco, serviria para anunciar ao cronista da Visão a sua primeira e próxima experiência do sistema judiciário, como arguido?
Pois é o visado quem o adverte, desde já, que " como redobrou a injúria(...) irá, a mal (?) ou a bem, aprender que o sistema judiciário não é tão simples ou simplório como alguns lhe terão dito que era."

Safa!

Publicado por josé 23:56:00  

9 Comments:

  1. contra-baixo said...
    Há dias estiver para comentar a carta que um senhor magistrado escreveu ao Público e na qual, mais coisa menos coisa, se sentia ofendida a sua honra e dignidade. Lia-se o resto da notícia e percebia-se que o agravo não era porque lhe tinham chamado nomes ou acusado da pática um qq crime, mas, pasmei-me, porque o jornal lhe tinha atribuído a autoria de, salvo erro, um acordão redigido por um outro colega.
    Ainda hoje penso porque é que alguém se ofende tanto com uma simples troca de autoria da prática de um acto que o próprio poderia perfeitamente ter praticado, se, tal como o colega, assim o entendesse.
    Carlos Medina Ribeiro said...
    Três regras simples:

    1-Nem tudo o que se pensa se pode dizer.

    2-Nem tudo o que se diz se pode escrever.

    3-Nem tudo o que se escreve se pode publicar.
    josé said...
    De acordo, quanto ao princípio, mas subsiste a dúvida quando ao limite para não se dizer, escrever ou publicar.

    É sobre esses limites que andamos aqui a escrever.

    Não havendo fronteiras objectivas, acabamos por ler coisas destas: o limite será a susceptibilidade particular de cada um. Com uma agravante: não admitem nos outros aquilo que praticam. Considerar insultuoso o ápodo queirosiano significa ter que considerar também assim, o que se escreve de quem tem a última palavra...
    josé said...
    Além disso, o modo como se articula hoje, o crime de difamação e injúria, com ampla margem de aceitação de tudo o que possa constituir ofensa à honra e consideração de quem se sentir como tal, permite que seja quem for apresente queixa, ( em seis meses e com pagamento de taxa de justiça relativamente pesada-2 Uc.s 20 contos antigos e ainda constituição de advogado).

    A discussão da matéria crime, depois, passa para a esfera do ofendido e do arguido que obviamente, só com o magnífico funcionamento da máquina judiciária já leva um castigo de monta, mesmo que nenhuma culpa penal tenha.

    Há um campo de manobra na convivência social de quem escreve coisas sobre os outros e sobre as opiniões dos outros e sobre assuntos de sociedade que deveria ser muito alargado e definido como terra de ninguém.
    Quer dizer, quem escreve em público ou dá opiniões que muitas vezes contendem com outras e que até são insultuosas para a inteligência alheia, deve aceitar o custo de outrém contrapor opinião contrária e que possa ser contundente para a consideração.

    De contrário, estaríamos sempre à pancada virtual e com reflexo numa raiva pessoalizada.
    É isso que acontece quando vejo alguém brandir a ameaça de processo crime contra opiniões de que não gosta e entende que atingem a elevada consideração de quem se julga intitulado a tal.

    Parece-me ser o caso flagrante.
    josé said...
    Continuando a apreciação:

    Muitas vezes quem se queixa criminalmente de algo que aponta como susceptível de ofensa à consideração, fá-lo, não porque entenda que está ofendidíssimo, mas apenas como retorsão, como vingança para desforço da putativa ofensa.

    os tribunais acolhem de bom grado estas situações, considerando gravemente que a ofensa merece toda a atenção e declarando do alto da tribuna da lei, a suprema justiça que equilibra o prato para o ofendido.

    Enfim.
    josé said...
    Ainda gostaria de ver com é que os tribunais se desunhavam se alguém viesse argumentar que a queixa era uma mera retorsão, que em si mesma constituia ofensa semelhante ou maior que a que a determinou, etc etc.

    Porque é efectivamente isso que se passa em alguns casos e nunca vi ninguém ser confrontado com isso.

    No entanto, a justiça que é cega e tem que pesar os prós e contras, e ainda aferir dos pesos, contrapesos e do que afinal coloca nos pratos, é muito refractária a estas subtilezas.
    Bruder said...
    Este José muita vontade tem de argumentar!Argumentar-se, diria.Lá está ele frente ao tal muro branco imaginando elefantes brancos.Ou serão cisnes? Grande José!! Pena não seres o tal de Pombal.
    josé said...
    Tens razão, bruder. Mas não sei o que vens aqui fazer. Espreitar?
    José Leite said...
    Grande juiz! Este país está entregue a maia-dúzia!...

    Vejam o meu recente post "CHICO-ESPERTISMO"!!!

    Se calhar vou ter mil-e-um processos judiciais, são tantos os visados, tantas as "injúrias" e os "insultos"... imaginem que até a EVA (sim, essa, a nossa mãe primeira!) tem motivos (e bem fortes!) para mre mover um processo-crime!!!

    ESTOU CHEIO DE MEDO!

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