editorial

Andam por aí umas alminhas piedosas a insinuar que os 'donos' dos blogs, mas só os dos blogs, são não só responsáveis pelo que escrevem como, pasme-se, por tudo o que neles é dito pelos leitores, em forma de comentário, nesses mesmíssimos blogs.

A tese não sendo nova, muito menos original, peca pela mais elementar irrazoabilidade, pela mais elementar das razões - Um boato, um insulto, uma ignomínia, uma barbaridade, um disparate, ou o que quer que seja, não desaparece por ter sido apagado de um qualquer blog, antes pelo contrário, 'cresce' no seu estatuto. É preferível deixá-lo a marinar, reduzido à sua insignificância, e contextualizá-lo, na hora e no local, e no mesmo espaço. Não o fazer, é alimentar tabus, e, isso sim, credibilizá-lo na lógica do 'você sabe que eu sei que você sabe do que eu estou a falar mas não me dá jeito escrever'. Tudo isto, para além do facto de que a implementação em toda a linha de qualquer espécie de censura prévia é - antes de mais - um insulto à esmagadora maioria dos leitores, já que assume explicitamente que estes não tem o mínimo dos mínimos de discernimento...

Aliás, a história, e os factos recentes, provam que um insulto ou um boato são muito mais facilmente (reb)atidos, depois de postos na 'prancha'. Um 'artista' qualquer que materialize na 'net' ou noutro sítio qualquer um boato ou uma falsidade 'materializa-a' - torna-a não só rebatível como, por definição, a limita a um dado âmbito, por outro lado, responsabiliza-se e, expõe-se, ao ridículo potencial.

O que moi, e roi mesmo, são as meias verdades, e meias mentiras, os tabuzinhos que não se assumem, não se escrevem, mas que se sopram ao ouvido e que andam por aí. É isso que moi, isso e o facto de não se saber - quando 'convém' - distinguir entre o que é notícia - logo baseado em factos - e o que não é.

Dito isto, é perfeitamente lógico e natural que as maiores confusões surjam logo nas cabecinhas pensadoras de alguns políticos, e de alguns jornalistas.

Nas dos políticos porque estes perderam, desde há muito, o contacto com a realidade, preferindo descrevê-la não como ela é, mas como gostariam que fosse, na qualidade de únicos e exclusivos intérpretes dessa mesma realidade.

Nas dos jornalistas porque aqueles, enquanto classe, desde há muito perderam a noção do que é notícia, e facto, e do que é outra coisa qualquer. Aliás, ainda por estes dias vimos, em sede de tribunal, um proclamado jornalista - com carteira profissional e tudo - a esquivar-se a apresentar um facto tangível que fosse, fundamentando todas as suas 'convicções', que se resumem a insultos à inteligência de muitos, na sua análise empírica da matéria, reduzindo a verdade e a mentira a um estatuto de fé, e crença, do domínio do religioso.

Vivem todos num mundo onde a verdade e a mentira, a realidade da efabulacão, mal se distinguem, e do qual se sentem todos, cúmplices, como absolutos guardiões. No fundo, sentem-se felizes como sentiam os coronéis da 'censura prévia' do antigamente, no seu pequeno poder de ditar o que aconteceu, ou deixou de acontecer, como se só eles pudessem saber, só eles tivesses discernimento e bom senso. Basta passar os olhos por um qualquer edição do flashback - na SIC Notícias - atentar nos olhares, nas meias conversas, nos sorrisos e olhares para se perceber como eles se sentem felizes nesse seu papel que veêm como exclusivo.

E mais uma vez lá me vem à cabeça um livro de Umberto Eco, bastante conhecido por sinal, O Nome da Rosa. Lá um velho monge assassinou uma boa parte dos personagens impreparados para perceberem uma obra perdida de Aristóteles - sobre o Riso. Só os ungidos é que estariam preparados para ler o Mestre. Crueldade das crueldades, Eco quis que o velho monge - guardião da ortodoxia, e o único com acesso ao tesouro, o único exemplar, fosse cego.

Publicado por Manuel 10:45:00  

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