mais um boato, o sol e a peneira
domingo, fevereiro 19, 2006
José António Cerejo, hoje no Público, sai-se com mais um 'boato' a propósito do caso Eurominas. Escreve que 'a intervenção do gabinete do ex-ministro António Vitorino junto da banca, em Dezembro de 1995, foi determinante para evitar a falência da Eurominas e fazer com que ela sobrevivesse até receber a indemnização de 12 milhões de euros que lhe foi atribuída pelo Governo em 2001.'. Formalmente é um boato, afinal estes factos parecem desmentir categoricamente o que António Vitorino, presume-se que sobre juramento, foi dizer à comissão parlamentar de inquérito sobre o caso Eurominas, onde afirmou que nunca teve nada a ver com o assunto seja como governante seja como sócio de uma certa sociedade de advogados, representante da Eurominas. Um 'boato', portanto. Em Novembro de 2005, não só mas também a propósito da Eurominas, escrevia por aqui isto...
A propósito da peregrina ideia recentemente anunciada por Rui Rio de apenas dar entrevistas 'à medida' , assim como da intenção de proibir todo e qualoquer contacto não 'autorizado' por parte de elentos da Câmara Municipal do Porto com a comunicação social, o Rui Costa Pinto não teve melhor ideia do que a de pedir a intervenção da... PGR. Na mesma senda, e a propósito do affair Eurominas, um editorial do Público, o primeiro sobre o tema, também clamava por uma intervenção da PGR, como forma de 'clarificar' os contornos da negociata, não sem antes conceder que provavelmente foi tudo tecnicamente segundo a 'lei'. Já há uns tempos António Costa tinha ficado particularmente feliz com um parecer do Conselho Consultivo da PGR que 'viabilizava' o SIRESP, não por este ter nexo e lógica, não por este ser economicamente vantajoso ou tecnicamente defensável, mas simplesmente porque o governo tinha legitimidade para o fazer. Estes três episódios são um exempo patente da esquizofrenia que consome este país. Basicamente, as pessoas demitem-se das suas responsabilidades cívicas, e delegam em terceiros a responsabilidade de julgar não 'apenas' a violação da lei, que compete aos tribunais, mas sobretudo a responsabilidade de aferir da 'moralidade' de determinadas decisões e comportamentos. Por hipocrisia, por conforto, ou por cobardia, o facto é que muito poucos são consequentes neste país. Eu não quero saber se Rui Rio e o gang 'Eurominas' violaram ou não a lei, não preciso que um qualquer tribunal me venha dizer que aquelas atitudes não são sustentáveis num qualquer estado de direito democrático, porque é suposto eu ter um conjunto referencial de valores que, independentemente da Lei ser violada 'formalmente' ou não, me permite fazer um juízo crítico, e agir consequentemente. Infelizmente, na nossa socieade, parece que já não há o tal conjunto referencial de valores básicos, há apenas um fim - o do salve-se quem puder - e quanto ao resto, a 'justiça' que decida. O pior é que a justiça apenas se deve dedicar a violações estritas da Lei, e não exactamente à 'moralidade' e à ética, e depois mesmo que dedicasse, se mais ninguém na sociedade se preocupa com esta, porque razão é que haveriam de ser os agente judiciais a preocupar ? Num país normal, face a determinado tipo de comportamentos, a condenação 'cívica' viria sempre antes, e independentemente, de uma decisão judicial, mas em Portugal não. Admitamos que formalmente no caso Eurominas todos os formalismos foram 'tecnicamente' cumpridos. Face aos factos conhecidos, face até às recentes declarações de João Cravinho, que é que falta para terminarem as carreiras políticas de Alberto Costa, António Vitorino, José Lamego e demais envolvidos? Não falta nada e falta tudo, desde a coragem, à coerência, passando pela consequência. Ora, no dia em que os senhores jornalistas deixarem de exigir apenas aos outros e passarem também a praticar, talvez as coisas mudem, gradualmente, mas mudem. Até lá, será sempre mais do mesmo.
Ora, era sobre isto que eu gostaria de ver as proclamadas grandes luminárias da nação, como António Barreto, perorar. Lavar as mãos e dizer que a culpa é só do sistema de justiça é simples, demasiadamente simples, mas é tapar o sol com uma peneira. Isto, além de ser uma refinada hipocrisia. O funcionamento deficiente do sistema judicial é tão só o espelho do país que temos, e enquanto este, o país, for assim, enquanto todos andarem a assobiar para o lado e a demitirem-se das suas reais responsabilidades, não se percebe porque é que a justiça há-de ser 'melhor' que tudo o resto...
Publicado por Manuel 17:06:00
Caro Manuel,
Este post fez-me vir á memória o pensamento de um dos maiores cientistas políticos americanos Wright Mills
– Desenvolveu o conceito de elite de Poder que nos diz que a CLASSE POLÍTICA tinha muito pouco a dizer, limitavam-se a funcionar como mera caixa de ressonância e correia de transmissão da verdadeira Elite de Poder (elites económicas, elites sociais etc.)
Cumprimentos,
Antonio Felizes
http://regioes.blogspot.com
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Aprenda a Ler. O que se diz e se escreve é acerca da (inexistência) de consequências (políticas) do que é dito e escrito, seja 'BOATO' ou NÃO. O intróito pretendia ser, quer irónico quer uma provocação. Enfim, demasiado sofisticado para si, ao que parece.
pois é todos os boatos que vocês lançam são só ironias