Justiça, uma história portuguesa (II)

(continuação)

Por estes dias todos acordaram, perante o regresso de Fátima Felgueiras mas... onde estiveram todos, de Pacheco a João Pedro Henriques, este tempo todo ? É fácil, e é barato, criticar - do alto do pedestal - os eleitores, uns incultos e irresponsáveis, por elegerem sistematica e recorrentemente pessoal político da estirpe de uma Fátima Felgueiras, de um Valentim Loureiro, de um Isaltino ou até... de um Alberto João Jardim. É fácil, irresponsável e demagógico. Onde estava os que agora criticam Fátima Felgueiras, e aqueles que a aplaudem, aquando do regresso apoteótico de Pedroso ao Parlamento, no dia da sua 'libertação' ? Onde estavam, e o que disseram então ? Envergonharam-se, porventura ?

O caso Fátima Felgueiras não vale apenas pelo pitoresco, mas vale sobretudo por ser uma síntese de tudo o que está mal, em todas as frentes. Mal na investigação, atabalhoada, mal conduzida, mal, nas múltiplas interferências, documentadas, de múltiplas frentes na mesma (desde os conselhos amigos de um juiz do Supremo Tribunal Administrativo a Fátima Felgueiras, amplamente documentados em escutas, que a PGR decidiu piedosamente e corporativamente ignorar, até à sucessão de pequenos episódios, pequenos incidentes, que, todos juntos, protelaram, sabotaram, desencorajaram o sucesso da investigação), mal, na permeabilidade da justiça, na declarada incapacidade desta em analisar, peritar, em tempo útil, mal na tradicional falta de comunicação/entrosamento entre a PJ e o MP, mal na incapacidade do poder político perceber, desde o início, o que estava em causa.

As pessoas que votarem em Fátima Felgueiras não o farão por acreditar na sua inocência, maioritariamente, fá-lo-ão simplsmente porque, muito ou pouco Fátima fez alguma coisa por elas, e se violou ou não a Lei, para eles isso já não interessa. E não (lhes) interessa porque o que se passou em Felgueiras não é caso único, e não o sendo, só a ela 'queriam' prender... Fátima Felgueiras apresenta-se como um símbolo de resistência a um sistema - político e judiciário - selectivo que - entendem - quis fazer dela um exemplo. Mas, perguntam, porquê ela ? Qual o porquê de não se ter investigado a fundo a Resin, um dos meta finaciadores, com relações com dezenas de munícipios, será que só 'pagavam' a Felgueiras ? Qual o porquê de não se terem levado a sério as denúncias originais que falavam em elaborados esquemas de financiamento... partidário, a nível nacional ? Em Felgueiras ninguém compreende, porque se foi atrás de umas coisas e não de outras, e daí à heroíficação de Fátima vai um passo.


(continua)

Publicado por Manuel 16:52:00  

2 Comments:

  1. Anónimo said...
    Bem dito, sr. manuel.

    Mas aos portugueses o que interessa verdadeiramente é isto:

    Sócrates anunciou uma iniciativa de altíssima importância para os portugueses. O tema desta iniciativa é a educação e a qualificação dos portugueses.

    Em resumo, esta iniciativa ambiciosa, chamada de "NOVAS OPORTUNIDADES", tem por principais objectivos:

    • Fazer do 12º ano o referencial mínimo de formação para todos os jovens;
    • Colocar metade dos jovens do ensino secundário em cursos tecnológicos e profissionais;
    • Qualificar um milhão de activos até 2010.

    Trata-se do mais ambicioso programa em matéria de educação e qualificação que já vi em Potugal desde que nasci, porque pretende recuperar do nosso atraso estrutural.

    É impressionante a pedalada deste Governo! E sem consultorias milionárias dadas aos amigalhaços.... Tudo feito e preparado com a prata da casa.

    É assim, os teóricos limianos palram sobre o sexo do anjos... e a caravana prática do progresso passa.
    Anónimo said...
    O argumento é uma bujarda sem qualificação:

    estão três tipos a praticar um crime, chega um polícia e apanha um deles; os outros fogem; o que é apanhado passa a Herói???

    Haja pachorra para tanto tempo perdido a aturar ideias destas!

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