Patek Phillipe, em ouro, sff

Às vezes, o pior que pode acontecer a quem é roubado e se queixa do roubo é que apanhem o ladrão. A história hilariante, mas profundamente sintomática, do roubo de que foi vítima Isaltino Morais, relatada na última edição do Expresso, devia dar que pensar. Não, pela amnésia de Isaltino, ao não acertar nos valores surropiados (declarou um furto inicial de 600 contos mais tarde corrigido para 5.600 depois de o assaltante, apanhado, ter confessado ter levado valores superiores), não pelo pitoresco. A notícia não é obviamente o roubo, nem sequer a amnésia - que se percebe já - de Isaltino, a notícia é que o dinheiro era de donativos e contribuições, em numerário, para a campanha de recandidatura de Isaltino (o roubo foi em setembro de 2001), a notícia é o relógio Patek Philippe, em ouro, que também foi levado, avaliado entre 1500 a 2000 contos, e que também foi fruto de uma generosa oferta. Isaltino Morais gosta de se mostrar como uma autarca modelo, com métodos e resultados modelo. Será que estas contribuições em cash e em géneros são caso único ? Não, claro que não. Quis o destino que se desvendasse uma ponta do véu. Em cash, sem recibos e actas como no saco azul Felgueiras, sem espinhas, assim paga a sociedade civil o serviço público dedicado de uns quantos cidadãos exemplares. Devia dar que pensar, mas enquanto nos rimos à custa de Isaltino, de Fátima Felgueiras, e de mais um ou outro mais azelha ou desafortunado, o vento continua a soprar, até que haja coragem de mudar as coisas a sério, e não apenas fazer leis simpáticas, para entrar em vigor não se sabe quando de limitação de mandatos... i.e. de fazer uma verdadeira reforma do sistema político e administrativo.

Publicado por Manuel 14:40:00  

1 Comment:

  1. josé said...
    Repescando o dito atribuido por Santana a Mário Soares:

    "Na vida, safa-se quem faz como os gatos que fazem e tapam logo".
    Isto, sendo o cúmulo da chico espertice nacional, diz mais sobre a personagem e sobre o carácter de alguém do que mil discursos de circunstância e de apelos aos valores da solidariedade e da liberdade e a bandeira de esquerda desfraldada para parolo ver e votar, enquanto o chico rega com champanhe francês a vitória sobre as "forças da direita", depois de se lambuzar com os melhores petiscos que se podem encontrar, á vista dos melhores quadros que se podem ver e reflastelado nos melhores sofás, nas melhores casas com vista para o mar e perante a vassalagem dos servos disfarçados de apoiantes!
    Estes valores apropriados por este tipo de republicanos laicos, nada têm a ver com a verdadeira liberdade nem sequer com a autêntica solidariedade que têm raizes cristãs. Têm a ver com o espírito de classe, de casta, de clube, do hedonismo mais patente, do aburguesamento mais claro e com o espírito português do desenrasca, onde as leis são meras sugestões. É pena; é duro dizer isto, mas é assim mesmo. Estão mais próximos do liberalismo selvagem do que pensam e são pessoas dessa índole que derrotam a moral de um país, provocando a anomia rompante que se vê por todo o lado.
    É disto que nos preparamos para ter à frente dos destinos deste pobre república?!
    Venha então quem quiser que eu voto de olhos fechados. Pode ser o Tino de Rans! A ética dele deve ser bem superior!

    Quanto ao Isaltino, só não vê quem não quer e o pior cego é exactamente esse...

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