"Não há mais ninguém?"

Ontem, qual Cassandra, Vasco Pulido Valente condoía-se, mais uma vez, na sua crónica no Público, sobre a falta de alternativas no regime. O diagnóstico é, no registo ácido habitual, no geral correcto, mas não na totalidade. E não o é na totalidade porque as culpas não podem ser única e exclusivamente atribuídas aos políticos, essa casta maléfica, mas também, em parte substancial, a uma certa sociedade civil, e intelectualidade, da qual Vasco Pulido Valente é parte integrante e até referência. Vasco Pulido Valente, como muitos outros, só comenta as ideias, de quem existe, de quem está, no limite, e usando as suas próprias palavras, "de quem subiu ou tolerou a mentira, a intriga e uma traiçãozinha ou outra". Vasco Pulido Valente tem, por mera preguiça, uma visão palaciana, e mais ou menos florentina do país, que de tão asfixiante não lhe deixa espaço a alternativas. E assim se chega ao paradoxo - para o sistema, o tal que ele abomina mas que no fundo o venera, só existe, só conta, quem é mencionado, crucificado, por... Vasco Pulido Valente. O autor da biografia de J. C. Vieira de Castro (o sublime Glória, provavelmente um dos melhores livros escritos em lingua portuguesa nos últimos 100 anos) merecia melhor do que ser sistematicamente tomado como um reles barómetro, uma espécie de Contra Informação da imprensa escrita, e no entanto a culpa é só dele, única e exclusivamente dele. A reforma e regeneração do sistema passa e muito por olhar à volta, só existe aquilo de que se fala, pelo que se calhar é preciso começar a falar de mais coisas, e mais alto, ou... assistir da poltrona resignado. Alternativas existem, resta saber se Vasco Pulido Valente ainda se vê com forças para contribuir e ajudar a reinventar Portugal, ou se se acomodou a uma certa amostra do País que o venera embevecida. As coisas são o que são.

Publicado por Manuel 14:52:00  

14 Comments:

  1. zazie said...
    “que de tão asfixiante não lhe deixa espaço a alternativas.”


    Como é que um historiador e colunista pode impedir a existências de alternativas?

    “tal que ele abomina mas que no fundo o venera”

    Como é que venera?

    “só existe, só conta, quem é mencionado, crucificado, por... Vasco Pulido Valente.”


    Quem são os outros? Não têm voz porque ele a tirou?


    Mas queres que ele ajude a reinventar Portugal (o que quer que isso seja) como? candidatando-se a alguma lista partidária?

    queres ver o VPV na política activa de novo?
    bem podes esperar sentado. Saiu e saiu muito bem.
    zazie said...
    também não percebo porque motivo não se aceita que haja lugar para tudo: coveiros, esperançados, inventores, cabe cá tudo, não?

    o que não faz sentido é contrariar a sua natureza. Ele é bom a deitar abaixo e a fazer história o que já não é pouco porque faz os dois trabalhos de forma bem feita e limpinha.
    Manuel said...
    zazie,

    apesar do calor, e das férias, esforce-se...

    ninguém pediu ao VPV para regressar à política activa, apenas para voltar a fazer aquilo que você mesmo disse que ele era bom "deitar abaixo". Neste momento, e a brincar, a brincar , VPV é ums dos principais sustentáculos do regime, porque não se admitindo revoluções, o seu fatalismo não dá qualquer espaço nem esperança a reformas.
    formiga bargante said...
    Meu caro Manuel

    O problema de VPV não reside no facto de "...assistir da poltrona resignado".

    Reside sim no facto de ele ...assitir da poltrona instalado e bem pago.

    Aliás, no artigo públicado por VPV em 14.6.2005 no jornal Público, tendo como tema aparente a morte de Cunhal, o personagem, consciente ou inconscientemente, abre bem a porta para se perceber das razões para tanta violência na sua prosa politica.

    Puro caso de análise (psiquiátrica, entenda-se).

    Hoje em dia "a reforma e regeração do sistema" já não passa por VPV mas sim, entre outras coisas, por blogues como o vosso.

    Os políticos sabem que VPV é já um cão sem dentes, enquanto que os blogues mordem, e muito.
    zazie said...
    Manel

    apesar do calor, e das férias, esforce-se...

    “ninguém pediu ao VPV para regressar à política activa, apenas para voltar a fazer aquilo que você mesmo disse que ele era bom "deitar abaixo".”
    Neste momento, é ums dos principais sustentáculos do regime, porque não se admitindo revoluções, o seu fatalismo não dá qualquer espaço nem esperança a reformas.”

    Então acha que ele não dá espaço porque deita abaixo por ser fatalista e devia deitar abaixo sem ser fatalista e ao mesmo tempo incentivar os esperançados?

    Manel, o que eu gosto de debater consigo. Já começa a tornar-se lendária esta nossa troca recíproca de piropos.

    O pior é que mesmo esforçando-me muito nunca o consigo acompanhar

    “:O))))


    áh e é muito bem pago, segundo o formiga... pois está claro. Aposto que deve ofuscar o já de si inulrapssável JPC, isto para não falar noutros brilhantes esperançosos que não trabalham a água como os Delgados e quejandos.

    Mas isto de não se usar trela e disparar em todas as direcções é que não se perdoa...

    porque coitadinhos dos esperançados. Se não fossem as críticas contundentes de um franco-atirador letrado e inteligente já tinham endireitado o país.
    zazie said...
    e depois os casos psiquiátricos são sempre muito fáceis de detectar nos outros desde que não se olhe para si mesmo...

    pois maluqinho ou não. Com édipos por resolver ou nihilista a verdade é que tomaram vocês arranjar um guru que lhe chegasse à unha do dedo mindinho
    zazie said...
    do pé, entenda-se
    zazie said...
    mas o Manel com tanto spleen de veraneio esqueceu-se do principal.

    Botar aqui uns nomezinhos da tal quantidade de gente que é asfixiada pelo VPV

    como diz e muito bem o pedro m, é para isso que também servem os blogues.

    Pois dê-lhes o Manel voz. Contraponha à borla e em dose limiana a asfixia desse magnata do Público que anda a matar os nossos talentos.
    zazie said...
    mas não há dúvida que a GL é mesmo um grande blogue.

    mesmo tratando-me com esta cortesia carismática o Manel está tramado comigo. Continuo a fazer publicidade do blogue por tudo quanto é sítio e achar-lhe (a si) imensa piada

    ":O)))
    formiga bargante said...
    Querida Zazie

    Não anda por ai uma(s) dose(s) de Prozac a mais ?

    Tanto esforço, tanto "post", e estamos em Agosto !

    Calma, que a vida não são dois dias !
    zazie said...
    Eu nunca entenderei estes rapazes apertadinhos... palavra de honra. Sabem como é que os vejo quando ficam todos eriçados por uma pessoa postar rápido e em várias janelas? Como aqueles sujeitos que para se sentarem têm de dobrar muito bem o casaquino em 4 e colocar assim em cima da pastinha tudo muito apertadinho para não ocupar lugar. E que depois nunca são capazes de dar um aperto de mão enérgico nem soltar uma boa gargalhada.

    Ò Formiga: qual é o problema? Não vê que eu estou bem disposta e a responder à letra e taco a taco ao que me disseram?

    Se quer debater força se lhe faz impressão não ligue mas deixe-se de finuras apertadinhas que isso nem fica bem “:O)))


    Que é que estava à espera? que o Manel me trate sempre com este habitual tom paternalista para com uma indigente mental e eu dê uns saltinhos e faça umas gracinhas para agradar?

    vocês são cá uns pândegos...
    zazie said...
    uns comedidos é o que são

    ":O))))
    formiga bargante said...
    Querida Zazie

    Boa ! Já temos mais uma rititi !

    Um dia destes, e sempre que tenha alguma folga entre o dobrar da roupinha (Zazie, a roupinha tem que ser muito bem cuidada, que os Armani custam muitos euricos) cá estarei para "falar" consigo.

    Já agora, não estaremos a ocupar demasiado espaço em casa alheia ?

    Beijos
    zazie said...
    beijinhos para ti também,

    não estamos nada a ocupar muito espaço... vê lá mas é se com essas manias do espaço ainda te sentas em cima do Armani

    ":O.

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