Vasco Pulido Valente (quem ?)
segunda-feira, março 28, 2005
Vasco Pulido Valente é, na análise política, incontornável. Retrata de uma forma sádica, cínica e precisa a conjuntura cá do quintal e, facto não negligenciável, faz pensar. O que não quer dizer que tenha sempre razão, ou que acerte sempre. Aliás VPV ilustra bem o facto de ser muito mais simples elencar problemas do que apresentar soluções. Ainda ontem, numa prosa manifestamente infeliz, o cronista a propósito da crise, bem real, das direitas clamava uma e outra vez contra a indigência indigena. Desta vez afirmava "Que num debate sobre a direita, a uns dias do referendo sobre o aborto, e quando se recomenda o "debate ideológico", a Igreja não se mencione é um contra-senso ou uma fuga". Resumindo, e para o grande Vasco Pulido Valente o futuro, quiçá a redenção, da nova direita, estará na religião, à americana. Não se sabe o que diria o VPV, cronista, desta gaffe, do VPV armado ao político mas sabe-se que, graças a Deus, não parece que a Direita vá por aí. Por várias ordens de razão, certas e erradas. Em primeiro lugar porque de todas as vezes que a Igreja se meteu na política mais tarde ou mais cedo se saiu mal, e saiu-se mal porque a mensagem da Igreja Católica se pretende abrangente e inclusiva, da mesma forma qualquer plataforma de direita ganhadora se pretende abrangente e inclusiva sendo que não é líquido que as duas se possam facilmente sobrepor. Por outro lado, e sendo certo que existe uma crise grave de valores, não é de todo liquido reduzir a solução desta a um maniqueismo, que só alienaria, entre os que tem Fé, e os que não tem. Por outro lado ainda e ao contrário do que se infere da prosa de Pulido Valente, pese a influência aritmérica que a Igreja Católica tem no ensino superior, pese a influência operativa implacável da Obra do Senhor, o facto é que esta influência não é orgânica, é apenas instrumental. Goste-se ou não, a Igreja, no Portugal presente, é - apenas - mais um lobby, que é preciso respeitar, nem mais, nem menos. Mais, se a ideia da Hierarquia Católica é (é mesmo?) moldar, ou condicionar, o que quer que seja através da Universidade Católica, então é forçoso afirmar que esta tem sido um rotundo fracasso, e Não é preciso ter ido a uma qualquer festa da Católica para o confirmar. A tropa que sai da Católica, na sua maioria, poderá não ser de esquerda, mas o culto da eficácia, do sucesso, do liberalismo cego e atroz, de um certo fatalismo calvinista, não vai nada, nada mesmo, com a doutrina social da Igreja muito menos com ideologias. Vasco Pulido Valente só tinha a ganhar, de quando em vez, se parasse de separar o mundo, e a vida, em gavetinhas estanques e contíguas. Se olhasse de uma só vez para a mobília toda, e como um todo, talvez descobrisse um outro país. Ganhava ele, ganhavamos nós.
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Publicado por Manuel 14:48:00
Mas alguma vez a igreja deixou de se meter na política...?!
É por isso que gosto de ler o que escreve, porque também escreve bem o português e usa alguns termos esquecidos que depois são repescados por outros( leia-se João Pereira Coutinho), meros diletantes na arte de dar palpites sobre tudo e mais alguma coisa e com pouco ou nenhum interesse, por falta de densidade e peso específico.
O VPV que gosto de ler é aquele que escreveu sobre a indigência mental dos políticos que vamos tendo. Porque essa escrita estimula interrogações e talvez algumas respostas.
Nesta crónica sobre a direita e a Igreja, também me parece que a subtileza vai um pouco mais além do que atirar à cara da direita uma omissão indesculpável.
O que VPV tenta fazer, parece-me, é mostrar que os valores apregoados pela Igreja, não podem dissociar-se da discussão sobre o assunto. E se a direita os defende, não poderá obliterar o papel da instituição, mesmo que tente seguir o princípio de "dar a César o que é de César".
Porém, juntar política com religião, costuma dar maus resultados, principalmente se vêm ao de cima as ideias fundamentalistas. Veja-se o caso do italiano Buttiglioni; veja-se o caso da introdução à Constituição Europeia e veja-se o caso da recente polémica com o padre que defendeu a não-comunhão para certo tipo de pessoas.
O problema mostrado por VPV é o conjunto de várias contradições que uma certa direita, ligada ao CDS, precisa de resolver.
Mas haverá direita, em Portugal?!
Ou o que temos, como direita, é apenas um caldinho de ideias dispersas e fugazes, sem concretização teórica, como já foi apontado por José Adelino Maltez?
Jaime Nogueira Pinto pode considerar-se um teórico da direita?!
É que me parece o único a escrever sobre esse propósito...uma vez que o prof. Martinez ou o prof. Hermano José Saraiva, não contam: gostam demasiado do salazarismo para merecerem atenção!