dois pesos, duas medidas

Ontem, na sequência da entrevistazinha de Paulo Morais à Visão, caía o Carmo e a Trindade. Foi pedida a intervenção da PJ pelo PSD/Porto, e a PGR e o IGAT acharam por bem intervir, não se sabe para quê, já que o próprio Paulo Morais hesitou no diagnóstico, nas suas próprias palavras «há projectos imobiliários que só podem ter sido aprovados por corruptos ou atrasados mentais», e proclamado herói. A propósito dessa entrevista, Miguel Carvalho, da Visão, cândidamente, apela ao civismo das massas, diz ele..

Enquanto cidadãos temos agora mais uma boa oportunidade de fazer chegar aos investigadores todas as pistas e tudo o que sabemos sobre situações que Paulo Morais tipifica. Se continuarmos a cochichar e a falar do que sabemos entre um café e duas de treta, Portugal continuará, isso sim, a ser um País de treta.

Tão lestos a elogiar os «mensalões» dos outros, somos mais rápidos a censurar e a tentar calar quem dá pistas para muitos «mensalões» à portuguesa. Se outros Paulos Morais falarem, mais se saberá e talvez mais se investigue. Até alguém tentar fugir com dinheiro nas cuecas será uma questão de tempo.

Poético
, mas, a não ser que Paulo Morais de facto fale, a sério, em sede própria, a entrevista dele não passou de mais um cochicho. Porque 'pistas', e impressões, praticamente toda a gente tem, e é por o ter que o descrédito do sistema está como está. As pessoas não querem mais que lhes apontem o óbvio, as pessoas querem resultados. Miguel Carvalho contenta-se em que se saiba, e espera que 'talvez mais se investigue' (note-se o talvez) mas, esquece-se que já toda a gente sabe, toda a gente sente, e de, uma forma ou outra, todos já convivemos com isso. Esquece também que o drama não é apenas as coisas funcionarem mal e perfidamente é sobretudo as pessoas não acreditarem na maior partes das veszes que exista sequer uma solução alternativa. Resignam-se. Dito isto, e sendo patentes que há problemas, que se investiguem exemplarmente os casos já conhecidos, até ao fim, e que se debata sem tabús e sem barreiras uma reforma a sério do sistema político e administrativo. Não basta ansiar por homens providenciais, as coisas são o que são, e o facto é que as regras, as presentes regras, convidam à prevaricação. Para terminar, recordo que há uns anos por causa das declarações de uma jornalista, Helena Sanches Osório, então n 'O Independente, acerca do alegado preço de uma vírgula foi convocada, com grande estrondo, até uma comissão de inquérito parlamentar. Hoje, Bárbara Baldaia, do Diário Económico, também ouviu uma conversa. Ninguém vai pedir a convocação de uma comissão de inquérito parlamentar, a intervenção da PGR, ou sequer à jornalista que clarifique a suspeita que lançou sobre todos os políticos. Duvida-se mesmo que Pacheco Pereira, tão lesto da década de 90, quando líder da bancada do PSD, a 'inquirir' Helena Sanches Osório, se pronuncie sobre o assunto. Voltando a Miguel Carvalho, e ao seu apelo, pertinente, ao civismo das massas, estas se calhar estão à espera, à espera que os jornalistas, e basta olhar para o Brasil ou para os EUA, deixem de comprar tudo feito, de estar à espera de um herói providencial que fale em on e apareça com a papinha toda feita, comecem a fazer verdadeiro jornalismo de investigação. Aliás, onde está o verdadeiro jornalismo de investigação em Portugal ? É que se os jornalistas tem medo, como podem esperar que as tais massas não tenham ?

Publicado por Manuel 17:46:00  

6 Comments:

  1. Anónimo said...
    E se a jornalista inventou tudo para se autopromover, como acontece disso todos os dias nos media?

    sr. manuel, já estive em acontecimentos e factos cujos relatos nos jornais não tinham nada a ver com a realidade desses mesmos factos.

    Cautela! Estamos a entrar num período eleitoral!
    Anónimo said...
    Já aqui afirmei ser minha convicção que os municípios foram transformados em máquinas de corrupção, que deixam atrás de si uma esteira de desordenamento urbanístico, de agressões ao meio ambiente, de depauperação das suas populações, de endividamento das gerações futuras.
    Mas tão culpados são os pilha-galinhas que os povoam actualmente, como a Assembleia da República (entenda-se, a gentalha que a povoa e os governos dali saídos) nas variadíssimas composições que tem tido desde o 25/4.
    Porque nada fizeram, nem têm feito, para a mudança de situação.
    Só agora que o problema começa a fazer estalar o verniz partidário e a colocar a nú os podres dos vendilhões do país organizados pomposamente em partidos políticos é que se apressaram a imaginar uma lei de limitação de mandatos.
    Não como forma de melhorar a democracia, mas apenas como forma de manterem o negócio sem correrem o risco de serem descobertos.
    É que lhes importa limitar, isso sim, as consequências negativas para os partidos do progressivo descuido e à vontade nas práticas ilegais e corruptas, originadas pelo excesso de confiança a que prática criminosa continuada e impune conduz.
    Mais uma vez: O problema de Portugal é o modelo de democracia que tem, o qual, aliado à natureza humana, e especialmente à natureza aculturada portuguesa (de chico-espertismo) conduz inevitavelmente à subversão das instituições e à corrupção dos comportamentos.
    Portugal precisa urgentemente de um novo modelo político-partidário e administrativo-político.
    Como também precisa de um outro modelo eleitoral, responsabilizante.
    A democracia portuguesa, na matriz actual, está moribunda.
    É perniciosa.
    É o travão do desenvolvimento.
    Mude-se de paradigma.
    E quem é que pode mudar o paradigma?
    A mudança, por dentro, é pouco provável, não é verosímil, será mesmo impossível (os interesses instalados são poderosíssimos!).
    Resta a mudança operada pela ruptura.
    A humanidade sempre evoluiu pela ruptura e não pela continuidade.
    ...pode ser num 25 de Abril ou noutro dia qualquer...
    Anónimo said...
    A economia pode estar em crise, mas o regime não. Tudo funciona normalmente. Com a burocracia do costume, é certo, mas normalmente. E as reformas profundas de Sócrates estão a mudar o horizonte, para melhor. Um regime democrático como o nosso tem sempre meios de se auto-regular e regenerar, se for o caso. Talvês um jeitinho no sistema eleitoral, para facilitar maiorias absolutas de um só partido, como em Inglaterra e em França.

    Se virmos certos rankings internacionais sobre transparência e corrupção, Portugal aparece bem colocado, no bom sentido, bem acima de alguns países mais evoluídos, como França, Itália, Espanha, etc. Há meses vi um ranking onde Portugal aparecia em segundo lugar entre dezenas de países, logo a seguir aos Estados Unidos. Noutros rankings aparece nos dez ou vinte primeiros lugares.

    Portanto o regime está de boa saúde e internacionalmente assim é reconhecido. E temos uma das imprensas mais livres do mundo (entre as cinco mais livres), segundo a Associação Internacional dos Jornalistas.

    Vivemos, pois, num país decente onde meia dúzia de aldrabões e outros tantos depressivos não representam nada. Nunca precisei de subornar ninguém para o que quer que fosse nem nunca me senti ultrapassado por niguém em termos ilegais ou incorrectos, salvo nalguma bicha de autocarro. E lido com o Estado todos os dias, por fora do balcão e dos gabinetes dos chefes.

    Mesmo a economia tem desempenhos semelhantes a vários países europeus, com mais tradição democrática e com outros argumentos económicos, casos de França, Itália, Alemanha, Holanda, etc..

    Muitos fascistas e estalinistas é que andam a vender esta da crise do regime para ver se inventam um golpe de Estado ou uma mudança brusca que ponha os amigos no poder. Fingidos de democratas, obviamente.

    Portanto, este blog e o texto do xavier, com o devido respeito, devem ser deitados ao lixo depois de lidos. Expressam uma opinião que não tem nada a ver com a realidade do país. País que progrediu mais em trinta anos do que em séculos. E porque foi e é assim o povo escarra nos inventores de crises de regime. Ainda bem
    Anónimo said...
    Pedrinho, o menino disse alguma coisa?
    Anónimo said...
    É pá! O Ministro da vírgula!! Nem a propósito! Ainda me lembro da risada monumental quando foi votada a comissão de inquérito e um deputado assumiu a presidência da mesma. Porque seria? Hein?!? Porquê?!?

    Há gente muito irónica, ou mesmo mázinha...

    Alface
    Manuel said...
    Esta Alface sabe muito...

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