um livrito branco com o top ten
quinta-feira, julho 21, 2005
Campos e Cunha já não é Ministro das Finanças, isto é um facto. Ontem, escrevia aqui que...
Serve esta introdução para dizer que eu não acho que exista qualquer divergência de fundo entre o Eng. Sócrates e o Dr. Campos e Cunha, achando mesmo que o célebre artigo de domingo passado dado à estampa no Público, foi objecto de combinação cirúgica entre os dois.
... facto que levantou comentários por essa blogosfera fora assaz mordazes. Errei, não porque Sócrates não soubesse do artigo de Campos e Cunha, não tenho dúvidas de que sabia, mas porque sobrestimei Sócrates. Horas antes, é verdade, tinha antecipado que Campos e Cunha poderia vir a ser - e vai ser - o carrilho de Sócrates, i.e. vai acabar por lhe fazer, o que Carrilho fez a Guterres, mas - é verdade - não me levei demasiado a sério. Por muito pessimista que seja - e geralmente sou - até ontem, dava algum capital se não de competência pelo menos de vontade ao Eng. Sócrates. Ontem dava, hoje manifestamente não dou como ninguém dá.
Mas, vamos por partes...
Alguém imagina realmente este governo tão mau, tão mau, mas tão mau, que cada um diz o que quer e o que lhe apetece sem dar cavaco prévio ao Primeiro-Ministro ? Alguém imagina que quer Campos e Cunha, quer Freitas não tenham dado pelo menos uma palavra prévia a Sócrates, informando-o a nível macroscópico, pelo menos do teor das suas declarações ?
Depois vem a enchurrada do revisionismo moralista com efeitos retroactivos, pelos habituais urúbus do regime. Aqui antecipa-se que Campos e Cunha já estaria demissionário desde que o dia em que Sócrates anunciou que o Governo iria legislar no sentido de impedir a acumulação do vencimento de ministro com outras remunerações (no caso, a reforma do Banco de Portugal), mas porque não desde a primeira reunião do Conselho de Ministros ?, aqui e aqui zurze-se em Campos e Cunha por manifestar reservas quanto à Ota e ao TGV já que estes projectos estão consignados no Programa do PS sufragado nas últimas legislativas pelo que automaticamente Campos e Cunha teria é de assinar de cruz. Esta última tese, peregrina, leva os autores - se se dessem ao trabalho de ser coerentes - a questionar automaticamente o aumento das impostos, que não me lembra de ter sido prometido, ou, se calhar, a promover Campos e Cunha a vilão já que só falta mesmo dizer que os implentou à revelia de Sócrates ... Depois, há uma outra tese, neo-realista - de sabor italiano - que culpa Campos e Cunha por não (se) ter aguentado, porque seria melhor dentro que fora, sendo que o azelha acaba por ser ele por não (saber) ser político.
Acontece que quem tem que ser mesmo político e dar a cara não era Campos e Cunha, era José Sócrates. Foi em Sócrates, e no tal Programa de Governo - que subitamente deixou de ser vago e aéreo, que as pessoas votaram, não ?
O que ontem aconteceu é que um ministrozeco de terceira categoria não se limitou a ultrapassar Campos e Cunha, Mário Lino ultrapassou mesmo Sócrates, que até então sempre tinha tido o cuidado de "prometendo" a Ota e o TGV ir dizendo que as verbas inicias eram só para estudos.
É fácil dizer-se agora que Sócrates entre Campos e Cunha e o PS, e os investimentos, escolheu estes últimos. É fácil e até será verdadeiro. Resta saber se um destes dias não se vai é descobrir que Sócrates não quis ter escolha. A Ota, esta Ota, foi imposta a Sócrates, e Sócrates deixou.
Eu já nem quero discutir quanto custa, ou para que serve, bastava-me no imediato um livrito branco com o top ten dos principais beneficiados com tal empreendimento.
Riam-se, riam-se do mensalão.
Publicado por Manuel 16:34:00
2 Comments:
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Estamos portanto fritos: Afinal o Sócrates não é tão inteligente como você o pintava...
Retiro então os louvores que dei ao Nosso Senhor!