O debate de ontem...O (des)governo de amanhã
sexta-feira, fevereiro 04, 2005
Grande maioria dos portugueses, da comunicação social e ao que parece de alguns membros das máquinas partidárias, parecem estar realmente interessadas em quem ganhou o debate de ontem, em vez de pensarem que daqueles dois candidatos, um será o próximo primeiro-ministro de Portugal.
E isso sim é preocupante.
Preocupante a quantidade de inverdades que foram ontem jogadas para a praça pública, sem o mínimo de coerência e consistência, fazendo lembrar o barro que se joga à parede . E aqui verdade seja dita, Sócrates ganhou por maioria absoluta.
Inverdade, a questão da co-inceneração. Hoje existem na Europa e no Mundo, sistemas de eliminação de resíduos orgânicos, muito mais eficazes do que a co-inceneração e o modelo que hoje temos em vigor.
Inverdade, o facto da recessão da economia portuguesa ter começado, com o governo do PSD, liderado à época por Durão Barroso, e pelas suas medidas contraccionistas. Já no longíquo ano de 2001, Pedro Solbes, à altura comissário europeu, afirmava o seguinte...
From 1999 to 2001, according to the revised data, the government deficit increased from 2.4% to 4.1% of GDP.It can therefore be concluded that the deficit in 2001 did not result from an unusual event outside the control of Portugal, nor did it result from a severe economic downturn
E ontem assistimos ao renascimento do pior do guterrismo. A tentativa demonstrada em "chutar" para a dívida pública, tudo aquilo que não for possível pagar. E José Sócrates, afirmou que afinal aquilo dos cartazes, não são promessas são objectivos, no fundo, é uma questão de semântica. Mas foi mais longe, ao afirmar aquilo que por aqui já escrevi em tempos, e que acontecerá.
Aliás, nós já o fizemos no passado. Basta olhar para os governos do Partido Socialista e nós, em menos tempo, já recuperámos mais do que 150 mil postos de trabalho.Na função pública, faltou obviamente dize-lo.
Inverdade, o facto do PS afirmar que se vão reformar 150.000 funcionários públicos nos próximos 4 anos. Os dados oficiais apontam para números na ordem dos 10.000 de reformas na função pública nos próximos 4 anos. Ora para os 150.000, faltam 110.000 que ninguém explica como serão obtidos para o tal objectivo/promessa.
Não sou adepto de heranças. O Governo do agora sério Durão Barroso, e na pessoa da Dra. Manuela Ferreira Leite, consolidou e apertou, porque de facto, tinha que o ser feito. Durante 6 anos de governação socialista, em que o país viveu momentos de crescimento económico e níveis de emprego eufóricos, não foram tomadas medidas de contra ciclo, capazes de suster o défice. E isto é um facto indesmentível.
Da mesma forma que é indesmentível que o Governo de Barroso, e os 4 meses de Santana Lopes produziram erros, alguns bem graves. E aqui perdoem-me aqueles que hoje cantam vitória dos dois lados da trincheira, mas a missão de um governo, é não cometer erros, e o país não se compadece com discursos de plástico, e com frases feitas de necessidade de estudos para reestruturar a segurança social, pois se o líder da oposição tem dúvidas sobre o Estado da Segurança Social, então está a leste de tudo.
Preocupante o renascimento do guterrismo em toda a sua extensão que assistimos ontem. Preocupante sabermos que a Petrocer já negoceia com o PS a permanência na Galp Energia, quem sabe nos mesmos moldes que a Petrocontrol saiu.
Preocupante, a escassa alternativa que o PPD/PSD nos mostra, e que com outro discurso, outras pessoas rodeando outro líder poderia ganhar facilmente as eleições.
Preocupante não termos ouvido falar da forma como se pretende pagar a dívida das fármacias, ou de que forma funcionarão as parcerias público-privadas. De como se pretende impor um sistema SCUT que custará no quadriénio 2011-2015 mais 750 milhões de euros aos cofres do Estado, ou na mesma linha de quanto custará entre indemnizações e expropriações para praças de portagem, colocar novamente portagens.
Preocupante, não termos ouvido uma palavra sobre educação. Gastamos o mesmo - em percentagem do rendimento per capita - que os países da OCDE, mas somos aquele que possuí níveis de iliteracia e taxas de abandono escolar mais altas dentro da mesma OCDE. Precisaremos então de mais dinheiro ou de melhor dinheiro? E o cheque-ensino como forma alternativa de financiamento do ensino, invertendo a lógica de despesa fiscal do contribuinte, para mais receita fiscal no Estado ?
Depois, caro Rui, o problema não é ser difícil a Sócrates fazer melhor que Barroso ou Pedro Santana Lopes.
O problema ou melhor a sua obrigação é fazer, e bem. E isso pelo discurso de ontem, não se vislumbra que seja possível.
Publicado por António Duarte 17:52:00
Apoio tudo o que escreve neste post...
Retive do que disse Sócrates o argumento de ser necessário fazer estudos rigorosos antes de mexer na S S, porque os últimos datam do tempo de Guterres.
Feitos esses estudos nada serám provavelmentem feito, visto que se aproximarão as eleições de 2009.
Se o PS as ganhar novamente, será provavelmente necessário fazer novos estudos porque estes estarão talvez desactualizados...
Em 2013 valerá o mesmo argumento para os estudos que se prevêem imprescindíveis para 2009...
Em 2017.......... etc etc etc
E eu prefiro sempre aprender.
Talvez as minhas expectativas em relação à "prestação" de Sócrates e às suas políticas fossem um pouco mais baixas que as da maioria das pessoas. O que deveria ser uma boa proposta política do PS estou eu farto de dizer no Adufe. O que nasce torto, às pressas... Já com Barroso acontecera o mesmo...
O PS, ou qualquer outro partido, nunca deveriam chegar a eleições mal preparados, cheios de pressa, com o debate interno concluido e sem uma palavra segura sobre o país. Essa crítica, como disse, Zazie está feita. Hoje, 4 de Fevereiro de 2005, acho que já vimos o máximo que vamos ver quanto a concretização/definição de propostas credívies por parte dos candidatos. Hoje é um bom dia para escolher, para decidir em quem votar. Não com base no que deveria ser, mas naquilo que temos. Até para o crítico tem de haver um momento em que terá de decidir perante o que lhe propõem (nem que seja não votar). E essa escolha, neste momento, para mim, é sem sombra de dúvida entre o mal menor e apenas no campo da esperança passa por uma ligeira crendice em que o trabalho de Sócrates se possa aproximar de um bom trabalho. O que deveria ser? Pois deveria ser bom e isso deveria ser relativamente claro já hoje, pois é. Mas não é. E perante isso, que fazer?
Eu pago para ver a maioria absoluta do PS e depois cá estarei, se se justificar, para criticar/apoiar e contribuir para preparar algo de jeito, melhor do que aquilo que se nos oferecer.
Salvo eventos extraordinários, quem tem dois dedos de testa já sabe que opinião ter sobre o que hoje tu e ontem muitos outros escreveram para desmascarar os mitos de alguns políticos.
Está na hora, de apesar de tudo, escolher e dar um empurrão à democracia que temos.
Tendo o PS fortes insuficiências no seu projecto, não é culpa que o seu, seja hoje o melhor que há na praça pois não António?
Ehehhehehe