O debate de ontem...O (des)governo de amanhã

Grande maioria dos portugueses, da comunicação social e ao que parece de alguns membros das máquinas partidárias, parecem estar realmente interessadas em quem ganhou o debate de ontem, em vez de pensarem que daqueles dois candidatos, um será o próximo primeiro-ministro de Portugal.

E isso sim é preocupante.

Preocupante a quantidade de inverdades que foram ontem jogadas para a praça pública, sem o mínimo de coerência e consistência, fazendo lembrar o barro que se joga à parede . E aqui verdade seja dita, Sócrates ganhou por maioria absoluta.

Inverdade, a questão da co-inceneração. Hoje existem na Europa e no Mundo, sistemas de eliminação de resíduos orgânicos, muito mais eficazes do que a co-inceneração e o modelo que hoje temos em vigor.

Inverdade, o facto da recessão da economia portuguesa ter começado, com o governo do PSD, liderado à época por Durão Barroso, e pelas suas medidas contraccionistas. Já no longíquo ano de 2001, Pedro Solbes, à altura comissário europeu, afirmava o seguinte...


From 1999 to 2001, according to the revised data, the government deficit increased from 2.4% to 4.1% of GDP.It can therefore be concluded that the deficit in 2001 did not result from an unusual event outside the control of Portugal, nor did it result from a severe economic downturn


E ontem assistimos ao renascimento do pior do guterrismo. A tentativa demonstrada em "chutar" para a dívida pública, tudo aquilo que não for possível pagar. E José Sócrates, afirmou que afinal aquilo dos cartazes, não são promessas são objectivos, no fundo, é uma questão de semântica. Mas foi mais longe, ao afirmar aquilo que por aqui já escrevi em tempos, e que acontecerá.

Aliás, nós já o fizemos no passado. Basta olhar para os governos do Partido Socialista e nós, em menos tempo, já recuperámos mais do que 150 mil postos de trabalho.
Na função pública, faltou obviamente dize-lo.

Inverdade, o facto do PS afirmar que se vão reformar 150.000 funcionários públicos nos próximos 4 anos. Os dados oficiais apontam para números na ordem dos 10.000 de reformas na função pública nos próximos 4 anos. Ora para os 150.000, faltam 110.000 que ninguém explica como serão obtidos para o tal objectivo/promessa.

Não sou adepto de heranças. O Governo do agora sério Durão Barroso, e na pessoa da Dra. Manuela Ferreira Leite, consolidou e apertou, porque de facto, tinha que o ser feito. Durante 6 anos de governação socialista, em que o país viveu momentos de crescimento económico e níveis de emprego eufóricos, não foram tomadas medidas de contra ciclo, capazes de suster o défice. E isto é um facto indesmentível.

Da mesma forma que é indesmentível que o Governo de Barroso, e os 4 meses de Santana Lopes produziram erros, alguns bem graves. E aqui perdoem-me aqueles que hoje cantam vitória dos dois lados da trincheira, mas a missão de um governo, é não cometer erros, e o país não se compadece com discursos de plástico, e com frases feitas de necessidade de estudos para reestruturar a segurança social, pois se o líder da oposição tem dúvidas sobre o Estado da Segurança Social, então está a leste de tudo.

Preocupante o renascimento do guterrismo em toda a sua extensão que assistimos ontem. Preocupante sabermos que a Petrocer já negoceia com o PS a permanência na Galp Energia, quem sabe nos mesmos moldes que a Petrocontrol saiu.

Preocupante, a escassa alternativa que o PPD/PSD nos mostra, e que com outro discurso, outras pessoas rodeando outro líder poderia ganhar facilmente as eleições.

Preocupante não termos ouvido falar da forma como se pretende pagar a dívida das fármacias, ou de que forma funcionarão as parcerias público-privadas. De como se pretende impor um sistema SCUT que custará no quadriénio 2011-2015 mais 750 milhões de euros aos cofres do Estado, ou na mesma linha de quanto custará entre indemnizações e expropriações para praças de portagem, colocar novamente portagens.

Preocupante, não termos ouvido uma palavra sobre educação. Gastamos o mesmo - em percentagem do rendimento per capita - que os países da OCDE, mas somos aquele que possuí níveis de iliteracia e taxas de abandono escolar mais altas dentro da mesma OCDE. Precisaremos então de mais dinheiro ou de melhor dinheiro? E o cheque-ensino como forma alternativa de financiamento do ensino, invertendo a lógica de despesa fiscal do contribuinte, para mais receita fiscal no Estado ?

Depois, caro Rui, o problema não é ser difícil a Sócrates fazer melhor que Barroso ou Pedro Santana Lopes.

O problema ou melhor a sua obrigação é fazer, e bem. E isso pelo discurso de ontem, não se vislumbra que seja possível.

Publicado por António Duarte 17:52:00  

7 Comments:

  1. Anónimo said...
    Venerável Irmão Antonio:
    Apoio tudo o que escreve neste post...

    Retive do que disse Sócrates o argumento de ser necessário fazer estudos rigorosos antes de mexer na S S, porque os últimos datam do tempo de Guterres.

    Feitos esses estudos nada serám provavelmentem feito, visto que se aproximarão as eleições de 2009.
    Se o PS as ganhar novamente, será provavelmente necessário fazer novos estudos porque estes estarão talvez desactualizados...
    Em 2013 valerá o mesmo argumento para os estudos que se prevêem imprescindíveis para 2009...
    Em 2017.......... etc etc etc
    zazie said...
    Há por aqui uma série de detalhes técnicos que não domino, mas por isso mesmo é que dou os meus parabéns ao António. Para mim isto é que é preciso fazer-se num blogue. Propaganda acrítica temos na rua.

    E eu prefiro sempre aprender.
    Rui MCB said...
    António,
    Talvez as minhas expectativas em relação à "prestação" de Sócrates e às suas políticas fossem um pouco mais baixas que as da maioria das pessoas. O que deveria ser uma boa proposta política do PS estou eu farto de dizer no Adufe. O que nasce torto, às pressas... Já com Barroso acontecera o mesmo...
    O PS, ou qualquer outro partido, nunca deveriam chegar a eleições mal preparados, cheios de pressa, com o debate interno concluido e sem uma palavra segura sobre o país. Essa crítica, como disse, Zazie está feita. Hoje, 4 de Fevereiro de 2005, acho que já vimos o máximo que vamos ver quanto a concretização/definição de propostas credívies por parte dos candidatos. Hoje é um bom dia para escolher, para decidir em quem votar. Não com base no que deveria ser, mas naquilo que temos. Até para o crítico tem de haver um momento em que terá de decidir perante o que lhe propõem (nem que seja não votar). E essa escolha, neste momento, para mim, é sem sombra de dúvida entre o mal menor e apenas no campo da esperança passa por uma ligeira crendice em que o trabalho de Sócrates se possa aproximar de um bom trabalho. O que deveria ser? Pois deveria ser bom e isso deveria ser relativamente claro já hoje, pois é. Mas não é. E perante isso, que fazer?
    Eu pago para ver a maioria absoluta do PS e depois cá estarei, se se justificar, para criticar/apoiar e contribuir para preparar algo de jeito, melhor do que aquilo que se nos oferecer.
    Salvo eventos extraordinários, quem tem dois dedos de testa já sabe que opinião ter sobre o que hoje tu e ontem muitos outros escreveram para desmascarar os mitos de alguns políticos.
    Está na hora, de apesar de tudo, escolher e dar um empurrão à democracia que temos.
    Tendo o PS fortes insuficiências no seu projecto, não é culpa que o seu, seja hoje o melhor que há na praça pois não António?
    zazie said...
    “cá estarei” ou “lá estarei” mr. Macabe?

    Ehehhehehe
    Rui MCB said...
    Bute lá Zazie?
    zazie said...
    Não “buto” nada. Vais que ter de ir pelos próprios pés “:O))))
    zazie said...
    tu é que prometeste: " estarei, se se justificar, para criticar/apoiar e contribuir para preparar algo de jeito"ehehehe

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