O fedor do costume
sexta-feira, outubro 24, 2008
Do Sol:
As queixas na ERC, Entidade Reguladora para a Comunicação, contra a sátira dos «Gato Fedorento» ao computador Magalhães chegaram ontem às 50.
«Nunca um programa, no caso, um sketche, recebeu um tão elevado número de cartas a contestá-lo», disse fonte da Entidade Reguladora ao Jornal de Notícias.
As queixas em relação à sátira feita ao computador Magalhães são todas no mesmo sentido: ofensa à Igreja Católica, mais concretamente, ao seus símbolos sagrados.
O sketche 'Louvado sejas, ó Magalhães' imita os rituais da missa, incluindo a entrega da hóstia pelo personagem de Ricardo Araújo Pereira, que na sátira substituí a expressão «Corpo de Deus» por «disco de Instalação».
É neste cenário que se ouve, ainda, um discurso que elogia o computador. Numa das falas, é dito: «Bendito seja Sócrates que nos reuniu em nome Magalhães».
Enfim, é o que os cripto-cómicos sempre almejam: uma qualquer polémica, segura e sem riscos. Supostamente, dá-lhes visibilidade e aumenta o seu valor de troca, no mercado televisivo.
Meter-se com a Igreja Católica, já avisava um velho macaco, é perigoso e comporta riscos, apresentado um exemplo pífio de gozo irrelevante, ocorrido na pré-história das tv´s privadas.
Logo, tumba! É mesmo por aí que vamos, cantando e rindo. O risco, é a nossa profissão; o perigo, é o nosso ofício. E os tempos correm de feição.
Pensando assim, melhor o fizeram, numa espécie de magazine do ultrage, com sobredosagem de conteúdo politicamente correcto.
No fundo, o sketch não passa de uma profunda palermice que provoca de facto o riso, mas pelo efeito oposto: o da irrisão.
Ofender crenças, particularmente as seculares, católicas, em que presumivelmente foram educados os engraçados fedorentos, não passa de uma canalhada, sem qualquer valor senão o de um desafio pueril ao tabu.
Interessante mesmo, como desafio ao politicamente correcto e em modo realmente ultrajante, seria prosseguir a série, apresentando uns pacóvios de djhelaba, a tirar os sapatos para entrar num templo e gozar com os rituais dos aninhados de braços erguidos.
Isso, sim! Mas por aí, nesse arco abatido, é que os destemidos palermas nunca entrarão.
Por outro lado, se isso fosse para levar a sério, sempre se deveria equacionar a lei que temos. E que no artigo 252º do C.Penal, sob a epígrafe de "ultrage a acto de culto", escreve assim:
"Quem:
(...)
b) Publicamente vilipendiar acto de culto de religião ou dele escarnecer; é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias."
É a mesma pena que se aplica a quem anda a conduzir bêbado...e permite também suspensão provisória do processo.
Ah! Já esquecia: e não é preciso queixa de católico algum, porque o crime é público. Tal como andar a conduzir com os copos.
Publicado por josé 12:07:00
Os meus parabéns pelo post José , mesmo arriscando a tê-lo treslido .
Obs : ( digo eu ) os destemidos não foram palermas , antes foram bastante sensatos. É que isto aqui não é a Suécia , onde a Democracia é a Democracia e os Engenheiros são Engenheiros...
Cumprimentos.
Antes 5 cobardes vivos que 5 mortos.
Ou melhor
Antes um processo em mãos que 5 cabeças a voar.
Cena realmente cómica seria a sequência das intervenções de Saramago "antes e depois" da publicação do seu Evangelho Segundo Jesus Cristo.
Desconhecia este Artº 252!
É inadmissível que, num país que se pretende democrático exista um Código Civil com um artigo destes.
Se as caricaturas de Maomé publicadas por um jornal creio que norueguês tivessem sido publicadas cá em Portugal, o desenhador e o Director do jornal iam de cana por um ano ou apanhavam 120 dias de multa.
Eu, que sou ateu, sou normalmente vilipendiado pela hierarquia católica que mistura ateismo com pornografia, prostituição, aborto, crime, etc. (com pedofilia não, pois quem tem telhados de vidro...) e, acho-me no direito de escarnecer dos actos da Igreja Católica assim como os de qualquer outra religião.
Se realmente queremos ser um país democrático, a primeira coisa a fazer é acabar com este artigo do Código Civil!
É do Código Penal. E ainda há mais, para quem escarnecer da bandeira...por exemplo.
Mas se a liberdade de escarnecer deve ser assegurada, também deve ser garantido que essa liberdade, acaba logo que isso implica a violação da liberdade de outros seguirem os cultos religiosos porque acreditam neles.
É uma questão de equilíbrio que não se confunde com a tal mistura que nunca vi a ser efectuada pela tal hierarquia.
Por exemplo, quanto ao sentido de humor, deve haver por aí uma lei qualquer que permita a alguém gozar com a mãe do RAP. Ou com a Fernanda Borsatti ou assim.
Leis, há muitas. Sentido de humor, também. Mas nem todos percebem o alcance.
"Mas se a liberdade de escarnecer deve ser assegurada, também deve ser garantido que essa liberdade, acaba logo que isso implica a violação da liberdade de outros seguirem os cultos religiosos porque acreditam neles."
E a minha liberdade de não ouvir os disparates dos católicos, protestantes, muçulmanos, etc.?
Sim, porque me irrita sumamente os discursos religiosos feitos por aqueles que acham que detêm toda a verdade.
Mas, sinceramente, considero-me um democrata e não pretendo proibir os religiosos de dizerem e escreverem o que, no meu entendimento, são disparates. E isto apesar desses ditos ofenderem a minha sensibilidade.
Posto isto acho-me no direito de escarnecer das crenças religiosas sejam elas de que religião forem. Se alguém fica chocado, paciência, faça como eu faço com os religiosos, não lhes ligo.
Não impeço que ninguém siga a religião que considera válida mas não admito que esses mesmos tentem ditar o que eu posso dizer ou fazer.
Sim, para Portugal se considerar um país minimamente democrático o Código Civil tem de ser alterado!
Quando foi dos protestos dos islâmicos por causa das caricaturas foi uma série de gente de cana por ter queimado bandeiras ou atirado pedras a embaixadas.
Na altura também fiz a mesma pergunta: então como é- a sensibiliade religiosa de cada um não deve ser respeitada e até se chama liberdade de expressão andar a impingir, militantemente nas escolas livros de BD a escarnecer o islamismo, mas uma bandeira é sagrada?
E a resposta que alguns defensores da famosa "liberdade de insulto como prova que a grunhice é democrática" em deram foi esta:
ah, mas o problema não é rasgar-se ou queimar-se um pano- é que esse pano é simbólico.
Tem piada, não tem? Há símbolos com mais valor que outros, para os tais democacas da liberdade de grunhice.
reconheço alguma legitimidade para dizer mal de tudo e de todos, aos anarquistas libertários.
Mas tal corrente nem sequer é preciso encaná-la. Ela dispersa-se por si mesma, na irrisão, no despautério descabelado ou na inconsequência niilista.
Porém, entre alguns acólitos de certas crenças, a legitimidade é outra: dizer mal da religião católia é um must e deve ser aberta e total.
Se for dizer mal do partido ou do clube de futebol ou da puta que os pariu, aí, a questão muda de figura.
É só isso.
PS. E não insista nessa do Código Civil. É do Código Penal que se trata e foi aprovado em 1995, revisto há um ano.
Se fosse gozo com rabinos dava direito a crime de anti-semitismo. E se tocasse em imigrantes era pura xenofobia, com linha da denúncia anónima.
Como é com a Igreja Católica, feita por politicamente correctos do staus quo, é problema de falta de democracia.
"reconheço alguma legitimidade para dizer mal de tudo e de todos, aos anarquistas libertários.
Mas tal corrente nem sequer é preciso encaná-la. Ela dispersa-se por si mesma, na irrisão, no despautério descabelado ou na inconsequência niilista."
Estas frases são espantosas pois mostram um completo desprezo pelas mais elementares regras democráticas.
O problema é só um, independentemente de se ser ou não anarquista ou niilista (by the way, que significam estes termos?), tem-se ou não o direito de criticar e/ou escarnecer da religião ou, melhor, das religiões?
Parece ser este direito que o josé nega...
Claro que também tenho o direito de dizer mal do Benfica ou do Sporting... ou do Porto!
A pretensa defesa do josé é inconsequente.
Quanto ao que a zazie escreveu, é óbvio que eu critico/troço da Santa Madre Igreja tal como critico/troço dos rabinos, mulahs, Dalai Lama, etc., etc.
Esquecemo-nos que em épocas que já lá foram, por cá e noutros países, criticar a Igreja podia implicar até pena de morte, piedosamente administrada da forma mais cruel e dolorosa possível.
Acho que as religiões deviam ter um certo pudor histórico e não atacarem quem as critica...
(correcto, é o Código Penal e não o Código Civil, sorry)
Na índia é que eles gostam de vacas sagradas. E não é por terem lançado uma expedição lunar que deixam de ser terceiro mundistas.
Deixa a religião no lugar dela, entre o harry potter e a alice no país das maravilhas... E ri-te pá. Rir faz bem às artérias. Ficas mais bonito a rir-te
Percebeste mal. Defendo que podem escarnecer de tudo. Até da puta que os pariu...
Mas, porque não o fazem?
TU fazes?
Eu deixo a religião no lugar dela... mas isso não me impede de ficar preocupado quando a vejo a tentar interferir com a minha liberdade!
josé,
Sinceramente não entendi onde queres chegar.
Eu faço o quê?
Ou seja, em modo mais directo, no humor vale tudo?