Banditagem à solta
sábado, agosto 16, 2008
Nem de propósito, sobre estes assuntos que tenho mencionado.
Acabo de receber, há minutos, uma chamada no telemóvel, provinda de um "número privado", no qual o interlocutor-mistério, com voz masculina, me chama de imediato "filho da puta" e me interpeta para chamar o "António" que sabe que está aqui, comigo.
Perante a reacção de estupefacção inicial, ainda balbuciei que não estava aqui nenhum "António" e que desconheço qualquer pessoa com esse nome, que mereça esse tratamento. E adiantei logo que o interlocutor estava enganado no número que marcou de modo errado. "Não estou nada enganado, filho da puta!", foi a resposta. "Chama aí o António, esse cabrão que me deve dinheiro, ó filho da puta!" Assim, nestes termos, de suave educação portuga.
Continuei a tentar convencer o energúmeno que estava redondamente enganado e que nada tinha a ver com o assunto relativo ao tal "António" que nem faço ideia quem seja. Nada o demove, e avança para a ameaça : "Olha ,filho da puta, não queres chamar, mas vou aí e vou-te matar, estás a ouvir ó cabrão?"
E foi assim. Desligou.
O que é que estas coisas significam, no final de coisas? Uma profunda crise na sociedade portuguesa. Uma crise tão grande que por causa de dívidas, eventualmente de pequeno montante, há pessoas que não hesitam em recorrer a métodos terroristas, para ameaçar e amedrontar outros.
Por dívidas e não só. Qualquer diferendo que incomode algumas pessoas, ao ponto de não verem saída airosa, para os que não pagam, incomodam, perturbam, normalmente em âmbito familiar, de amores traídos ou frustrados, leva a coisas destas, hoje em dia, com o maior dos à-vontades.
Quem mandata, fica tranquilo, porque sabe que não subsistirão provas válidas da malfeitoria. O mandatário do serviço, recebe o dele, fica numa boa, e parte para outra, para usar a terminologia apropriada às circunstâncias.
É óbvio que os mandantes, perante a impunidade reinante, derivada da extrema dificuldade processual em provar este tipo de crimes, agem na maior liberdade. Mesmo conhecidos, denunciados e devidamente identificados, negam, porque sabem que a prova, em processo penal e depois de Setembro de 2007, ficou ainda mais fina e difícil de realizar. Não há registos válidos de chamadas que valham perante uma negação dos seus autores. Não há registo de investigação policial que vá muito além da audição dos queixosos e dos denunciados se os houver identificados. O resto, fica para o despacho de arquivamento do MP, normalmente em modo de "choca", a chocar aos milhares por esse Portugal fora, dentro dos tribunais.
O reino da banditagem, pequena e de maior coturno, está a alargar as fronteiras, com a maior das displicências e impunidade.
Mais uma vez, o Pathos, está todo a favor. As leis e práticas policiais, não podiam ser mais favoráveis e temos um país à beira do caos, na segurança básica dos cidadãos de certos locais. Nos outros, é isto que aí fica.
Acabo de receber, há minutos, uma chamada no telemóvel, provinda de um "número privado", no qual o interlocutor-mistério, com voz masculina, me chama de imediato "filho da puta" e me interpeta para chamar o "António" que sabe que está aqui, comigo.
Perante a reacção de estupefacção inicial, ainda balbuciei que não estava aqui nenhum "António" e que desconheço qualquer pessoa com esse nome, que mereça esse tratamento. E adiantei logo que o interlocutor estava enganado no número que marcou de modo errado. "Não estou nada enganado, filho da puta!", foi a resposta. "Chama aí o António, esse cabrão que me deve dinheiro, ó filho da puta!" Assim, nestes termos, de suave educação portuga.
Continuei a tentar convencer o energúmeno que estava redondamente enganado e que nada tinha a ver com o assunto relativo ao tal "António" que nem faço ideia quem seja. Nada o demove, e avança para a ameaça : "Olha ,filho da puta, não queres chamar, mas vou aí e vou-te matar, estás a ouvir ó cabrão?"
E foi assim. Desligou.
O que é que estas coisas significam, no final de coisas? Uma profunda crise na sociedade portuguesa. Uma crise tão grande que por causa de dívidas, eventualmente de pequeno montante, há pessoas que não hesitam em recorrer a métodos terroristas, para ameaçar e amedrontar outros.
Por dívidas e não só. Qualquer diferendo que incomode algumas pessoas, ao ponto de não verem saída airosa, para os que não pagam, incomodam, perturbam, normalmente em âmbito familiar, de amores traídos ou frustrados, leva a coisas destas, hoje em dia, com o maior dos à-vontades.
Quem mandata, fica tranquilo, porque sabe que não subsistirão provas válidas da malfeitoria. O mandatário do serviço, recebe o dele, fica numa boa, e parte para outra, para usar a terminologia apropriada às circunstâncias.
É óbvio que os mandantes, perante a impunidade reinante, derivada da extrema dificuldade processual em provar este tipo de crimes, agem na maior liberdade. Mesmo conhecidos, denunciados e devidamente identificados, negam, porque sabem que a prova, em processo penal e depois de Setembro de 2007, ficou ainda mais fina e difícil de realizar. Não há registos válidos de chamadas que valham perante uma negação dos seus autores. Não há registo de investigação policial que vá muito além da audição dos queixosos e dos denunciados se os houver identificados. O resto, fica para o despacho de arquivamento do MP, normalmente em modo de "choca", a chocar aos milhares por esse Portugal fora, dentro dos tribunais.
O reino da banditagem, pequena e de maior coturno, está a alargar as fronteiras, com a maior das displicências e impunidade.
Mais uma vez, o Pathos, está todo a favor. As leis e práticas policiais, não podiam ser mais favoráveis e temos um país à beira do caos, na segurança básica dos cidadãos de certos locais. Nos outros, é isto que aí fica.
Publicado por josé 15:59:00
19 Comments:
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Isso significa tudo aquilo que escreveu e significa também que o que escreve incomoda muita gente, não deixa indiferente ninguém.
Mesmo os que não gostam de si , não podem tirar os olhos daí...
É claro que solicitar em meio próprio a identificação da operadora e do número utilizado, seria dar-lhe demasiada importância...
Passamos a palavra ao Tó e dizemos em coro popular " chama o António, chama o António "
Quem quer que seja ...
:-)
Um abraço
Maria
No meu caso, foi por erro. Alguém digitou o número errado. Mas deve haver milhares de vítimas com razão para pensarem que não houve erro.
Alguma desta pequena criminalidade, chega aos tribunais. Mas muito pouca, porque os tribunais e a polícia não a resolvem de modo algum.
E disto, pouca gente fala.
Muito por causa das leis e por causa das práticas judiciárias.
Estilo "cobrador de fraque ..."
Não sei.
Realmente esse tipo de criminalidade preocupa, porque em regra quem deve, tem vergonha de procurar ajuda.
Os incentivos ao endividamento fácil são muitíssimos.
E as pessoas vivem dificuldades reais, fruto da deplorável situação em que o País se encontra.
A investigação , efectivamente complicada de fazer-se ( muitos segredos a vencer...)
Em todo o caso ainda bem que não lhe foi dirigido a si.
Conheço pessoas que já receberam uma chamada em tudo idêntica. É uma gravação para "brincar" e ouvir as reações do outro lado. Não se pode dizer é que seja uma brincadeira de bom gosto!
Apresentar queixa?
Nem pensar. Tal como milhares de portugueses, já sabem por experiência própria, essas queixas vão directamente para o arquivo morto, do MP.
Não vale a pena, nem sequer para estatística, porque ninguém liga a essas estatísticas.
Se ligassem, há dezenas de anos que tínhamos mudado alguma coisa, para melhor no sistema que temos.
E sei do que falo.
Em primeiro lugar, são investigados por um NIC da PSP. Um NIC que abrange alguns polícias voluntariosos que são escolhidos por critérios que me escapam de todo. E que critérios!
Depois, esses núcleos investigam como? Vocês fazem ideia de como investigam?
Suponhamos que vou lá agora. Sabo o que me acontece? Jã são 5 e meia, pelo que terei que entrar pela porta principa, onde um polícia me perguntará o que pretendo. Digo-lhe: apresentar queixa.
Muito bem. Dirija-se ao balcão.
Muito boa tarde. Venho apresentar queixa por causa de uma chamada anónima que recebi há umas horas.
Muito bem. Tem ai o seu bi?
E começa a lavrar o "célebre" auto. A partir desse momento, a vítima que sou eu, fica refém da boa vontade do polícia. Do seu humor, da sua disponibilidade.
Normalmente, nesta fase, costumo desistir. Não vale a pena continuar, perante o que presencio.
Torna-se penoso, verificar que esta primeira abordagem é o indício mais claro da ineficácia policial.
Tenho experiência pessoal disto. E poderia continuar, para demonstrar que o sistema que temos, neste campo, não presta.
Ninguém mexe nisto, há dezenas de anos e as pessoas julgam que é de outra maneira.
Os emigrantes, descobrem á sua custa o que isto significa.
Por causa destas coisas e doutras, a taxa de descoberta de autores de furtos, por exemplo, é absolutamente excepcional: mais de 90 por cento de falhanço.
É assim.
Enquanto isso os devedores fazem vidas largas e passeiam em carros de luxo sob o olhar dos credores.
Parece que a Justiça não funciona nos dois sentidos.
Os cidadãos começam a sentir que a única justiça a que conseguem aceder é a que consigam fazer pelas suas mãos,o que é um mau prenúncio.
Pois. Por cá, vão em ameaças por telemóvel. Lá fora, na Itália, o método pode ser muito mais expedito, quando percebem que não irão reaver o dinheiro: execução sumária à lupara. Ou dissolvidos em ácido.
Os métodos estão descritos no livro Gomorra, recente.
Por cá, a continuar este estado de coisas, lá chegaremos.
É verdade que o sistema judicial de cobrança de dívidas funciona muito mal.
De quem é a culpa? De quem aplica a lei que outros fizeram?
E isso justifica o direito de acção directa, ou direito de necessidade?
Num dos casos de roubo, como viram que eu estava sem carro, até tiveram a lata de me dissuadir a apresentar queixa porque a esquadra ficava em local perigoso e já era noite.
Fui eu quem tive de os obrigar a darem-me boleia até`à dita esquadra para fazer a queixa.
E já fiu completamente ignorada, deixando-me horas à espera numa queixa.
O telefonema que recebi, muito idêntico ao seu, é uma gravação que está disponível na internet, e que pessoas utilizam em telefonemas sem pinga de piada e dum profundo mau gosto. Inicialmente, a “brincadeira” circulou entre adolescentes, passando depois para os adultos que são piores que os adolescentes.
Já me tinham contado desta “brincadeira” quando recebi o telefonema e não me assustei (pousei o telefone para o parvalhão gastar dinheiro com a chamada), mas conheço histórias de pessoas que ficaram muito assustadas.
Ainda a propósito da "brincadeira",
pode não ser banditagem à solta (neste caso)mas é concerteza estupidez à solta. Ver por exemplo os comentários em
http://mghorta.blogspot.com/2007/08/chama-o-antnio.html
Aqui está um caso:
http://www.youtube.com/watch?v=ps_hoQ2bgl4
Penso que esse telefonema é uma variação do clássico "vai já chamar a tua filha".
Apenas uma brincadeira chata e pouco original.
É de facto uma gravação standard, à solta na Internet.
Tudo seria mais simples e nem tinha dado importância, não se dera o caso de ainda há poucos dias, ter tomado conhecimento de um caso semelhante, mas desta vez, bem real e profundamente lamentável, com um amigo meu.
Profundamente lamentável, vindo de quem veio- porque também neste caso se sabe de quem foi a autoria "mediata".
Se no meu caso foi mesmo brincadeira, naquele não o foi assim. E é preocupante que haja banditagem desta à solta e com o maior dos à-vontades para fazerem o que lhes apetece.
não conheço o link, mas o exemplo que o JPG deixou é ilustrativo:
José:
Ainda bem que se comprovou ser "brincadeira".
----
À procura do link dei com este perfil no youtube, http://www.youtube.com/user/djcrik , dum juvenil que se dedica a chamadas anónimas, que da forma como se descreve e responde aos comentários parece ter muito orgulho no que faz.
É doentio e reflexo da permissividade vigente, quer parental quer social.