A luta contínua

O general Galvão de Melo, morreu na quinta-feira passada, em casa. Tinha 86 anos.

Em 25 de Abril de 1974, foi um dos militares que apareceu na televisão, integrando a Junta de Salvação Nacional, como militar da Força Aérea.

A história de Galvão de Melo, poderia servir de metáfora, para uma certa Direita portuguesa que nunca conseguiu afirmar em número de votos, as ideias trazidas do tempo do Estado Novo e alimadas no Portugal democrático, após o 25 de Abril. A esquerda, conseguiu sempre superar em discurso e em votos, as veleidades que essa Direita poderia alimentar, para conseguir governar Portugal de uma maneira diferente e mesmo assim, democrática. Galvão de Melo, não gostava do comunismo e manifestava-se abertamente contra essa ideologia, com 15 anos de antecedência, à queda do Muro, em Berlim. Alguns dos que então o atacavam e apodavam abertamente de "fascista", como um certo meco que por aqui aparece, só em finais dos oitenta, descobriram que estavam enganados, professando a fé de cristãos novos, ainda assim, de modo serôdio.

Nesta sequência de fotos, tiradas de revistas e jornais da época, ( Século Ilustrado, Flama, Vida Mundial, Opção e Expresso) podem ver-se algumas das razões ilustradas, da derrota permanente e duradoura, dessa Direita que nunca conseguiu mostrar que valores propunha socialmente, recolhendo votos em quantidade suficiente para governar o país.

Galvão de Melo perdeu a luta contra o partido comunista, nos primeiros meses depois de Abril de 1974, mas ganhou depois a guerra que também travou, contra a ditadura que o PCP preparava para Portugal, em 1975.

Ainda assim, nunca logrou passar de uma figura emblemática daquilo que para muitos, representa a extrema-direita portuguesa, apesar de ter apoiado o socialista Mário Soares, como membro da comissão de honra da candidatura presidencial, nas últimas eleições.

A primeira imagem, é da Junta de Salvação Nacional, na noite do dia 25 de Abril de 1974, tal como apareceu na RTP, com o general Spínola a ler a proclamação do MFA, depois do golpe de Estado, contra Marcelo Caetano e o regime.



A seguir, estas duas fotos, mostram a proclamação de Spínola, como presidente da República, em Maio de 1974, efectuada por Costa Gomes, então CEMGFA e em nome da Junta de Salvação Nacional que assim o decidiu.
Na foto ao lado direito, o primeiro governo provisório, quase na mesma altura e já empossado pelo novo presidente da República. Palma Carlos, professor de Direito, maçónico e moderado, é primeiro chefe de Governo da democracia saída de 25 de Abril. Ao lado, Cunhal, Soares, Almeida Santos, Pereira de Moura, Sá Carneiro, Raul Rego e outros. As figuras do novo regime e que marcarão os anos seguintes.














Nessa altura, já Galvão de Melo, tinha ido à televisão, fazer um discurso completamente contra a corrente, lamentando os excessos da democracia e da liberdade recentemente conquistada. Foi nessa altura, completamente trucidado pela opinião publicada nos principais jornais, criticado por criticar os desmandos que se lhe tornavam notórios.
Um exemplo concreto, foi a entrevista, também à televisão, em Agosto de 1974, em que criticava as medidas de amnistia recente, que pôs em liberdade alguns presos de delito comum. O ministro da Justiça da época, Salgado Zenha, respondeu-lhe como se pode ler nesta notícia, do Expresso de 31 de Agosto de 1974.


Não obstante, o clima político, nessa altura, era de tal ordem que o Expresso da semana anterior, perguntava na primeira página: "Onde reside o poder em Portugal?" É que não se sabia muito bem, porque havia o Governo, o Presidente da República, as Forças Armadas do MFA e a Junta de Salvação Nacional.Por causa dessa indefinição, em Setembro de 74, houve uma tentativa de algumas pessoas ligadas ao general Spínola, demarcarem melhor os campos políticos, procurando um lugar para a Direita portuguesa, apresentada então como "maioria silenciosa". Houve uma convocatória para uma manifestação, também apoiada por Galvão de Melo e que redundou em fracasso e em tiro ao alvo, quase literal, aos "reaccionários". A partir daí, a Direita portuguesa, nunca mais se encontrou num lugar seguro e de ideias firmes. O CDS, aparecia sempre como partido "rigorosamente ao centro"...e os demais partidos da mesma área, eram pura e simplesmente acantonados no beco sem saída da extrema-direita, sem direito a respeito algum democrático. Os jornais que os representavam, eram "pasquins". A liberdade de expressão, ficou então reservada aos "progressistas" e os "regressivos", ficaram sem pio. Durante tantos anos que ainda hoje piam muito baixinho, para não se ouvir a reprimenda certa e ainda segura, dos "progressistas".

Em 24 de Outubro de 1974, na sequência dos acontecimentos de 28 de Setembro, a revista Vida Mundial, totalmente à esquerda ( dirigida então por Augusto Abelaira e Pedro Rafael dos Santos) , logrou fazer uma capa, com um título apelativo: a CIA em Portugal. O papão maior, descontando o KGB de quem nunca se falava, aparecia como o inimigo principal do país e que em nome do capitalismo, pretendia subjugar a independência nacional.
No artigo interior, assinado por Fernando Dil, o nome de Galvão de Melo aparece associado à CIA e à tentativa de desestabilização do regime democrático, rapidamente transformado em PREC...dali até 11 de Março de 1975, foi um ver se te avias. E aviaram-se bem , com nacionalizações dos sectores produtivos, industriais e de serviços.






















Dois anos depois, em Agosto de 1976, a revista Opção, de Artur Portela Filho, definia claramente a direita, com direito a foto que aqui fica. Ao lado, dava a voz aos "constitucionalistas" do regime, entre os quais, o afamado Vital Moreira que em nome do PCP, não tinha qualquer dúvida em afirmar que a Direita, ( e a extrema-direita) pretendia remodelar o Conselho da Revolução ( aparecido em Março de 1975) expurgando os elementos mais "progressistas". E explicava:
" A direita pôs fortes esperanças nas eleições para a Assembleia da República e viu-as defraudadas; depois, não conseguiu eleger o seu candidato à presidência e, mais recentemente, não teve o Governo que gostaria, pelo que, a sua última hipótese é o CR"

Então, como agora, a luta é sempre a mesma: contra a malfadada Direita: Nem que esta seja um mito, como bem o demonstra a foto dos dois representantes da dita...




Publicado por josé 01:12:00  

1 Comment:

  1. lusitânea said...
    A direita desapareceu com o 28 de Setembro.Baixou a cueca e pelos vistos gostou.Assim como depois notórios "revolucionários".
    O Spínola acobardou-se no 28 Set.Tinha a tropa toda com ele.
    Mas os tipos que nos governam desde 1974 são quase sempre os mesmos.Já deveriam ter aprendido alguma coisinha não?
    O pântano é precisamente provocado pela falta convicções vincadas da massa política que se governa.Andará tudo bem enquanto o erário der para eles... alguns dos quais apostam em vários tabuleiros para nunca ficarem longe do dito...

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