um requiem por Jardim Gonçalves

Por estes dias, e desde há uns tempos para cá, não há alminha que se preze que não tenha opinião sobre o BCP, e sobre o seu fundador Jardim Gonçalves. As 'notícias ', e as 'análises', sucedem-se, e a conclusão é unânime - Jardim Gonçalves 'acabou', está 'a mais', é em suma um 'obstáculo' ao 'futuro'. Em resumo, uma das maiores pulhices dos últimos tempos. Jardim foi tolerado, adulado, endeusado, temido, e 'respeitado' enquanto parecia que estava por cima, mas sempre teve as suas regras, a sua lógica. Bem ou mal, nunca se misturou, nunca foi um dos 'deles'. Agora, com a idade a não perdoar, com o tempo a jogar contra si, Jardim Gonçalves é visto como um perdedor antecipado. O raciocínio pode ser legítimo mas não justifica tudo. Não justifica, por exemplo, o absoluto e vergonhoso engajamento da comunicação social, praticamente sem excepção, aos senhores que (julgam) se seguem, a absoluta ausência de investigação, e análise, séria e distanciada, etc e tal.

Como antes no Caso Pio, também aqui todos pressentir vencedores e vencidos, e - naturalmente - alinham ao lado dos vencedores, até, porque dos outros - julgam - não reza a história. A 'verdade' aqui só tem um lado - a dos que se julgam vencedores.

Depois, e isso 'eles' não percebem, há qualquer coisa de nobre, heróico, irracional até, na 'resistência' que dizem fútil de Jardim Gonçalves. 'Eles' associam-na à de um 'velho', de outro tempo e de outro espaço, que não sabe quando sair, que não compreende que as regras mudaram. Não compreendem de facto. Jardim Gonçalves tinha caminhos mais fáceis - podia fazer como outros - tantos - fizeram, deixar cair os seus, deixar cair a 'família' - no sentido literal e figurado, e seguir em frente. Vergar a espinha, como agora se diz. Podia até ter deixado cair, em tempo útil, essa imensa luminária que se revelou Paulo Teixeira Pinto, quando se apercebeu da aventura Angolana deste, e afins. Mas não. Optou pelo, dizem, impossível - bater o pé por um modelo, por uma filosofia, que sempre foi a do BCP, segundo as 'regras' que - registe-se - sempre seguiu, e que levaram o BCP até onde está hoje. Digam o que disserem, é bonito. Infelizmente, vivemos num tempo em que a firmeza se confunde com fundamentalismo e irracionalidade, e o que conta é tão só e apenas o 'momento', e o seu contexto. A memória não existe, a não ser a de muito curto prazo - a dos milhões do Sr. Berardo, que com o seu proverbial mau feitio pode decidir num ápice adquirir o patrão de quem ousar dizer mal dele...

Ostensivamente reservado, não fala, não 'aparece', não dá festas nem jantares. Leva 'porrada', com meias verdades, e ruído e mais ruído, e torna a levar. Sempre em silêncio. Jardim Gonçalves, dizem, não se adaptou, aos novos tempos. Mais mediáticos, caceteiros, e menos ponderados e florentinos. Talvez. A mim parece-me é que uma boa parte dos 'novos' ainda não apreendeu uma realidade, que me parece básica - que nem tudo se resume ao fast-food mediático e financeiro.

O fado, provavelmente, é Jardim Gonçalves perder. Para mim, que nunca lhe apreciei o estilo, e no meu ranking, já ganhou. Uma posição minoritária, bem sei.

Publicado por Manuel 12:18:00  

3 Comments:

  1. Jose Silva said...
    Uma gestão que não tem como objectivo único a defesa dos seus proprietários dura aré onde durar.

    Jardim usar o dinheiro de alguns accionistas para financiar outros «accionistas» nunca pode ser duradouro. Já muito durou este modelo...

    Isto é apenas um caso de expectativas irrealistas que se desvanecem quando o abade abondona a abadia.
    CD said...
    É uma pena que as regras do jogo funcionem para todos.
    Mas é a vida
    Cosmo said...
    Êpa! O Manuel apurou-se!

    Hoje não encontrei nenhum "há" sem agá nem ao menos um à com agá!

    Se eu bem percebi o post, é uma versão daquele aforismo: "para os nossos tudo, para os deles nada, e para os outros cumpra-se a lei"

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