Voltar a Sophia (sempre)


«Se todo o ser ao vento abandonamos

E sem medo nem dó nos destruímos,

Se morremos em tudo o que sentimos

E podemos cantar, é porque estamos

Nus em sangue,

embalando a própria dor

Em frente às madrugadas do amor.


Quando a manhã brilhar refloriremos

E a alma possuirá esse esplendor

Prometido nas formas que perdemos.

Aqui, deposta enfim a minha imagem,

Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem.

No interior das coisas canto nua.

Aqui livre sou eu, eco da lua

E dos jardins, os gestos recebidos

E o tumulto dos gestos pressentidos

Aqui sou eu em tudo quanto amei.


Não pelo meu ser que só atravessei,

Não pelo meu rumor que só perdi,

Não pelos incertos actos que vivi,

Mas por tudo de quanto ressoei

E em cujo amor de amor me eternizei»


Sophia de Mello Breyner Andresen

Publicado por André 23:07:00  

1 Comment:

  1. MARIA said...
    Caro André,
    Como é belo e grandioso este poema de Sophia .
    Digamos que a entrada, hoje, nesta casa de eleição, abre com as cores do sonho, as portas do coração.
    Por quem vos lê , eu agradeço !
    Saudações
    Maria

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