A Utopia ao virar da Esquerda- II
domingo, setembro 02, 2007
Sendo o Partido Comunista Português, a verdadeira Esquerda portuguesa, porque receptáculo perfeito, da matriz original do pensamento marxista-leninista, conforme foi praticado nas realidades dos países socialistas, que lugar existe para a Esquerda que não quer ser dessa esquerda? Será que ainda pode ser de Esquerda quem renega as ideias de esquerda?
Dito de outro modo, sendo a Esquerda verdadeira, um lugar infrequentável, que lugar existe para a esquerda que não prescinde do nome?
Em Portugal, a pestilência do lugar, só foi descoberta muito tardiamente, por uma legião dos seus ocupantes . A maior parte deles e à falta de melhor lugar para acalentar o sonho incandescente de utopias, acoitaram-se despudoradamente, noutro partido que se reclama de Esquerda, sendo essa a caução para a traição- continuar a luta pela utopia, num lugar mais decente. É por isso e nessa lógica imanente que se dão largas nos conselhos de administração de empresas internacionais de telecomunicações e energia. São as melhores, para se praticar as suas conceituadas ideias de esquerda. Outros, afiançam que as soluções de privatização de poderes públicos, entregando-as a outsourcing duvidoso, são também o ideal para o progresso da Esquerda. Outros ainda, sustentam políticas que a Esquerda verdadeira e original excomunga como sendo da mais retinta Direita que pode haver. Como se podem entender, estes neófitos vitalicia e supinamente instalados na opinião pública?
E por outro lado, o partido que os acoita e onde mandam sem pejo nem peias, e que é o partido Socialista português, pode ser um partido de esquerda?
Segundo alguns, com destaque para os neófitos, pode e deve. É até por isso que subsiste o mito de Manuel Alegre que se seguiu a essoutro mito inefável que se chamou Pintassilgo e convocou um esquerda afectiva sem rumo definido, a não ser a ideia básica, expressa na letra de uma canção progressista de Júlio Pereira ( um dos artistas dessa Esquerda) nos anos setenta: “foi contigo que aprendi que modificar as coisas, acontece de verdade quando se sente no peito, aquilo que não se sabe o que é e donde vem. Mas dá força e coragem para poder gritar aos homens aos vivem na mentira aos vivem sem viver, que a luta pela igualdade é a que nos faz viver.”
A “Luta pela igualdade”, portanto, é o mote sempre presente desta guerra ideológica que se matém viva e acesa ao longo dos anos e sustém todos os equívocos que podem advir das evidências dos erros cometidos.
A ideia de igualdade, é uma das distinções empíricas, porventura a mais sólida e consistentemente proclamada, que a Esquerda apresenta relativamente à Direita.
Alguns autores, no entanto, para evitarem a referência explícita ao igualitarismo que associa a Esquerda aos esquemas marxistas-leninistas, arranjaram uma modificação semântica e passaram a identificar a Esquerda como igualitária, sem ser igualitarista, fugindo assim à redução da desigualdade social através da solução igualitarista de igualdade de todos
E no entanto, não pode ser esse o ponto de diferenciação entre Direita e Esquerda: ambas podem ser igualitárias e o seu contrário e assim o conceito é meramente formal, aplicável em diversos conteúdos e inoperante para o efeito desejado. Por água abaixo vai assim, a ideia de solidariedade e maior justiça social, como apanágio da Esquerda por contraponto à Direita. Contudo, o conceito que permanece na nossa Constituição, é obviamente um compromisso de Esquerda e com a sua marca de água.
Por último, alguns autores pretendem a distinção fundamental, e antinómica, centrada na pessoa e na autonomia do sujeito moderno que faz reviver a distinção entre tradicionalismo e emancipação, antiga e de sempre.
No caminho continuado de busca do graal distintivo, podem ler-se as tentativas de inventar uma roda gasta e por isso, as últimas tendências repousam nas dicotomias Egoísmo-altruismo; Laicismo e libertários-religiosidade e defesa da ordem social.
Seja como for, em Portugal, a distinção faz-se outro modo mais prosaico e sem preconceitos. Alguém é de esquerda, porque sim, não precisando de mais concretizações. De Direita, são os outros. De preferência, os que nunca militaram, votaram ou simpatizaram com o partido comunista, o socialista ou os extremistas da Esquerda utópica.
Quantos haverá em Portugal, assim definidos alegremente, tipo cor de "gato-fedorento" a fugir, e a escrever em jornais e revistas? Tentaremos ver a seguir.
Publicado por josé 17:31:00
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E no entanto, não pode ser esse o ponto de diferenciação entre Direita e Esquerda: ambas podem ser igualitárias e o seu contrário e assim o conceito é meramente formal, aplicável em diversos conteúdos e inoperante para o efeito desejado."
Claro que as palavras podem sempre designar aquilo que convencionarmos que elas designem. Mas isso é uma simples lapalissade.
Em termos de tendências empíricas sociológicas, ou em termos de simbologia das massas ou de arquétipos inconscientes, existe algo que o homem comum identifique mais normalmente com esquerda que a luta pela igualdade (de oportunidades, ou mesmo em sentido estrito, de acesso aos recursos que visam a satisfação de necessidades)?
E, correlativamente, nesses arquétipos, a direita não é associada políticamente a um sentimento de hostilidade ou, na melhor das hipóteses, indiferença para com a igualdade?
O que parece não é. E escrevi que tanto a Direita como a Esquerda, convencionalmente designadas como tal mas que na verdade não sei distinguir, para além do partido comunista, podem ser igualitárias nas políticas que defendem e vice-versa, sem perderem a identidade que se arrogam.
De resto, a ideia de igualdade é uma boa ideia.
O problema é a execução de políticas que a ela conduzem. E nisso, irá toda a diferença conceptual.
Parece-me que a esquerda se engana frequentemente nas contas e a direita, sem o saber muito bem acaba por promover mais igualdade do que a esquerda.
O Problema da esquerda, fundamental quanto a mim, é o desejo imediato de satisfazer a igualdade a todo o custo e isso conduz a paradoxos. Um deles é aplicar políticas que se dizem de esquerda e redundam em miséria social e humana. Queres exemplos?
Tudo em nome das boas intenções.
existe por exemplo uma maneira muito simples de se saber se, tendencialmente, uma sociedade é ou não mais desigual que uma outra: o fosso entre os ricos e os pobres expresso no coeficiente de Gini
http://pt.wikipedia.org/wiki/Coeficiente_de_Gini
também é interessante saber que Portugal é a sociedade mais desigual da Europa
http://epp.eurostat.cec.eu.int/portal/page?_pageid=1996,39140985&_dad=portal&_schema=PORTAL&screen=detailref&language=fr&product=STRIND_SOCOHE&root=STRIND_SOCOHE/socohe/sc010
e existe um modo muito simples de deduzir as desigualdades:
aumentar a redistruição dos recursos com viosta à satisfação das necessidades dos mais desfavorecidos
em suma, políticas fiscais e sociais nesse sentido (bem desenhadas e bem executadas)
A coisa vai melhorar um bocadinho com a chegada da última tranche das massa de Bruxelas mas o fim está traçado:salve-se quem puder e como quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é burro e não tem arte...
A esquerda já conta com muitos capitalistas mas também não investe em fábricas... porque será?