A Utopia ao virar da Esquerda- III

Em Setembro de 1974, o partido Comunista e a Esquerda em geral, incluindo o partido Socialista que disso se não demarcou e só se assustou verdadeiramente no Verão Quente, no comício da Fonte Luminosa, precisava de identificar o fascismo português com nomes próprios.


Encontrou estes nomes e figuras, na sequência dos acontecimentos de 28 de Setembro, uma tentativa canhestra de alguns saudosos do regime de Caetano, caído em 25 de Abril, reporem algum equilíbrio entre as forças políticas que se erguiam em parada partidária. Havia então, como partidos políticos constituídos, o PCP, o PS, o PPD, o CDS, o MDP, o MÊS, o MRPP, a UDP, a LUAR e uma miríade de grupúsculos partidários e movimentos para as massas, todos de exrema-esquerda.

Quem dirigia o jornal Sempre Fixe de 30 de Setembro de 1974 que assim proclamou publicamente a imagem do fascismo português? Ruella Ramos e outros, anónimos.

O Diário de Lisboa era dirigido por A. Ruella Ramos e José Cardoso Pires.

O Sempre Fixe, só por si, encarregou-se de fazer a folha aos "fascistas", notórios, como Artur Agostinho e Silva e Cunha. Foi nesse mês e dia que Cunhal foi mais longe no seu discurso publico e radical: proclamou que era preciso partir os dentes à reacção e alguns tomaram-no precisamente à letra que era, aliás, bem significante.

Antes deles, e desse mês, é inútil seja a quem for, procurar pela imprensa de época, imagens do fascismo nacional, tirando uma ou outra relativa ao apagamento e apeamento dos seus sinais, como sejam nomenclaturas e estátuas e uma meia dúzia de fotos publicadas no Século Ilustrado ou Flama, retratando em modo paparazzi, os presos fascistas, Moreira Batista e Silva e Cunha, no forte de Caxias.

Houve nessa altura queima de livros ( todos fascistas), também, o que se documenta devidamente se preciso for e foi denunciado publicamente, com grande reacção de familiares de visados, sem memória nem vergonha.

Queimar livros é ideia de Esquerda? Pode ser. E o que havia mais como imprensa em Portugal, para todos lerem, em Setembro de 1974?

O Século Ilustrado era dirigido por Redondo Júnior, Duarte Figueiredo e Rogério Petinga, com a colaboração, entre outros, de Afonso Cautela, José Manuel da Fonseca, Maria Antónia Palla e outros.
A Flama, outra das revistas de grande circulação era dirigida por António dos Reis e Edite Soeiro e a Vida Mundial, por Augusto Abelaira.

A defesa das eventuais virtualidades positivas do regime deposto, supostamente de Direita, ficou a cargo de anónimos irrelevantes, em artigos dispersos, livros mal escritos, e conversadores de café. Em 1975, em Portugal, já não havia jornais de “direita” a defender o regime de Salazar/Caetano e as tentativas que se seguiram, ecoaram todas num mar de indiferença, amplificado pela mediocridade intelectual dos que ousaram virar-se contra a maré. Jornais como a Rua, o Diabo, ou o Dia, acolhiam saudosos e nostálgicos do tempo da outra senhora, chamada Gertrudes, pois os senhoritos tinham-se bem adaptado ao Expresso, depois ao Tempo, e mais tarde ao Semanário.

Ao longo dos anos, pode ler-se a ficha redactorial dos jornais e revistas que foram saindo em Portugal para se perceber se alguma vez a Esquerda, em geral e de ideias matriciais gerais, ficou equilibrada com ideias supostamente de Direita.

Em França, em Espanha ou na Alemanha, para não mencionar a Inglaterra, havia e há equilíbrio ideológico ou mesmo meramente opinativo, nos media.

Em Portugal nunca houve esse equilíbrio. O problema não é a existência da Esquerda como força dominante. O problema grave e sustentado ao longo de décadas é a ausência de vozes que digam ou falem de modo diferente do discurso dominante, relativamente a certos assunos, O melhor desses assuntos, é o regime anterior de Salazar e Caetano. O último concurso televisivo, na televisão pública, para eleger o português mais significativo de sempre, é um bom exemplo do que se pode dizer sobre o caso, através do depoimento recolhido em directo.

De resto, só agora começam a chegar aos escaparates das livrarias, livros sobre o período salazarista, com apreciações diferenciadas das até há pouco publicadas em sintonia com o pensamento único da Esquerda que definiu o fascismo como sendo o período de obscurantismo que mergulhou Portugal numa penúria de ideias progressistas, durante 48 anos.

Aqui ficam as imagens de fichas da redacção de alguns semanários que existiam e surgiram em Portugal após Abril de 1974. Dentre os nomes que aí constam, topem um só( VPV, peut être) que pudesse então ( ou agora) escrever como Jean-François Revel escrevia, ou que pensasse como pensava Raymond Aron, para citar apenas dois franceses da intelectualidade francófona que os de cá liam. Os nomes de Francisco Balsemão, Marcelo Rebelo de Sousa, Augusto de Carvalho e José António Saraiva, do Expresso, não contam porque não pensavam de facto e de modo a escreverem na época própria o que era preciso para inverter a maré. O nome de Nuno Rocha também não conta, porque sim, simplesmente e para não adiantar mais razões.

Agora, percorram todas essas fichas e perguntem a cada um desses redactores o que pensava de Jean-Paul Sartre e do regime de Salazar em Portugal e terão a resposta exacta, para perceber porque é que a Esquerda dominou e continua a dominar todo o panorama e pensamento político em Portugal, nestes últimos 40 anos. Ou menos meia dúzia, se quiserem.






















No campo cultural, também nada havia para além da Esquerda. Durante mais de dez anos, a preponderância do semanário popular Sete, acompanhado do Jornal de Letras, cuja ficha dispenso publicar, por redundância, são o exemplo mais marcante.


Publicado por josé 19:29:00  

1 Comment:

  1. Luís Bonifácio said...
    Ainda me lembro de colunas e colunas de "declarações" nas páginas de anúncios do Jornal de Noticias nas quais cidadãos anónimos declaravam por sua honra, nunca terem sido informadores da PIDE

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