Observatório 2008 -- pode Obama escapar ao segundo lugar?
sábado, setembro 08, 2007
Barack Obama: o senador do Illinois atrai multidões e desperta a atenção das luzes mediáticas. Não é, apenas, um produto do marketing, tem ideias e consistência, mostra-se muito forte no duelo com os front-runner republicanos, mas ainda não conseguiu provar que tem dimensão suficiente para roubar a liderança da corrida democrata a Hillary Clinton. E isso, neste jogo, é o mais importante...
É uma das grandes questões do momento na louca corrida para a Casa Branca, em 2008. Hillary Clinton vai cimentando a imagem de favorita, tanto para a nomeação no lado democrata, como para a eleição a 4 de Novembro do próximo ano, mas Barack Obama é a grande estrela da campanha, somando apoios de famosos e muito, muito dinheiro.
Jovem, inteligente, com carisma e magnetismo indiscutíveis, o senador tem o dom de atrair para si os focos de atenção, quase sempre por boas razões: com um discurso responsável e consistente, Obama tenta ser o candidato do consenso, aquele que estará em melhores condições de levar a América a reconciliar-se consigo mesma.
O problema é que tudo isto de pouco lhe valerá: é que a realidade de Obama, neste momento e já há muitos meses, é o segundo lugar. Como só a a vitória dará acesso ao direito de disputar a presidência ao nomeado republicano, resta perguntar: para quê tanta excitação em redor de Obama?
Para começar, é preciso explicar que o segundo lugar, numa corrida tão acesa como a que está a ser no campo democrata, obtido por um senador com apenas dois anos de Capitólio, sendo o único senador negro do momento (e quinto em toda a história da América) é já um feito de registo.
Barack é o primeiro candidato negro com reais hipóteses de ser eleito por várias razões: em primeiro lugar, pela sua qualidade política; depois por ser um negro com especificidades que o diferenciam de antigos candidatos como Al Sharpton, Alan Keyes ou Jesse Jackson — é filho de um queniano negro e de uma americana branca, do Kansas, e assume-se como produto de uma mistura que representa, ela própria, a história da América.
Em vez de apelar à raiva, ao ressentimento, como tantas fizeram outros candidatos negros, mais ligados a associações de minorias, Obama é um candidato de consensos: tem um discurso moderado, mas mobilizador; apela ao sonho (e, nesse plano, tem sido muito comparado a Kennedy) e faz as pessoas sonhar.
Sabendo que só pode ser nomeado se obtiver fortes apoios em todos os sectores da sociedade, Obama está longe de ser o candidato dos negros (bem pelo contrário, dado que entre os afro-americanos, Hillary está à frente, muito por mérito dos anos Bill Clinton, presidente que sempre teve um forte apoio no eleitorado negro).
Obama fala na reconciliação da América, entre raças, estratos sociais e, sobretudo, numa reconciliação da América consigo própria, após anos de perda de prestígio internacional, durante os dois mandatos W. Bush. E tem conseguido dar provas de que pode marcar pontos nesse plano: um candidato que nasceu no Hawai, cresceu na Indonésia, é filho de um negro e uma branca, foi educado pelos avós brancos e estudou em Harvard tem, sem dúvida, muitos trunfos quando tentar seduzir a comunidade internacional.
Apontando Hillary como a candidata do sistema, aquela que já passou oito anos na Casa Branca e sete no Senado, Obama assume-se como o candidato do futuro, da mudança, falando em conceitos como «o regresso do bom senso».
Tudo isto confere interesse e relevo a Obama, além do facto de continuar a ser um campeão em recolha de fundos para a sua campanha (aí, está claramente à frente na corrida, mesmo contando com os candidatos republicanos), mas a verdade, nua e crua, dos números é esta: Barack está a uma grande distância de Hillary(10 a 20 pontos) e já viu John Edwards, o terceiro classificado, bem mais longe.
Ainda tem uma boa margem de crescimento, sobretudo no eleitorado negro — que olha para si com admiração mas, ao mesmo tempo, uma certa desconfiança, acusando-o de não ser... suficientemente negro no discurso e na postura — e nos jovens, que, historicamente, só se interessam pelas campanhas presidenciais a poucas semanas do seu fim.
Pode, por isso, acontecer que as sondagens, daqui para a frente, dêem números, no plano nacional, mais animadores para uma viragem no campo democrata que não estará posta de parte. É que Obama, na hora da verdade, pode aparecer com outro trunfo forte na manga: o de se mostrar, no duelo com os principais candidatos republicanos, mais forte do que Hillary Clinton.
Com a mais baixa taxa de rejeição de todos os candidatos até agora (apenas 33 por cento, contra 42 de Giuliani e 46 de Hillary), Barack Obama será sempre um candidato de respeito, tendo em conta que parte para a corrida com um universo de 67 por cento dos eleitores dispostos a votar nele, caso sejam convencidos.
Será que isto vai contar? Ou será que Hillary Clinton se manterá num registo seguro, muito previsível é certo, mas suficiente para se manter à frente?
É uma questão de escolha da mudança: se a agulha está, claramente, para a viragem para o campo democrata, a verdade é que é muito diferente uma escolha por Hillary ou Obama. Quanto maior for o desgaste dos eleitores em relação ao poder de Washington nas últimas duas décadas, maiores serão as esperanças de Barack, que poderá recordar, na hora da verdade, que uma eleição de Hillary Clinton significaria que a Casa Branca iria ser presidida por um Clinton ou um Bush durante... 28 anos!
Num país que, historicamente, sempre rejeitou as monarquias, talvez seja um bom argumento.
Jovem, inteligente, com carisma e magnetismo indiscutíveis, o senador tem o dom de atrair para si os focos de atenção, quase sempre por boas razões: com um discurso responsável e consistente, Obama tenta ser o candidato do consenso, aquele que estará em melhores condições de levar a América a reconciliar-se consigo mesma.
O problema é que tudo isto de pouco lhe valerá: é que a realidade de Obama, neste momento e já há muitos meses, é o segundo lugar. Como só a a vitória dará acesso ao direito de disputar a presidência ao nomeado republicano, resta perguntar: para quê tanta excitação em redor de Obama?
Para começar, é preciso explicar que o segundo lugar, numa corrida tão acesa como a que está a ser no campo democrata, obtido por um senador com apenas dois anos de Capitólio, sendo o único senador negro do momento (e quinto em toda a história da América) é já um feito de registo.
Barack é o primeiro candidato negro com reais hipóteses de ser eleito por várias razões: em primeiro lugar, pela sua qualidade política; depois por ser um negro com especificidades que o diferenciam de antigos candidatos como Al Sharpton, Alan Keyes ou Jesse Jackson — é filho de um queniano negro e de uma americana branca, do Kansas, e assume-se como produto de uma mistura que representa, ela própria, a história da América.
Em vez de apelar à raiva, ao ressentimento, como tantas fizeram outros candidatos negros, mais ligados a associações de minorias, Obama é um candidato de consensos: tem um discurso moderado, mas mobilizador; apela ao sonho (e, nesse plano, tem sido muito comparado a Kennedy) e faz as pessoas sonhar.
Sabendo que só pode ser nomeado se obtiver fortes apoios em todos os sectores da sociedade, Obama está longe de ser o candidato dos negros (bem pelo contrário, dado que entre os afro-americanos, Hillary está à frente, muito por mérito dos anos Bill Clinton, presidente que sempre teve um forte apoio no eleitorado negro).
Obama fala na reconciliação da América, entre raças, estratos sociais e, sobretudo, numa reconciliação da América consigo própria, após anos de perda de prestígio internacional, durante os dois mandatos W. Bush. E tem conseguido dar provas de que pode marcar pontos nesse plano: um candidato que nasceu no Hawai, cresceu na Indonésia, é filho de um negro e uma branca, foi educado pelos avós brancos e estudou em Harvard tem, sem dúvida, muitos trunfos quando tentar seduzir a comunidade internacional.
Apontando Hillary como a candidata do sistema, aquela que já passou oito anos na Casa Branca e sete no Senado, Obama assume-se como o candidato do futuro, da mudança, falando em conceitos como «o regresso do bom senso».
Tudo isto confere interesse e relevo a Obama, além do facto de continuar a ser um campeão em recolha de fundos para a sua campanha (aí, está claramente à frente na corrida, mesmo contando com os candidatos republicanos), mas a verdade, nua e crua, dos números é esta: Barack está a uma grande distância de Hillary(10 a 20 pontos) e já viu John Edwards, o terceiro classificado, bem mais longe.
Ainda tem uma boa margem de crescimento, sobretudo no eleitorado negro — que olha para si com admiração mas, ao mesmo tempo, uma certa desconfiança, acusando-o de não ser... suficientemente negro no discurso e na postura — e nos jovens, que, historicamente, só se interessam pelas campanhas presidenciais a poucas semanas do seu fim.
Pode, por isso, acontecer que as sondagens, daqui para a frente, dêem números, no plano nacional, mais animadores para uma viragem no campo democrata que não estará posta de parte. É que Obama, na hora da verdade, pode aparecer com outro trunfo forte na manga: o de se mostrar, no duelo com os principais candidatos republicanos, mais forte do que Hillary Clinton.
Com a mais baixa taxa de rejeição de todos os candidatos até agora (apenas 33 por cento, contra 42 de Giuliani e 46 de Hillary), Barack Obama será sempre um candidato de respeito, tendo em conta que parte para a corrida com um universo de 67 por cento dos eleitores dispostos a votar nele, caso sejam convencidos.
Será que isto vai contar? Ou será que Hillary Clinton se manterá num registo seguro, muito previsível é certo, mas suficiente para se manter à frente?
É uma questão de escolha da mudança: se a agulha está, claramente, para a viragem para o campo democrata, a verdade é que é muito diferente uma escolha por Hillary ou Obama. Quanto maior for o desgaste dos eleitores em relação ao poder de Washington nas últimas duas décadas, maiores serão as esperanças de Barack, que poderá recordar, na hora da verdade, que uma eleição de Hillary Clinton significaria que a Casa Branca iria ser presidida por um Clinton ou um Bush durante... 28 anos!
Num país que, historicamente, sempre rejeitou as monarquias, talvez seja um bom argumento.
Publicado por André 20:57:00
2 Comments:
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Também simpatizo com o perfil de Barack Obama.
Contudo como já o expressei dar-me-ia um certo gozo (é o termo) ver Hillary ser eleita Presidente dos EUA.
Acho-a capaz. Consistente o bastante para chegar a final com grandes hipóteses.
Depois André, meu caro amigo, não receie de Hillary os mesmos riscos que de Bush ou de Clinton.
Seguramente, pelo menos alguns, estão garantidamente excluídos do seu perfil ...
Um beijinho
Maria
também não receio Hillary, bem pelo contrário: acho-a uma candidata consistente e acredito que poderá vir a ser uma excelente Presidente.
A questão é que, numa corrida como a americana, há escolhas muito diferentes na ementa e, por aquilo que poderá representar, creio que uma Presidência Obama seria mais interessante para a América e para o Mundo.
Significaria uma ruptura maior com os últimos anos, daria uma grande imagem de abertura -- seria, para simplificar os termos, a vitória da «América boa», a tal que foi silenciada nos anos Bush.
Apenas um esclarecimento em relação à visão dos anos Clinton: considero que Bill Clinton foi o melhor Presidente depois de Roosevelt e os escândalos sexuais, por muito sonoros que tenham sido, não apagam o balanço muito positivo no plano económico, social e nas relações externas (guerra na Jugoslávia à parte).
Simplesmente, acho que não seria positivo vermos no mais importante cargo do Mundo duas famílias a monopolizá-lo durante três décadas consecutivas...
Saudações blogosféricas (e já com acentos e cedilhas...),
André