Os intelectuais e os amadores diletantes

O livro de Andrew Keen, sobre a Internet, chama-se The Cult of the Amateur. A essência do livro, citado hoje, por José Pacheco Pereira no artigo do Público, já foi indicada no postal que antecede e contende com a validade da Internet como veículo de verdadeira informação e cultura. Quem ler Keen, fica atento à preocupação do autor com a falta de objectividade na Rede; com a disponibilidade do meio em permitir a qualquer um o acesso sem restrições, à publicação de conteúdos, muitos deles roubados e com a dificuldade que tudo isso cria aos artistas que vêem o futuro comprometido pelos amadores que nem sequer criam grande cultura, mas aproveitam obras alheias. Para Keen, na Internet, trivializa-se a cultura.

Não obstante, o autor, não se limita à escrita, porque tem um sítio na Internet e um blog de publicidade às suas obras. E o artigo na Wikipedia que lhe é consagrado, concentra links para outros sítios com artigos sobre Andrew Keen.

Num deles, Keen explica-se a Steven Colbert, num talk show de brevidades e superficialidades culturais. A entrevista, tem momentos hilariantes e nada de novo acrescenta à ideia básica difundida por Keen: a vulgaridade e a mediocridade tomaram conta da…tv, perdão, da Internet.

Segundo um artigo do Sunday Times, de Julho do ano corrente, Keen acha que aquilo que define as mentes brilhantes, é a habilidade em passar além do vulgo, da multidão e das ideias correntes. Para Keen, a Internet não contribui para a expansão desse desiderato e que caminhamos para uma ditadura de idiotas formados na Rede. Todas as informações e ligações aqui recolhidas, foram-no no espaço de alguns minutos, de borla e muitas mais existem no mesmo sítio.

Será que Keen tem alguma razão no que diz e escreve? E, melhor ainda: que pretende Andrew Keen ( e já agora o nosso Abrupto)? Destruir a Internet? Nã…querem mais controlo. Controlo, sim. Censura. Repressão de ideias. Curto-circuito a certas veleidades anónimas. A gente percebe onde querem chegar. Não se percebe bem é porquê.

Num artigo publicado na última edição da revista L´Histoire, Pierre Assouline, jornalista e escritor, escreve sobre os intelectuais e conta a história de duas revistas de papel – a Prospect de Londres e a Foreign Policy de Washington.- que se associaram há dois anos para decidirem quem seria o maior intelectual de sempre, no mundo ( anglo-saxónico, na prática). O primeiro escolhido na votação de 5000 votos expressos e a partir de uma lista, ficou, muito destacado, Noam Chomsky, à frente de Umberto Eco, Richard Dawkins,, Vaclav Havel, Jurgen Habermas, Eric Hobsbawn, Timothy Garton, Paul Kennedy, Gilles Keppel e outros.

Na Alemanha, há alguns meses atrás, a revista Cicero, graficamente uma pequena maravilha, fazia o mesmo tipo de sondagem. O intelectual que figura à cabeça, destacado e à frente de Peter Handke, Martin Walser e Gunter Grass? Joseph Ratzinger, o Papa actual.

E se alguém fizesse o mesmo em Portugal? Que lista se proporia para os votos? E há alguma revista tão prestigiada como aquelas, para financiar a sondagem? E se o fizessem na Internet? É que na ausência de revista ou jornal suficientemente sérios ou prestigiados, para tal tarefa, a Rede ou no caso, um blog, poderia sem grande incómodo, suprir os suportes em papel, dos media tradicionais. Nos USA ou na Alemanha, pode nem ser assim. Aqui, infelizmente, é. A Rede em Portugal, é o refúgio, para quem pretende sair da mediocridade dos media que copiam da Rede muita coisa que nem citam; que escrevem asneiras sobre assuntos que não dominam e que não informam como deve ser, em quase nenhum assunto. E nisso, JPP, parece não querer elaborar muito. Prefere citar autores ressabiados, estrangeiros e que pouco ou nada nos dizem.

Publicado por josé 20:58:00  

18 Comments:

  1. Luís Negroni said...
    Pacheco Pereira, por uma vez, tem razão (os gurus da direita, mesmo os desprezados pela mesma, também têm direito aos seus 15 minutos de razão): A validade da Internet como veículo de verdadeira informação e cultura é nenhuma.
    Eu, anónimo anódino anarquista de esquerda, já estava farto de saber isso e por isso mesmo é que só uso a internet para aquilo que ela serve realmente: Javardar.
    josé said...
    Bem me parecia.Não quer mudar de poiso? Por exemplo, tentar no causa nossa essa actividade de javardice? Ou até no tal abrupto? Ouvi dizer que publica javardices sob forma de cartar ao director...
    Luís Negroni said...
    Eu poiso onde muito bem entendo. Tal como as moscas, tanto poiso num manjar como num monte de bosta. "Capice"?
    zazie said...
    ahahaha

    Porque será que não se nota essa liberdade a pousar em Abruptos e Causas Nossas?
    Flávio said...
    «Para Keen, na Internet, trivializa-se a cultura.»


    A melhor maneira de não trivializar a cultura é deixá-la trancada em casa e não mostrar a ninguém.
    josé said...
    De preferência em bibliotecas laboriosamente recolhidas em alfarrabistas e para consulta privada e que ninguém acede ( et pour cause).

    A Internet, é o contrário disso: é a disponibilização do que pode diponibilizar-se.

    Não é possivel por em linha a Hypnerotomachia, a não ser o texto e imagens. Mas...isso é apenas o contexto e o resto, a Internet nunca chegará lá. Não tem cheiro, nem tem sensibilidade na ponta dos dedos e o olhar é específico.
    zazie said...
    José, por acaso a Hypnerotomachia até teve um excelente aproveitamento que só o virtual consegue dar. Aquelas imagens em movimento, por exemplo, e os links para a iconografia com ela relacionada.

    Dantes, para se ter acesso a uma coisa dessas, o que era preciso viajar e as autorizações especiais necessárias.

    E dantes foi há bem pouco tempo. Só por isso, por essa disponibilização de arquivos espantosos, a net foi a grande invenção do nosso tempo.


    Claro que ao resto nunca chegará. Mas não se chegava mais a esse resto sem ela.
    zazie said...
    A Hypnerotomachia do Poliphili até foi um excelente exemplo. E foi o JPP que fez post sobre ela.

    Quem é que conhecia? como era possível falar dela e mostrar todas as relações aos rebus e hieroglífica do Renascimento antes da net?

    Agora até já vem na Wikipédia
    ":O)
    josé said...
    Tomemos um caso singular e que me diz muitíssimo: o Sudário de Turim.
    É um assunto que me interessa pelo menos desde 1977. Descobri-o já nem sei como, nos anos setenta. Depois, uma revista americana, a Rolling Stone, em Janeiro de 1979, fez do assunto motivo de capa: o Lençol de Jesus, era o título com uma imagem do actor Richard Dreyfuss a apelar à atenção do comprador de quiosque.

    Esse caso particular do Lençol de Turim, é impressionante, porque ao longo dos séculos, não foi possível estabelecer uma ligação causal e cientificamente comprovada da sua autenticidade. Nem hoje, tal se revela possível. O lençol é uma questão de Fé e provavelmente será a relíquia mais importante da cristandade, mesmo que nem seja de Cristo.

    Seja como for, este assunto, dantes era tratado em revistas por ocasião de mais uma análise carbono 14 e das discussões científicas provocadas.
    A TIme dedicou-lhe uma capa e um artigo de fundo. Outras o fizeram.
    Com a internet, tornou-se possível ver fotos fantásticas do lençol, artigos esquecidos, opiniões avulsas e informação preciosa sobre isso.
    Há sites na Rede inteiramente dedicados ao assunto e discussões sobre isso.

    Outra coisa:

    Em Outubro de 1976, comprei uma viola acústica semelhante àquelas que via nas revistas americanas.É uma viola japonesa, imitação das Martins americanas.
    Durante anos a fio não consegui saber nada da marca - Kiso Suzuki- nem do que significava a viola.

    Hoje em dia, bastga colocar o nome no Google e vamos ter a lugares que nos informam quem é o fabrivante, porque o fez e ainda, mais incrível ainda, ler opiniões de pessoas que compraram na mesma altura esse específico modelo de guitarra acústica.
    Por exemplo, aqui
    E até permite que se troquem informações e opiniões sobre este assunto particular.

    Outro caso particular:

    Durante anos e anos, procurei informações sobre assuntos particulares do meu interesse musical e artístico, nas ilustrações, etc etc.
    O que a Rede actualmente proporcina é simplesmente incrível e mais incrível ainda poder confiar, porque é mesmo confira em alguém que se desconhece totalmente e vive no outro lado do mundo e está disposto a vender-nos uma coisa que nos interessa e em mais nenhum lugar é possível encontrar e a ebay nos permite.

    Isto, a mim, parece-me o paraíso de um mercado global com regras claras e aceites por todos e sem vigarices ou chico-espertices. Tenho aproveitado esse local, para conseguir coisas fantásticas com que sempre sonhei e agora se tornam possíveis, como por exemplo completar coleções de revistas, adquirir discos completamente esgotados e saber coisas sobre assuntos diversos.

    Quando me lembro disto, quero que os Keen e os Pachecos vão bugiar, com os seus medos de perder algo que não se sabe muito bem o quê, mas se começa legitimamente a desconfiar.
    zazie said...
    Completamente certo, José.

    Mas, se formos a ver, o JPP nem falou da net, falou da blogosfera por outras palavras. E foi desencantar esse sujeito para reforçar a grande pancada recorrente. O tal medo do proletariado que pode fazer sombra aos encartados, que não conseguem ser proletariado anónimo com interesse.

    De resto, como muito bem disse, o problema é pedagógico e não é com pedagogia de educativa para a juventude que eles estão preocupados.

    E ele bem acentuou a crítica à imprensa, de uma nova imprensa de causas, mais intolerante que a oficiosa. Este é que é o problema dele. A manutenção do status quo.

    De resto, aquela historieta da falisficação dos contadores de blogues é tão primária que até mete dó. Como se não tivesse exemplos nos media e na política de verdadeiros escândalos.
    jcd said...
    Por falar em Keen

    http://www.samizdata.net/blog/archives/2007/09/samizdata_quote_231.html
    josé said...
    Andrew Keen: Are you comparing the Instapundit, the idiotic crazy libertarian ex-law professor, to Polly Toynbee and Robert Fisk? They are my heroes!

    Adriana Lukas: No, I am not comparing Instapundit to Polly Toynbee or Robert Fisk. That would be unfair to Instapundit.

    - Adriana Lukas, speaking at a debate at the Front Line Club.


    No video a la tube, com Steve Colbert, o tal Keen encrespa-se com o gajo para lhe dizer que sabe mais de internet do que ele.
    Não, não sabe, diz-lhe Colbert. E acresenta que há partes em que ele sabe muito mais do que Keen. Este cai na armadilha e pede-lhe para concretizar que partes são essas...
    Resposta de Colbert, a tocar com os dedinhos na mesa, simulando o teclado: aquelas que escondo e apago no registo do histórico...
    Luís Negroni said...
    O sudário de Turim não é uma questão de fé, é uma questão de fraude.
    josé said...
    luís:

    Não o sabia perito nessa matéria, mas creio que essa afirmação nem é uma fezada: é um palpite avulso.
    Luís Negroni said...
    Caro José, quero dar-lhe a preciosa (e grátis, veja lá) informação, de que, na sua querida e absolutamente sagrada net, em qualquer motor de busca, encontrará dúzias de links como aquele cujo endereço reproduzo em rodapé, onde é apresentado o trabalho de cientistas, que provaram de forma categórica e irrefutável, a falsidade do "sudário de Turim". Espero que não ignore só por pretender permanecer na sua "doce" e "santa" ilusão.

    http://www.geocities.com/paraciencia/sudario.html
    josé said...
    Então, pelos vistos, neste caso, o Keen tem razão e noutros, já não terá.
    É essa a sua razão? Fraca é.
    lusitânea said...
    Não me meto nisso de citações de pretensos analistas/visionários acerca do mau/bom uso da internet.Eu também gostaria que em eleições políticas só votassem tipos esclarecidos e isso não acontece... aproveitam tudo...
    O facto é que o controlo da informação está incontrolável o que só pode chatear os tipos com maus fígados,incompetentes e gatunos...
    Eu que sou um merdoso anónimo estou a desforrar-me de anos a comer a "palha" que me serviam, estou a usar os mesmos métodos que muitos já utilizaram e de que agora dizem mal... mas lá diz o ditado se com ferro matas com ferro morres!
    Nuno Calisto said...
    A fé é incompativel com a razão, e o José deu-nos nestes comentários, tristes ilustrações desse facto.

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