Impudor
terça-feira, maio 08, 2007
Há quem pergunte de que é que se ri, este indivíduo...
Nas circunstâncias presentes será difícil de dizer e nem o próprio, se calhar, o saberá muito bem. Não é com certeza da notícia que lhe esmaga o retrato e ampara o cabeçalho; não será também da que lhe vigia o flanco, vinda do Brasil.
Poderia pensar-se que o riso viria da alegria de doar medula óssea a desvalidos da sorte. Nem isso. Quem doa, fá-lo de modo anónimo. Aqui, para além da doação serôdia, subsiste a publicidade ao acto, procurada acima de tudo, juntando-se a utilidade do mesmo à agradibilidade do gesto humanitário reconhecido, numa falsidade de anúncio publicitário.
A fronteira entre a obscenidade mais pura e a causa humanitária mais nobre, aqui, é fiscalizada pela vergonha inexistente.
O riso é, por isso, mera circunstância atenuante da impunidade reinante.
Publicado por josé 15:37:00
E a quantidade de poltõezinhos que vão atrás.
Há-de ser genético. É impossível que tanta falta de vergonha seja apenas amor ao partido
Ele que já nos mostrara, e nesse particular bem, que a votação em político não depende de pessoa com quem se diga que durma, apenas continua a sua função pedagógica : desta feita, quer ensinar a doar.
" Doe-se até , a medula ! " Parece bem. Pelo menos, temos tema em auditório...
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O CRITÉRIO DE J.S. (João Semana)
COMO SUCEDE COM TUDO nesta vida, também a publicidade feita em torno da dação de medula óssea por José Sócrates pode ser vista sob muitos ângulos.
Segundo um deles, e tendo em conta que se trata de um acto penoso e altamente meritório, há que reconhecer que é muito importante haver figuras públicas a dar o exemplo - nestas, como noutras coisas -, pelo que toda a publicidade é bem-vinda.
Mas, e só por curiosidade, aqui fica um outro ponto de vista:
Tive a sorte de ter tido, como professor de Português (no Liceu Camões, entre 1958 e 1960), Vergílio Ferreira que um dia, a propósito de «As Pupilas do Senhor Reitor», nos perguntou se sabíamos como é que João Semana dava as suas esmolas. Ninguém respondeu - até porque, sendo ainda garotecos, nenhum de nós tinha lido a obra.
O mestre, então, deu-nos a resposta - que cito de memória -, da qual, evidentemente, queria que aproveitássemos a moral para a nossa vida futura:
«Fazia-o sem ninguém ver, pois a solidariedade, quando é verdadeira, procura ser o mais discreta possível».
Vamos pelo lado mais favorável. O Primeiro-ministro, sensibilizado por alguns amigos mais ou menos chegados ( caso de Durte Lima), achou por bem sensibilizar a população para o problema da doação ( ou dação) de medula óssea e por isso, apadrinhou a campanha pessoalmente , poupando grossa maquia ao Ministério da Saúde, em publicidade.
Este é o lado positivo que estou certo também contou.
Esqueceu-se, porém, de uma coisa: em política o que parece, é. E o que inevitavelmente parece é que o primeiro ministro agarrou esta oportunidade com ambas as mãos para dar uma imagem positiva de si mesmo, depois da imagem que está irremediavelmente estragada depois dos episódios do diploma e da falsidade documental que o acompanha.
Assim, um primeiro ministro, com assessores de imagem tão prestimosos como os que tem, tem de saber isto: este gesto público pode ter duas interpretações e uma delas, é simplesmente obscena.
Mesmo assim, correu o risco de assumir a obscenidade possível, porque sabe que em Portugal o que conta é a imagem geral e essa conseguiria sempre passar: a de simpatia.
Mero calculismo, portanto, o que só reafirma a obscenidade do gesto.
É esta a minha interpretação.
o acto do primeiro ministro sensibilizou-o para o problema? se sim, siga-o.já terá valido a pena.
o resto esqueça, não interessa,mesmo. nem aos doentes nem às familias, nem a ninguém.
infelizmente há sempre linguas afiadas prontas criticar, mas poucos braços para estender e ajudar.
cumps.
Não preciso de um primeiro ministro, como este, ainda por cima, para me dizer o que tenho e fazer civicamente.
Aliás, o gesto deste indivíduo enoja-me e provoca-me efeito contrário ao pretendido, quando penso no outro lado da questão.
E tenho a certeza que existe esse outro lado.
Já agora, pensaria duas vezes se o indivíduo decidisse doar...um rim!
Lá chegaremos...
Este tipo lembra-me cada vez mais o Collor de Melo.
Claro que, quando alguém faz coisas boas, há sempre alguém que vai ver se há alguma outra intenção, menos nobre, por trás.
Ora, o critério para se saber se essa suspeita é justa ou justificada é relativamente fácil:
A pessoa em causa mente com frequência? Preocupa-se demasiado com a imagem e com o que pensam dela? É um político em dificuldades?
Apliquemos essas questões ao caso presente...
José
peço desculpa se a minha resposta lhes pareceu algo agressiva, mes sendo um tema que me é tão caro, não só pela profissão como por experiencia pessoal, para mim, QUALQUER iniciativa que ajude estas crianças (e até adultos) é válida. se foi feita com segunda intenção, é-me um pouco indiferente.
levar lá um político ou um jogador de futebol, tanto me faz. a minha intervenção é nesse sentido, espero que me tenham entendido..
um abraço
No fim de contas, o resultado é que conta, também. E se este primeiro-ministro se serve disto para promover a causa nobre, que seja.
Porém, não deixa me me enojar, esta atitude.
Estou certo que o Cavaco conseguiria melhor performance...
Claro, compreende-se perfeitamente.
Mas como, neste caso, se tratou de um acto [que acabou por ser] mediático e público, é natural (e desejável) que seja observado pelos vários ângulos possíveis pelas pessoas perante as quais foi exposto.
No entanto, se a torna pública e mediática, já não é bem assim - até porque é ele próprio que deseja os holofotes. E, se os deseja, está sujeito a que, com luz a mais, se veja tudo - incluindo o que não quer.
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Imagine-se um político que, em plena crise de credibilidade, chama a C. Social para testemunhar que vai apagar fogos ou ajudar velhinhas a atravessar a rua. Claro que as velhinhas (se não forem forçadas - como na anedota do escuteiro que as atravessava à força), decerto agradecerão.
Costuma-se dizer que o que importa é a intenção. Pois é...
Pedro Abelardo, na Idade Média. Um rebelde.
se há ocasiões em que agradeço que os políticos não vão ao hospital como anónimos é EXACTAMENTE ESTE.
sabe o que me incomoda? quando vão ao hospital por qualquer queixa pessoal e se fazem anunciar para que tudo esteja a postos. isso sim, incomoda-me infinitamente mais :)
E a inversa, não?
«O défice orçamental muito inferior ao previsto também é um anúncio publicitário?»
Não misturemos as coisas, pois o défice orçamental tem a ver com o exercício de funções governativas. Se é bom e Sócrates o anuncia, faz ele muitíssimo bem - qualquer de nós faria o mesmo.
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Mas não é esse o caso a que se refere este post:
O que nele se comenta é a publicitação de um acto privado, a que os holofotes tiraram (pelo menos a meu ver) grande parte do valor - precisamente porque me permito duvidar que fosse praticado na ausência deles.
Quando uma pessoa legitima tantas dúvidas a seu respeito que não esclarece , não pode pretender servir de referência a ninguém seja para o que for.
Em tais circunstâncias mais que falta de pudor e de reserva , é um desrespeito usar a necessidade dos outros desta forma.
Alguém acredita, mas sinceramente, que este gesto determine qualquer outro cidadão a fazer o que quer que seja ? Claramente , não ! Era dispensável.
Mas, também já lhe demos demasiada atenção, não ?...