o começo de alguma coisa
quinta-feira, abril 19, 2007
Num jogo, no final, só conta uma coisa - o resultado, é verdade. Mas, para haver jogo tem que haver, pelo menos, duas partes, que concordem num número básico de regras - nem que seja em regras mais ou menos ocultas para combinar o resultado, preservando o 'espectáculo'. Dito isto, e nos próximos tempos, por estas bandas o jogo acabou. Não interessa se Sócrates cai, ou se se arrasta moribundo. Não interessa, porque nunca mais vai haver um único debate político com seriedade. Sócrates vai conseguir fazer o que for combinado debaixo da mesa pelos interesses fáticos do costume, isto é apenas e só o que o deixarem fazer. Quanto ao resto - isto é tudo o que é essencial - népias, porque à mínima movimentação será acusado de batoteiro. À primeira vista isto não é grave, dirão os cínicos, porque os partidos sempre jogaram debaixo da mesa. Sim, sim, só que em primeiro lugar parte da beleza do jogo era isso supostamente não dar muito nas vistas, e em segundo lugar era suposto a dita sociedade civil aparecer, quanto mais não seja para compor a fotografia. À custa da palhaçada da Independente, José Sócrates, e os seus acólitos de ocasião - mais preocupados em salvar o seu próprio pêlo, que a sua credibilidade - vieram simplesmente confirmar que as regras, as suas métricas são diferentes das dos meros mortais. É por isso que é impossível, demagógico e lírico, com eles qualquer debate sobre a discussão de questões políticas, puras e duras: o Aeroporto Internacional da Ota, os SAP, o encerramento das urgências, o PRACE, o QREN, o Programa Novas Oportunidades, o referendo e o TCE, as auto-estradas sem portagens, o Complemento Solidário para Idosos, o desemprego, o crescimento do PIB, etc e tal. Qualquer debate que haja nunca será com eles, será apesar deles, até por via das, agora claríssimas, regras. Poder ser o começo de alguma coisa.
Publicado por Manuel 23:23:00
Ainda durante algum tempo depois de sair da tropa, não conseguia que me saísse do ouvido a lengalenga do «Um-dois-esquerdo-direito».
Mas parece que o trauma é mais generalizado pois, ainda hoje, há muita gente que só consegue pensar assim.
P:«Há, ou não, aquecimento global?» «O que acha do TGV e do Aeroporto na Ota?» «E as SCTU são vantajosas para o país?»
R:«A verdade pouco interessa. O importante, se eu sou de esquerda, é ver o que diz a direita e contrariá-la - ou vice-versa».
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E é assim (com recurso a esse raciocínio primário), que pessoas lúcidas, responsáveis e bem informadas nos querem convencer que toda esta bandalheira da UnI e dos seus "salpicos" (inconvenientes, há que reconhecê-lo...) são um problema de direita versus esquerda...
Ou, então, fazem como o idiota que, quando lhe apontam a Lua, fica a olhar para o dedo.