o caminho é só um...

Altura de fazer ainda mais perguntas

Em vez de imaginar teorias da conspiração inverosímeis ou de espalhar suspeitas sobre as motivações deste jornal, era mais sensato que o primeiro-ministro tivesse começado por esclarecer tudo desde a primeira hora

Quando o PÚBLICO decidiu publicar os primeiros resultados da investigação sobre como o primeiro-ministro obtivera a sua licenciatura, fizemos questão de sublinhar que nos seria sempre absolutamente indiferente saber se José Sócrates era engenheiro, licenciado em Engenharia, bacharel ou se tinha ficado pela antiga 4ª classe. Coisa bem diferente era a de saber se havia procedido de forma correcta para obter o seu título universitário.
Sendo assim, o PÚBLICO apenas procurou respostas para as acusações que circulavam, assinadas e não anónimas, na net. A análise que realizámos ao dossier da licenciatura realizada na Universidade Independente permitiu, contudo, detectar um conjunto importante de falhas. Novas dúvidas sobre a transparência de todo o processo foram levantadas, uma semana depois, pelo semanário Expresso, que dava também conta dos esforços do gabinete do primeiro-ministro para, falando para jornalistas e directores, impedir que a notícia tivesse maior repercussão.
Hoje, o PÚBLICO acrescenta mais dados a este dossier. Por um lado, um documento do Ministério da Educação indica que, na UnI, não foi concluída nenhuma licenciatura no curso de Engenharia no ano em que José Sócrates obteve o seu diploma. Um lapso dos serviços dessa Universidade? É possível. Mas então por que motivo não respondeu o gabinete do ministro da Ciência e do Ensino Superior às perguntas que lhe foram dirigidas pelo Expresso? É que duas delas, pelo menos, permitiriam esclarecer algumas das questões suscitadas no nosso trabalho, como a de saber se o MCTES tinha conhecimento da "lista dos docentes relativa ao curso de Engenharia Civil entre os anos 1994-1997" (...), "de acordo com as obrigações previstas na lei", e se sabia "que disciplinas eram ministradas por cada um dos docentes".
Como se sabe, uma das dúvidas no processo da licenciatura na UnI era o facto de quatro das cinco cadeiras terem sido leccionadas pelo mesmo professor, António José Morais. Ora sucede, como hoje revelamos, que esse docente distribuiu um currículo muito detalhado onde referia só ter leccionado duas cadeiras na UnI em 1996 (o ano em causa), sendo que só uma delas coincide com as do diploma do primeiro-ministro. Trata-se do docente que ocupou, durante os governos PS, altos cargos na Administração Pública que suscitaram "casos" que levaram à sua demissão. Contra o mesmo professor corre também, neste momento, um processo disciplinar na Universidade Técnica de Lisboa.
Tudo o que estará mal neste processo pode ser da exclusiva responsabilidade da Independente. José Sócrates pode estar a ser vítima não de um ataque calunioso, como diz, mas da opção errada que fez ao escolher aquela escola. Disso e das imprecisões na nota biográfica que colocou no Portal do Governo. Quem nada tem a esconder tudo pode explicar, nomeadamente: por que motivo trocou o ISEL, uma escola pública prestigiada, pela Independente, para terminar a sua licenciatura? Por que motivo consta do seu processo uma nota manuscrita numa folha com o timbre da Secretaria de Estado do Ambiente e dirigida ao reitor da UnI? Por que começou por se autodesignar engenheiro e, depois, passou a licenciado em Engenharia Civil? Por que mantém no site a indicação de que fez uma pós-graduação em Engenharia Sanitária na Escola Nacional de Saúde Pública, pós-graduação que nunca existiu, depois de o próprio ter dito ao PÚBLICO que apenas frequentou nessa escola um curso para engenheiros municipais? Por que enviou para a SIC uma nota com o seu currículo académico onde não consta essa pós-graduação, mas antes um MBA em Gestão pelo ISCTE, do qual ainda ontem não se dava conta no Portal do Governo?
Em vez de imaginar teorias da conspiração inverosímeis ou de espalhar suspeitas sobre as motivações deste jornal, era mais sensato ter esclarecido tudo desde a primeira hora. Para não permitir que restassem quaisquer dúvidas. E para evitar muitas horas perdidas ao telefone, designadamente para todas as pessoas do PÚBLICO ou ligadas ao PÚBLICO com quem falou desde que chegaram ao seu gabinete as perguntas do jornalista Ricardo Dias Felner.

José Manuel Fernandes, editorial do Público de hoje.

Até por não ter grande consideração pelo director do Público, não posso deixar de transcrever o editorial de hoje, acima. Por uma vez, um bocadinho tarde - é certo - demonstrou clarividência, coluna vertebral, e dado o país que somos - vá lá - alguma coragem. Está lá tudo. Quanto a Sócrates, já passou o tempo em que podia ter saído por cima, de uma forma mais ou menos airosa, à Clinton. Tentou fugir para a frente, tomar um País inteiro por parvo e imbecil. Não só não conseguiu, como o tiro lhe está a sair pela culatra. Agora a questão já não é saber se, é saber quando... E sim, eu confesso que numa ou duas coisinhas, sempre julgava que o actual primeiro-ministro fosse um tudo nada mais lúcido que o Dr. Lopes. Não é.

P.S. Parece que o Dr. Vitorino, em vésperas da Presidência Europeia da União, anda mais que feliz. Já o Dr. Costa, irmão do outro, anda apreensivo - é-lhe cedo de mais, quanto ao Eng. Coelho, anda precupado, como se viu ontem, na SIC. É a vida.

Publicado por Manuel 14:33:00  

2 Comments:

  1. naoseiquenome usar said...
    Parece-me é que já é altura de o visado ter vergonha e de o país tomar consciência da vergonha que se não tem!
    Politikos said...
    Ó meu caro, o Coelho não «engenheiro», é «dr.»...
    Bem sei que «coisas» de «eng.º» é que estão a dar, mas tb não vamos correr tudo a «eng.º»...
    ;-)

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