Universidades à moda de Fafe

A ler, o artigo de Rui Ramos no Público, sobre a “corrupção”, em sentido lato, de moral educativa.
O resumo descrito, sobre o que realmente acontece em Portugal, neste campo minado, deveria fazer corar da maior vergonha os teórico-práticos do direito penal e processual penal; os legisladores que lhes compram as ideias e os aplicadores lenientes, salta-pocinhas e virtuosos da interpretação a favor de corruptos.
Rui Ramos circunscreve o fenómeno do combate repressivo à corrupção em Portugal, como um “negócio fácil das insinuações, denúncias, queixas-crime, sindicâncias e auditorias. (…) A ineficiência das polícias e dos tribunais garante que há sempre investigações, mesmo sem provas ( como no caso Freeport em 2005), mas que raramente há conclusões ( dos 1521 inquéritos entre 2002 e 2005, só 407 foram concluídos). A “corrupção” em Portugal é sobretudo um espectáculo para os jornais e televisões, em que ninguém é inocente mas também ninguém é culpado”.
Por outro lado, o artigo de Vital Moreira no Público de ontem, transcrito em parte, no blog de apoio às causas, pode explicar uma das manifestações deste fenómeno, através da análise cortante e sem contemplações, sobre o ensino nas “universidades dependentes”.
Torna-se óbvio que as opiniões de Vital Moreira nesta matéria, o de(s)nunciam, como académico reputado numa área em que é autoridade: a autoridade constitucional do Estado. Ao mesmo tempo, Vital, a escrever assim, colecciona rancores contidos e com futuro efeito seguro, de todos aqueles que são objectivamente visados nas prosas verrinosas contra o ensino de pacotilha e as universidades à brasileira, montra da nossa desgraça actual.
Escreve Vital que “com excepção da Universidade Católica, o ensino superior particular desenvolveu-se em Portugal desde os anos oitenta do século passado de forma desregulada e sem controlo público, aproveitando o súbito alargamento da procura e a incapacidade do sistema público para lhe corresponder. Quando a lei veio proceder ao enquadramento desse subsector, já se tinham criado e consolidado situações que limitaram os requisitos e as exigências legais dessas instituições, quer em termos de predicados institucionais e financeiros das entidades instituidoras, quer em termos de organização e de autonomia dos estabelecimentos em relação àquelas. Como se não bastasse esse défice de regulamentação normativa, sucedeu-se uma generalizada falta de supervisão, que permitiu a criação de numerosas situações à margem da lei e de incumprimento impune dos requisitos estabelecidos.”

Este pequeno excerto do artigo de Vital, é suficientemente eloquente, dada a qualidade de quem o escreve, um académico respeitado e docente de sempre, na prestigiada Universidade de Coimbra ( apesar das pós-graduações, para brasileiros e outros interesseiros, induzidas sob o manto diáfano de associações criadas ad hoc) para apresentar o panorama trágico do ensino superior privado.
Quantos docentes sem qualquer qualificação particular, arranjaram poiso rendoso, no seio destas cooperativas? Vital adianta: “Foi assim que proliferaram estabelecimentos e extensões por esse país fora sem as mínimas condições materiais e pedagógicas: que se multiplicaram formações de lápis e papel em detrimento de formações tecnológicas e científicas; que entraram em funcionamento cursos sem autorização prévia; que se ultrapassaram frequentemente os números de vagas autorizadas; que se criaram formações pós-graduadas- incluindo mestrados e doutoramentos- sem as condições exigíveis em qualquer país europeu”.

Quem lê esta catilinária vitalícia, nem suspeita de quem esteve nos governos dos anos oitenta em diante. E contudo, diz Vital, “ tudo isto era evidente desde cedo e tudo ficou comprovado num inquérito e num relatório produzido por uma comissão de especialistas no final dos anos 90, que mostrou de forma concludente as deficiências de instalações, a obnubilação da distinção entre escolas politécnicas e universitárias, as ilegalidades em matéria de cursos não autorizados e de excesso de vagas, a falta de bibliotecas e de laboratórios, o incumprimento das exigências legais no que respeita ao número de professores doutorados e de docentes em dedicação exclusiva, a passividade e o laxismo da tutela governamental”.
Está dito! Quem governou, entre os anos 80 e os 90 do século passado, cum raio?!
Quem responde a este requisitório?
Marques Mendes? Não. Não se espere dali qualquer resposta. Marques Mendes, nessa altura andava ocupado, na sua terra natal de Fafe, em promover uma espécie de universidade por correspondência que formou uns tantos alunos esforçados, ao fim de semana, habilitando-os à efectividade do ensino secundário. Antes professores de trabalhos manuais, do ensino preparatório, entrados no ensino logo depois do 25 de Abril, aproveitando a abertura de vagas, generosas como nunca se viu e que se traduziu nas actuais desgraças no ensino secundário, ficaram aptos em poucos meses, para entrar no grosso caudal do ensino efectivo. A escola de Fafe, foi percursora destes ensinamentos e as cooperativas vieram logo a seguir. Com o resultado que está à vista.

Ora bem. Falávamos então, no artigo de Rui Ramos e na corrupção moral, não era? O historiador cita os antigos clássicos que faziam a correspondência entre a corrupção e a degradação da qualidade do governo, fosse qual fosse a sua origem.
Estamos bem conversados. Espero que Vital Moreira, perceba o resto da história e deixe de anunciar medidas, aprovadas por licenciados nestas universidades dependentes.
Não tenho qualquer esperança, devo acrescentar.

Publicado por josé 20:08:00  

6 Comments:

  1. lusitânea said...
    É o que eu digo estes desgovernos andam sempre a pisar as mesmas uvas, isto é fazem as asneiras e depois meia duzia de anos depois andam a remendá-las... sem fazerem nada que se veja.
    Claro que "promovendo" pessoal com a "liçenciatura" de corte e costura a professor entre outros exemplos deu no que deu não é?E depois é a massa trabalhadora que é iletrada...
    A desgraça deste país é que este mercado de valores está universalizado.Não exisem alternativas!
    Carlos Medina Ribeiro said...
    Imagino que devem faltar alguns algarismos no 2º parágrafo deste "post", onde se lê:

    «...dos 151 inquéritos entre 200 e 2005, só 407 foram concluídos...».
    josé said...
    Obrigado, C.M.R.. Já corrigi.

    A propósito: acho que toda esta chldra, sobre as universidades privadas e cursos de conveniência, começou em Fafe, no tempo de Marques Mendes, no Governo cavaquista.
    Alguém se lembra?
    Carlos Medina Ribeiro said...
    Caro José,

    Pode ser que seja só no meu computador, mas a gralha mantém-se:

    «Rui Ramos circunscreve o fenómeno do combate repressivo à corrupção em Portugal, como um “negócio fácil das insinuações, denúncias, queixas-crime, sindicâncias e auditorias. (…) A ineficiência das polícias e dos tribunais garante que há sempre investigações, mesmo sem provas ( como no caso Freeport de 2005), mas que raramente há conclusões ( dos 151 inquéritos entre 2002 e 2005, só 407 foram concluídos)».
    Carlos said...
    Pois mantém, e agradeço que mo corrija. Depois de escrever os textos, no word, geralmente a correr e sem, muitas vezes, vir atrás emendar, ficam gralhas, erros, lapsos e incorrecções.
    Algumas vezes, só ao publicar a primeira vez, dou conta dos gatos e ás vezes corrijo, uma, duas e mais vezes. Quando corrijo, às vezes acrescento, edito e apago.

    Estou certo que outros o fazem igualmente, mas tenho este defeito de fazer as coisas a correr e ter grande dificuldade em rever o que ficou escrito.
    Acontece aqui e no trabalho profissional.
    Deve ser caso psiquiátrico...ahahahah!

    Obrigado pela correcção. VOu emendar.
    josé said...
    E agora por uma estranhíssima confusão, apareço a escrever como carlos, quando não sou.

Post a Comment