a remar por uma outra maré...

o "sr." Bin Laden já está a ganhar
Segunda-feira, Julho 11, 2005

Passou na TSF, no Fórum, esta manhã. Um proclamado especialista na Sociedade da Informação, docente da Nova de Lisboa, não se coibe de afirmar que "entre privacidade e segurança, escolhe a segurança". Outro papagaio já defende, como método de combate ao terrorismo, um sistema agilizado de denúncias à boa maneira da STASI da defunta RDA. Assim vai a Europa, assim vai Portugal.

O problema é que a tecnologia, as máquinas, nunca irão fazer um serviço que é essencialmente humano. Nenhuma overdose de tecnologia derrotará o terrorismo, nenhuma. Nesta sociedade mais ou menos digital em que vivemos é trivial, ou quase, alguém manter-se invísivel e não é por acaso que os Estados Unidos, detentores da mais avançada tecnologia na área, e conhecidos por nem sempre se preocuparem por aí além com a burocracia, ainda não conseguiram caçar o "sr." Bin Laden.

A luta contra o terrorismo não é uma luta asséptica, cinzenta, é uma luta de pessoas contra pessoas, de um conceito de civilização contra outro, totalitário e de terror. Não é preciso ser-se gurú da NSA ou da Mossad para se saber que o que conta, muito mais que um qualquer Big Brother à escala global, é ter gente no terreno, na lama, infiltrada mas, mesmo assim, o dislate continua.

Democracia é sinónimo de liberdade, e liberdade é sinónimo de privacidade, não faz sentido sequer pensar em segurança se não se tiver democracia, liberdade, e privacidade. E não fazendo qualquer sentido o "sr." Bin Laden já está a ganhar, porque quase que está a conseguir obrigar-nos a moldar o nosso mundo à imagem do dele - fechado e totalitário. Ora, eu, entre a liberdade e a segurança escolho obviamente a liberdade. E se isso implicar mais uns atentados bombistas, e não implica, que venham os atentados, são afinal um preço muito baixo a pagar.



A prosa acima foi escrita aqui há pouco menos de dois anos e mantém-se plenamente actual (esta também...) A um observador desatento pode até parecer que está absolutamente na linha da improvavel coligação, como lhe chama Paulo Gorjão em defesa dos 'direitos, liberdades e garantias', por causa do SISI. Não está, e a onda que alguns querem formar é triste e lamentável, porque mais não está do que a impedir um debate sério e global, e minimamente productivo, sobre uma matéria estruturante. Alguns, como Vasco Pulido Valente, escrevem dramaticamente sobre a matéria como se se estivesse em Inglaterra e as medidas deste Governo fossem algumas das pretendidas pelo Governo do Dr. Blair, outros berram porque sim. Todos tresleêm um ponto essencial, que me parece uma evolução sóbria e positiva - acabam-se os poderes e as hierarquias difusas e passa tudo a depender (sem intermediários) do Primeiro-Ministro. Dir-se-á que depender 'só' do PM é mau, e é verdade. Mas também é verdade que deixam de existir desculpas para 'falhas de comunicação', para alegações de 'plausible denial', descoordenações, 'coincidências', etc e tal. Por outro lado, parecendo óbvio que alguma coisa é preciso fazer, bastaria que as Oposições, nomeadamente o PSD, não pondo em causa a pertinência da reestruturação dessem garantias públicas, que uma vez governo, garantiriam a despartidarização/despolitização do orgãos entretanto criados, tornando-os de facto escrutináveis e sindicáveis, até para abir espaço para uma putativa intervenção de Belém. O pior que pode acontecer 'agora' com o SISI não é diferente do que já acontece, com quem 'pode' a dar ordens pelo telefone. A rematar há a componente tecnológica que tanto assusta alguns que veêm no cartão único a ponta de um tenebroso iceberg. Enfim, viva a info-nabice! - É que se é absolutamente verdade que a tecnologia (o data-mining) pode ter usos tenebrosos e absolutamente indevidos também não é menos verdade, que nesta área, e neste tempo, a única arma que existe, e que nós cidadãos temos, contra esses mesmos usos, indesejáveis, é essa mesma tecnlogia. E é isso que todos deve(ria)m(os) exigir - que ela seja usada, sim - porque é inevitável - mas de forma lícita, sindicável e transparente, mas as coisas são o que são... Entretanto, o Dr. António Costa, que até já tem um blogue, goza. Pudera, só lhe saem duques.

Publicado por Manuel 11:08:00  

6 Comments:

  1. Gomez said...
    Finalmente, um post na mouche sobre este assunto.
    Fernando Martins said...
    "Dir-se-á que depender 'só' do PM é mau, e é verdade."

    O problema é mesmo esse - há PM's e PM´s (e, de vez em quando, calha-nos um Guterres ou um PSL, de outras vezes calha-nos um Salazar ou um Sócrates...).
    Manuel said...
    fernando martins,

    tb não é preciso insultar assim o... Salazar
    Fernando Martins said...
    Então aqui ficam as minhas desculpas - ao Salazar, o que governou até 1945...
    Anónimo said...
    Curiosamente os muculmanos, entre privacidade e segurança, tambem escolhem a segurança.
    Tambem eles usam o sistema de denuncias.
    E não parece que se estejam a dar mal com o sistema.
    Unknown said...
    Sinceramente, penso que o central da questão nao foi abordado, porque não podemos ver os EUA como um país ingénuo, que conta com as centrais de inteligência mais enraízados e não consegue apanhar um ex agente seu, sim, porque para quem não sabe o sôr Bin Laden já foi um agente do Fbi, e um amigo muito próximo da família Bush. Portanto, quando falam em liberdade tenho medo de pensar que hodiernamente vivemos uma situação caricata, em que disputamos guerras contra os supostos ditadores, mas em que os Eua são aqueles que dispõem da força e não pensam duas vezes em a usar.

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