por quem os sinos dobram
quinta-feira, março 08, 2007
- Alma que se preze em Portugal tem que ter 'opinião' sobre tudo e mais alguma coisa. Não interessa a solidez da mesma desde que se tenha 'estatuto', uma cara conhecida, ou coisa que o valha. É por isso lastimoso ver Vasco Pulido Valente, habitualmente sóbrio, e que de algumas coisas sabe do que fala, a aderir à onda das boutades avulsas e disparatas, particularmente porque depois há sempre os 'wanabes' que insistem, por manifesta falta de criatividade, a ir atrás. Dois exemplos emblemáticos - as suas prosas sobre o desfecho da OPA à PT, e a sua cruzada contra a racionalização das forças de segurança. Dois disparates pegados, e, usando a terminologia dele - 'perigosos', porque absolutamente simplistas e redutores. Começando pela OPA, por muito que lhe custe, o mercado funcionou, ponto. Tudo o resto é palha. Quanto à PT, eu posso não gostar da estrutura accionista, e não gosto, e quanto ao Governo eu até posso achar cínico o comportamento da CGD, e achar que o governo esteve globalmente mal, porque esteve! E esteve mal, porque toda a gente sabia, desde o início, que para a OPA chegar a bom porto o Eng. Belmiro teria que 'despachar' os investimentos da PT no Brasil. Pelo que, caso a OPA fosse para a frente, teriamos a acontecer com a PT o que já (e muito mal) aconteceu com a EDP e com a GALP, onde em vez de se liberalizar a sério o mercado (só agora é que parece óbvio que a PT não pode estar no cabo e no cobre, no grosso e no retalho, ao mesmo tempo) o que se tem feito é retalhar o que é grande, tornando-o automaticamente apetecível a estrangeiros, em vez de se forçar uma verdadeira internacionalização (35% do volume da PT já vem do Brasil, e essa percentagem subirá bastante com a saída da PTMultimédia). Isto - diversificar a área geografica de actuação dos antigos monópolios locais - é o que tem sido feito - bem - lá fora, e chama-se razão de Estado, além de lógica. Os lamentos de VPV, a tomar suas as dores de outrém (e está para demonstrar que o projecto REAL de Belmiro fosse mesmo comprar a PT...) são, quanto muito, dores de umbigo. Quanto à racionalização das forças de segurança, eu até percebo o argumento, só não percebo o que é que leva almas inteligentes como VPV a basicamente proporem o caos, e a bagunça completa, como alternativa a encontrar , e promover, consensos que levem a mecanismos que garantam 'accountability', racionalidade e transparência, no topo dos organismos de estado. É que se, de facto, VPV, como outros, acha que o Estado, e a topologia deste, é irreformável, que quem nos governa, as polícias e afins, são - e serão sempre - totalmente inimputáveis, então que o assuma e o diga claramente. Ao menos aí ficavamos todos esclarecidos. Agora, criticar uma medida topologicamente correcta só porque se não gosta deste ou daquele, é que não. (é claro que, numa lógica de reformas, e racionalização a sério, que criasse mecanimos 'reais', de transparência e fiscalização, que o PSD tinha aqui, como até a Presidência da República, amplo espaço para marcar pontos, mas enfim...)
- Antes de terminar, e a propósito de uma prosa do José, abaixo, comparando o que (não) é a nossa imprensa com a estrangeira alguém escrevinhou na nossa caixa de comentários que em Portugal não há 'mercado' para um jornal (diário) como deve ser. A tese em sí é interessante, e leva-me a fazer uma outra questão - e há 'mercado' para bons políticos, bons magistrados, bons jornalistas ? Em suma, bons cidadãos ? Ou, será que as coisas estão como estão porque mais de 30 anos depois ainda não queremos, ou não sabemos, pagar o 'preço' da democracia?
- Já agora, há uns meses houve por esse mundo fora uma leve polémica a propósito do suícidio assistido da Sr.a Schiavo. Falou-se de humanidade, confundida - à época - com conveniência. Depois lê-se disto. Não interessa, naturalmente, e ainda não está na agenda. (a este propósito antes já tinha escrito isto)
Publicado por Manuel 18:57:00
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