Orfandade

Ainda na Sábado, na rubrica “Ligação directa”, João Braga, fadista, pergunta a Ruben Carvalho, “Membro do Comité Central do PCP”:

Contanto na história do comunismo, com um ditador do calibre de Estaline, porque é que o PCP se preocupa com um ditadorzinho como Salazar?

O dialético e materialista Ruben, responde-lhe:
Fico satisfeito por João Braga reconhecer que Salazar foi um ditador.

Réplica perfeita de um comunista autêntico.
Perguntar a um comunista do tempo da idade da pedra estalinista, algo a propósito de ditadores, com o intuito de o encostar ao muro de Berlim, é como falar nas doces e celebradas bolas dessa cidade. Mera semântica.
Uma ditadura, para um comunista convicto dos seus princípios, não é algo que possa amargar argumentos. Antes os adocicará.
Uma ditadura, se for como deve ser, do proletariado vencedor, é o estádio necessário para que as bolas progressistas entrem nas balizas da sociedade comunista.
O marxismo-leninismo, defende exactamente a ditadura do proletariado, como partenaire do partido único dos trabalhadores vitoriosos e a caminho dos amanhãs a cantar da sociedade comunista.
Ruben de Carvalho ri-se destas perguntas. Como se ri de se andar por aí a citar o camarada Estaline, "pai dos povos", como exemplo de práticas ignóbeis contra a humanidade.
Os erros de Estaline, como por exemplo o facto singelo de ter mandado matar milhões de pessoas, e em particular ter mandado assassinar Trotski por motivos puramente políticos, foram já oportunamente denunciados, em 1956, por Nikita Krutschev, aquando de um congresso do PCUS. Estaline morreu em opróbrio oficial.
A partir daí, depois dessa orfandade, o muro ficou branqueado , porque a denúncia dos erros comunistas funciona como a confissão para os católicos: perdoa todos os pecados.

Salazar, pelo contrário, não tem qualquer perdão. É um fascista e isso basta, porque é crime imprescritível, no código comunista. Mesmo que depois de Salazar tenha vindo Caetano, o Portugal de Abril, acabou oficialmente com o fascismo e como se sabe "25 de Abril, sempre! Fascismo, nunca mais!".
Como é que Ruben de Carvalho pode pensar de outra forma, se foi assim que se formatou ao longo dos anos, no culto da orfandade?

Publicado por josé 19:42:00  

4 Comments:

  1. zazie said...
    Pois é, esta historieta deu para ver como há coisas que funcionam aquelas cabecinhas.
    Klatuu o embuçado said...
    Lembras-te de «grandes» discussões de cervejaria, tipo wrestling de analfabeto político: USA versus URSS?
    O comunismo evoluiu, já não vale a pena bater em mortos... outra coisa é querer «ressuscitar» mortos «ilustres», que não passaram de pequeninos ditadores... Todos os ditadores são pequeninos; decerto saberás porquê... talvez sejas culto e dotado de neurónios funcionais.

    P. S. O senhor Braga é um pateta emproado.

    Cumprimentos.
    josé said...
    Lembro-me bem ,pá!

    Do que já me esqueci, foi de ver, ler ou ouvir, a renúncia aos ideiais fascinantes dos amanhãs a cantar.

    A renúncia a esse ideial fantástico, por troca com o realismo implica o abandono do programa do PCP actual.

    Estás disposto a isso e a fechar o partido, para balanço como fizeram os italianos?

    Por mim, só via vantagens: esvaziar o PS da cáfila que o governa actualmente e que são um perigo público para a democracia e ainda injectar sangue novo, neófito na democracia portuguesa.

    Aposto que não partilhas desta visão fantástica, mas se pensares bem ainda me dás razão.
    zazie said...
    aahhahah

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