Explicações


A primeira página do Público de hoje, explica-se a si mesma, numa singela e bem explícita alegoria dos problemas que nos afligem como país.

No topo, uma caixa de imagem com um Salazar estilizado por um pintor não identificado ( o Público acha que não tem o dever de). Uma citação de um comentador do jornal ( JPP) deixa no ar a perplexidade do dia: como foi possível, mesmo num concurso banal, de tv, um ditador morto quase há 40 anos, ter ainda uma imagem tão forte junto dos portugueses?
O esforço de desvalorização ( “do ponto de vista técnico-científico, os resultados divulgados pela RTP não valem nada”), feito pelo politólogo Pedro Magalhães, no corpo da notícia assinada por Adelino Gomes, não pega muito, quando diz a seguir que afinal valem os das agências de sondagens. Ora estas, dão uma imagem com algum relevo da figura de Salazar, por forma a não permitir que se possa dizer que os resultados do concurso “não valem nada”.
Para saber se valem ou não, melhor seria interpretar outros factores de ponderação. Por exemplo, especular sobre a motivação dos votantes.

E o Público procurou saber dessas motivações por interpostas pessoas, quase sempre as mesmas e que declinam nomes já conhecidos como Pacheco Pereira, Eduardo Lourenço, José Mattoso e até Vasco Lourenço(!), para além do politólogo. As opiniões destes comentadores, são as do costume, sem novidade e sempre na direcção do pensamento unificado. O Público, ( e Adelino Gomes, em particular) nunca sairiam desse trilho bem marcado- e é pena.

No entanto, é na primeira página do Público de hoje, que numa feliz conjugação de títulos, se atinge o alvo, com recheio, mesmo involuntário.
O primeiro título respeita aos gestores públicos, engendrados por esta democracia de há uma dúzia de anos a esta parte. A notícia de que um gestor anódino da GALP, ao fim de um ano e de ter ganho com a saída, cerca de quinhentos mil contos de indemnização, ter passado para a REN, para ganhar balúrdios, acerta no coração dos pobres de espírito que não compreendem os critérios governamentais que presidiram a estas regras de generosidade sem paralelo, na decência de um país pobretanas e na cauda da Europa. Os portugueses em geral, não compreendem, não aceitam e acham escandaloso que tal aconteça. E tal acontece, devido a uma simples palavra mágica que todos entendem: corrupção. Não a do código Penal, mas a outra mais simples, a moral. O senso comum, no entanto, não a distingue da outra, aquela que vem escarrapachada no segundo título: “Assembleia discute corrupção-Ministério Público contra lei da política criminal”.
Este título que encima uma foto de um símbolo da luta contra a corrupção no país ao lado ( Baltazar Garçon) , lembra-nos a nós leitores que foi na Assembleia que se derrotou a proposta de Cravinho, por ser disparate e até “asneira” e lembra-nos também dos inquéritos parlamentares a casos singulares que dão aquilo que as maiorias querem que dêem. Lembra-nos ainda a ética que existe na Comissão de Ética e outros fenómenos que os portugueses conhecem .
Por causa de asneiras, repetidas e recalcitradas, o público que votou na figura do melhor português de sempre, escolheu Salazar.
É preciso explicar mais?!

Publicado por josé 18:23:00  

4 Comments:

  1. MPR said...
    Infelizmente... na mouche...
    Isabel Filipe said...
    "....
    Por causa de asneiras, repetidas e recalcitradas, o público que votou na figura do melhor português de sempre, escolheu Salazar.
    É preciso explicar mais?!..."

    Claro que sim.

    Um abraço
    josé said...
    Vai já a seguir.
    rb said...
    Se bem que o resultado possa ser interpretado como o tal voto de protesto convém também não ignorar que o mesmo significa ou pode significar um sinal dum progressivo apagamento da memória daquilo que foi uma ditadura: com censura, perseguição, prisão, tortura, exilo e assassinato políticos. O que é deveras preocupante.

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