As notícias judiciárias "ressaltadas"

Quem ler os jornais semanários de hoje, Expresso e Sol, nada fica a saber sobre o Congresso dos Magistrados do MP que decorre no Alvor, até amanhã. Nem sequer uma pequena referência se encontra, entre as notícias da semana. O Congresso do MP, para estes semanários, conta tanto como um improvável congresso de caçadores de coelho bravo ou de pescadores de atum. Conta mais e muito mais a interminável saga do Apito…e a circunstância de no Congresso, pelo menos duas vozes discordantes terem soprado no apito da crítica, passa ao lado destes jornalistas.
Por contra, sobre assuntos judiciários, nos ditos semanários, encontram-se outros motivos de reflexão.
O Sol dedica na pequena coluna da primeira página, uma pequena referência ao facto de Souto Moura, vir a ser condecorado, pelo presidente da República, com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo, antes de ser ouvido no Parlamento sobre o intrincado caso do envelope 9. O Sol, entende tal acto, com um “desagravo a Souto Moura” e um dos directores dedica-lhe um pequeno texto, na coluna de “Sol a Sombra”, pondo o antigo PGR a brilhar por causa dos “elogios e da solidariedade institucional” que não só Cavaco Silva, mas também Jorge Sampaio manifestou, “nos momentos mais difíceis do seu mandato como PGR”.
Comenta ainda José António Lima a circunstância de o Parlamente, por força do PS, insistir em ouvi-lo “no âmbito de um dos inquéritos mais ridículos e inúteis: o do envelope 9”.

O Expresso, trata do mesmo assunto, numa página interior e num estilo de rigor jornalístico significativo :
Souto de Moura condecorado. Homenagem. O ex-pgR Souto Moura vai ser condecorado segunda-feira pelo PR, ao lado dos três chefes militares que cessaram funções em 2006. A Grã-Cruz da Ordem de Cristo será atribuída “por destacados serviços prestados ao país”.

Este modo de “dar” notícias, encerra em si mesmo uma perplexidade: sob uma forma aparentemente neutra, codifica-se uma mensagem que subjaz a outras notícias e comentários. Significativo, por isso, será o editorial do director do Expresso, Henrique Monteiro, sobre a estafada "canção do bandido, “afinal há outros”!
Diz o director editorialista que desta vez, afinal, foi acusado um advogado, no âmbito de um processo de violação de segredo de Justiça ( fica por se saber com precisão, se foi mesmo no processo relativo ao despacho roubado ao processo do Apito, ou se foi noutro).
A revelação é duplamente curiosa:
Em si mesma, potencialmente, constitui uma ( mais uma...) violação do segredo de justiça que ainda vigora naquele processo. Tal violação, tema de comentário noticioso e encomiástico da eficácia na descoberta do violador anterior, não pode deixar de conter uma ironia implacável.
Como revelação de novidade, assume outra natureza: pretende demonstrar que “agora é que vai ser” e que tal mudança resulta já das mudanças…não se sabem bem em quê.
Diz o director que “Quero sim, ressaltar que há um novo fôlego na Justiça e um novo modo de proceder, muito mais rápido e espero que bastante mais eficaz e claramente mais justo.”

Claramente, está de caras. Ou, visto de outro ângulo, esta pode ser mais uma causa que foi sempre a causa de alguns, em detrimento de outras causas, mais do interesse geral, como sejam as do rigor informativo, da isenção jornalística e do profissionalismo associado a um poder que por vezes tem que ser contra os poderes.

Portanto, mais uma voz de uma causa-nossa, salvo seja.

Publicado por josé 16:23:00  

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