um requiem
terça-feira, novembro 07, 2006
Nos últimos tempos tornou-se um desporto nacional dizer mal do Dr. Mendes, líder do PSD. Não é que uma boa parte das críticas não sejam merecidas mas, à esmagadora, senão toda, maioria dos 'comentadores', de baancada ou da comunicação social, escapa o rigorosamente essencial. É verdade que Mendes, nos últimos tempos tem 'esquecido' o país 'real' e concentrado atenções no PSD 'profundo', sendo que a lógica deste último não diz necessariamente muito ao cidadão comum. É assim demasiado fácil criticar Marques Mendes, e dá-lo desde já como 'morto', só que isso é ignorar a história. Mendes, que tem (ou teve) a seu favor o facto de ter sido dos poucos a críticar a estratégia de sobrevivência barrosista que guindou o actual Presidente percebeu que de nada lhe vale agora falar para o País. Sabe que lhe bastará, na hora certa, ser líder do PSD, para então subitamente ser levado a sério (bem ou mal) por tudo e todos. Nessa altura terá toda a credibilidade deste mundo e do outro porque é a ... alternativa, a 'única' alternativa. Ora, para isso, precisa de garantir que o PSD não se livra dele, e daí todas as pantominas e acrobacias recentes. É a vida. Mendes desistiu de reformar o PSD, não vá o PSD 'reformá-lo' a ele. Foi assim, com Barroso, é assim com ele, e será assim com quem vier a seguir. Será assim, enquanto a tal sociedade civil que tanto critica os partidos se continuar a demitir sistematicamente das suas responsabilidades, delegando nos partidos competências, que estes manifestamente (já) não tem. É fácil agora dizer mal, como será confortável - na hora certa - mostrar disponibilidade para dar uma mãozinha, mas seria infinitamente mais útil e produtivo - agora - fazer alguma coisa. O dr. Mendes conta com o que tem, e olhando à volta, onde estão as alternativas ? Onde estão os projectos estruturados ? Onde estão aqueles que tem uma visão globalizante que passe do mero sound-byte ou da alegada especialização nesta ou naquela micro-área ? Simplesmente não estão, e não estão porque os mesmos que exigem 'mais' ao Dr. Mendes são os mesmos que por conforto, cinismo, preguiça ou irresponsabilidade, garantem que por acção ou omissão, ao dr. Mendes não restam alternativas. Eu confesso que não sei se o Dr. Mendes vai chegar um dia a primeiro ministro, e mais, confesso que a questão é largamente irrelevante. É que enquanto as coisas continuarem como estão, enquanto os partidos funcionarem como funcionam, enquanto a sociedade civil se comportar como comporta, nem ele nem ninguém vai fazer milagres, pelo que nos resta esperar que não apareça outro Dr. Lopes, ainda que disfarçado em peles de cordeiro.
Ironia das ironias, Marques Mendes, o mesmo que denunciou em tempos o cinismo de Barroso, pode ter-se tornado um cínico, mas não mais cínico que uma boa parte daqueles que o criticam... Querem deixar a 'política' para os outros, e ainda se queixam.
Publicado por Manuel 10:46:00
Independentemente de ser Marques Mendes quem lá está, o grande problema é que nem todos estão dispostos a aceitar as regras de funcionamento dos partidos, aquelas histórias de andar a arranjar militantes à pressa, a formar sindicatos de votos, a encarneirar com o poder (seja quem ele for). Claro que cada um de nós deve contribuir para que as regras mudem. Mas também é verdade que não é fácil. A minha experiência neste domínio é terrível e só posso dizer mal e fugir a sete pés da política.
Um abraço - cr