'A mulher de César'




Não sei se na adjudicação do SIRESP houve ou não - como suspeitam MP e PJ - corrupção e tráfico de influências. Mas o nariz é um órgão naturalmente menos escrupuloso que a razão crítica, e que coisa cheira mal, cheira (aliás, o negócio não terá sido anulado só por repugnância olfactiva). Um negócio de 600 milhões, com um caderno de encargos que outros potenciais concorrentes consideraram feito por medida, assinado à pressa por um governo em gestão três dias depois de ter perdido as eleições e atribuído a um consórcio com ligações ao ministro adjudicatário, tudo com base num singular "parecer verbal" dado por um auditor do mesmo ministério, parece um cozinhado com ingredientes duvidosos de mais para não cheirar a esturro mesmo a narizes condescendentes. Mas o caso põe outra questão, a da mulher de César, a quem, diz-se, se exige não só que seja honesta mas também que o pareça. Ora o tal auditor é agora vice-procurador-geral da República, cargo que é suposto estar acima de qualquer suspeita e em que, mal tome posse, passará a ter autoridade sobre as investigações. Se em política, como também se diz, o que parece é, não se pode considerar que, em tudo isto, as aparências sejam particularmente recomendáveis. Mas a ver vamos, como diz o cego

Manuel António Pina, hoje no JN

Bem aventurado, pois, o país em que ninguém liga às aparências...

Publicado por Manuel 12:53:00  

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