Minas e armadilhas

Ferreira Fernandes, o jornalista que na Sábado passada, veio aqui à Loja mercar assunto para a sua crónica, aviando-se num elogio e num vitupério simultâneos, já levou o devido troco. Mas, reparo agora, com a leitura da Sábado de hoje, que continuei em dívida. Aqui vão mais uns trocos, por conta do vitupério que comprou.
Na Sábado, num artigo de meia dúzia de páginas, subscrito por Ferreira Fernandes e Raquel Lito, a capa elucida o comprador: “Calúnias – como as mentiras podem destruir”.
Com esse mote e Sousa Tavares, em retrato grande plano, serve-se no artigo, uma crónica de costumes, sobre calúnias que ao longo destes últimos vinte anos, puseram a honra e consideração de alguns famosos, em risco de grande erosão social de fazer até perigar o ganha pão da família e amigos.
Os exemplos apontados, uma dúzia deles, são exemplos de desgraça, que atingiram impiedosamente os visados, pelas calúnias pérfidas que recairam sobre as suas impolutas personas.
Ver a lista: para além do chamado à capa, deslustrado por um anónimo ignóbil, temos, despidos no interior das suas mágoas, Mário Soares, uma das vítimas mais retumbantes desta prática viscosa. O seu exemplo de desgraça, está à vista de todos. Até do Estado que continua a pagar-lhe o telefone privado. A seguir, Santana Lopes, um vitimizado por natureza e cujo último livro rememoria essas desgraças que lhe cairam em catadupa, atirando-o para o limbo político.
Depois, Bagão Félix, um desempregado da política, que acabou na Universidade, talvez por conta de um boato amplificado por Manuel Serrão. A infeliz Fernanda Serrano, perdoou ao infame anónimo que lhe denegriu a imagem num filme manhoso que quase ninguém viu mas os jornais mostraram, em imagens avulsas, nos seus títulos horrorizados . Talvez por isso, figurou numa série publicitária de um banco, em pancartas por esse Portugal fora, lembrando as delícias das compras em prestações. Continua, aliás, a amargurar essas cenas tristes, alternando em representações dignas de uma Vivien Leigh, em telenovelas.
O caso de Sá Carneiro é trazido à liça para ninguém esquecer que também há malfeitorias boas: as calúnias vindas da esquerda, para bem do “nosso povo”, são notícia de jornal e assinadas com toda a urbanidade, por intelectuais.
O caso anedótico que atingiu o semiótico Prado Coelho, nem merece relevo, porque é verbo de encher no artigo de Ferreira Fernandes. Tal como o de Sócrates e o imbróglio com o desaparecido Independente do Freeport.
A maledicência que atingiu depois Emídio Rangel, só tem paralelo nas notícias sobre os berbequins revolucionários, para tomar conta das ondas. Foi, aliás, o primeiro caso publicitado, de “pauladas” no suposto caluniador. Rangel sempre foi um percursor. Agora , queixa-se de ter sido saneado pelo nosso Primeiro, actual Comissário na Europa . Uma calúnia? Sem direito a “paulada”?
No âmbito das intimidades sexuais, são continuadas as calúnias. O caso de Laura Diogo, das Doce, provavelmente, será o mais duradouro. Ainda hoje, passados 25 anos, toda a gente se lembra do célebre hit que durava toda a noite, numa festa pagã ao deus do “Bem bom”. A anedota circulante que se instalou, de efeito seguro entre risos alarves, foi idêntica a muitas outras que atingem figuras públicas, como terá sido o caso de Melão (?!) e Calado, vinte anos depois. A diferença, reside numa circunstância singela: vinte anos depois, havia três canais de tv e jornais que vivem à sombra dos “famosos, do dinheiro e do crime”, agora dirigidos por quem eventualmente aplaudia as calúnias a Sá Carneiro, para bem do povo.
Antes do aparecimento desse expoente máximo do jornalismo português que se titula 24 Horas, os percursores anunciaram a sua vinda iminente.
O primeiro foi o semanário Tal & Qual, dirigido por um cronista actual desse mesmo jornal dos famosos, Joaquim Letria. O jornal, alimentado a capitães Roby e donas Brancas, foi secundado na segunda metade da década de oitenta por um outro Pasquim, um “semanário de actualidade e crítica”, dirigido por Luciano Rocha , João Querido Manha e com nomes sólidos no jornalismo como é o caso de José António Cerejo e um deconhecido Paulo Querido
Esses jornais de fim de semana, parcos em páginas e impantes nas notícias de primeira, dedicavam a sua atenção aos “escândalos”. Como sempre os houve, o Tal & Qual aí anda, continuadamente à procura dos clientes perdidos para o 24 Horas e outros pasquins.
Em meados dos anos oitenta, o Tal & Qual abrigava na sua última página, um circunspecto Draga-Minas que escrevia de modo castiço, que aliás apetece ler, como poucos, ainda hoje.
O Tal & Qual de oitenta, não repescava minas perdidas, como hoje se lêem por todo o lado e que explodem na mente de incautos.
Mesmo assim, em 15.2.1985, ainda arranjava espaço para “arrincar” notícias deste tipo:
O dr. Sousa Tavares anda em maré de azar. Depois da ameaça, ainda no ar, de extinção do seu Ministério da Qualidade de Vida, aquele governante acaba de ser referenciado pela Rádio Renascença, que para o efeito citou a Rádio Macau, como sendo o ministro envolvido num caso de tráfico de capitais, que tem vindo a ser noticiado pelo jornal “o diário”. Contactado pelo Tal & Qual, o ainda ministro da Qualidade de Vida comentou: “ É falso. Nunca fiz tráfico de capitais, não tenho nada a ver com o assunto.” E esclareceu: “Recori, por vezes, aos serviços do dr. Queirós de Andrade, para me arranjar divisas para as minhas deslocações lá fora e para me tratar de cheques que recebi do estrangeiro. Recorde-se que Queirós de Andrade é um dos presumíveis implicados no referido processo de fuga de capitais.”
Esta notícia, foi dafa numa coluna , em “Privado” aos leitores do jornal e ao passante leitor da última página.
Se se reparar, Macau aparece como fonte da notícia. Tal como nesta crónica do Draga-minas, intitulada “Orientalices”:

Publicado por josé 22:48:00  

5 Comments:

  1. zazie said...
    ahahahhaha

    quem não quer ser lobo...
    JV said...
    José,

    quem se mete contigo, leva.
    josé said...
    Leva nada. Espero é que o Ferreira Fernandes, já que disse que vinha a este estabelecimento, reflicta um pouco no jornalismo da Sábado:
    Pobre. Descuidado. Pouco rigoroso.
    O artigo que escreveu, tem um único efeito que acredito que nem seja sequer pretendido pelo autor: refazer a imagem de Sousa Tavares, com recurso a outros vitimizados que neste caso funcionam apenas como "paus de cabeleira".

    Ora essa imagem precisa de ser ainda mais desbastada, porque está muito desfocado e ampliada.
    A imagem realista é sempre mais verdadeira e a fantasiosa deve deixar-se aos artistas que compõem retratos a pedido.

    Entre um Bacon e um Medina, prefiro os retratos do primeiro, de um realismo fantástico...
    Maria said...
    Os defensores de Miguel Sousa Tavares tentam trazer o assunto fora de contexto para tentar negar uma realidade muito simples: ele copiou algumas frases de outro livro. A Sábado tenta esconder isso do público em geral inflamando a acusação de plágio. Mas para aqueles que sabem, MST será sempre visto pelo que é, um autor que pode copiar frases de outros livros.
    james said...
    O de cima é o Martinho do Porsche. Certo?

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