Passarolas voadoras.



Em Junho de 1976 foi publicado o LP Greatest Hits, dos Eagles e que ao longo de trinta anos veio a tornar-se, provavelmente, o disco mais vendido de sempre da história da música popular, todas as expressões incluídas. Cerca de 30 milhões de exemplares, em 30 anos!
O que leva os Eagles a voarem tão alto, na passarola voadora da indústria musical mundial?

Sem dúvida, a sonoridade impecável de meia dúzia de êxitos, decalcada e sintetizada a partir de músicas já ouvidas e estilos já experimentados, por outros músicos, no decurso da década antecedente.
Os Eagles começaram em 1972 com um LP homónimo e um single de abertura a toda a prova: Take it easy, incluído também no Greatest Hits. A música nem é um original do grupo, mas obra de Jackson Browne, companheiro de andanças e que na mesma altura lançava um disco de autor, com um alinhamento de canções de uma sublime melancolia que ainda hoje se ouvem com o proveito da beleza de uma música intimista e aperfeiçoada. Aliás, Jackson Browne repetiria nos anos a seguir, precisamente até 1976, com The Pretender, as canções de mérito, para ouvir sempre, reincidindo finalmente em 1980 no LP Hold Out, com a colaboração imprescindível e única, do multi-instrumentista David Lindley.
Embora 1972 seja o ano dos Carpenters de A Song for you e o hit Top of the World; dos Bread de Guitar Man e de Don Mclean e a sua pequena história condensada da música popular, na canção American Pie, foi também o ano de Harvest de Neil Young e Manassas de Stephen Stills; A Horse with no name, dos America e principalmente Exile on Main Street dos Rolling Stones e o primeiro álbum a solo de Paul Simon, um portento de finesse e subtileza musical, suplantado apenas pelo disco do ano seguinte,There Goes Rhymin´Simon, um dos mais perfeitos de toda a música popular.
Isto para nos circunscrevermos à música de expressão anglo-americana, em franca explosão e mundialização avant la lettre e sem citar sequer o Lp Holland dos Beach Boys cuja estrutura musical no tema The beaks of eagles, encadeado no seguinte, California Saga, é de antologia no género que aqui se trata e serve de exemplo máximo do estilo musical: melodias suaves e simples, harmonizadas em vocais entretecidos e intrumentalizadas em tom acústico, com a sonorização marcada a pedal steel guitar. Tão interessante no estilo e nesse ano, só mesmo Leo Kottke, no Lp Greenhouse.
Em Portugal, em 1972, embora se ouvisse esse Lp dos Beach Boys, não se ouviu o primeiro LP dos Eagles, como já se ouvia em 1976, o Greatest Hits, em plena rádio.
Em 1972, a influência musical, em Portugal, provinha da Inglaterra de modo predominante, onde se importavam mais facilmente os discos e por isso, a publicação Mundo da Canção, no final desse ano, fazia uma lista dos melhores discos do ano. Não espanta muito que em primeiro lugar apareça o disco dos Van Der Graaf Generator, Pawn Hearts, logo seguido de Foxtrot dos Genesis e Thick as a Brick dos Jethro Tull. Em dez discos escolhidos, nenhum americano de renome que se pudesse ouvir e muito menos os Eagles ou até mesmo Neil Young ou Stephen Stills, sendo certo que estes dois últimos se ouviam por cá com muita assiduidade em programas de rádio, como o Página 1, apresentado nessa época por um Adelino Gomes, salvo erro.
A sonoridade de Manassas, no duplo LP de Stephen Stills, é um condensado de tudo aquilo que os Eagles começavam então a tocar: o country-rock, uma mistura de algo que parecia imiscível.
Numa década, entre 1966 e 1976, a Califórnia do sul, à roda de Los Angeles, foi a pátria desta música nova, criada a partir do country tocado por brancos, com a mistura de rock n´roll, saído dos blues e soul, animados pelos negros, nas igrejas e no delta e repescados pelos primeiros rockers, como fundação rítmica das novas sonoridades que se exprimiam em hipérboles tipo wopbabalumablambambum e às quais Bob Dylan deu sentido diverso.
Em Setembro de 1968, apareceu o primeiro LP , por muitos considerado um dos máximos expoentes deste género musical e que o inaugurou: Sweetheart of the rodeo, dos Byrds, onde tocam Chris Hillman, Roger McGuinn e Gram Parsons. Este, no ano seguinte, sai dos Byrds, vai juntar-se a Chris Hillman que também saiu e com Sneaky Pete Kleinow e ainda Chris Ethridge, forma os Flying Burrito Brothers que publicam talvez o disco mais significativo do género, a par com o dos Byrds: The Gilded Palace of Sin, em Abril de 1969.
O som deste novo tipo de música, mistura a guitarra acústica seca e dedilhada em seis ou doze cordas, com contrapontos a solo de guitarra eléctrica, misturando as rítmicas numa sonoridade híbrida e estugada em tons suaves, de onde evola quase sempre a sonoridade etérea de um tipo de guitarra tocada em slide e em assento deslizante: a pedal steel guitar, de som inconfundível e que constitui, para mim, talvez a marca mais indelével deste tipo de música arrebatadora nos seus melhores momentos.
A sonoridade Country Rock não era inteiramente desconhecida, antes destes grupos a experimentarem. Em 1967, um grupo recém formado que incluía John McEuen, Jiimi Fadden e Jeff Hanna, tocavam já Buy for me the rain, em tom rock tingido de country. Esse grupo da California do sul, os Nitty Gritty Dirt Band, publicaram em 1972 , Will the Circle be Unbroken, um compêndio da música country tradicional, com os músicos tradicionais do género e algumas actualizações de repertório e durante a década de setenta, publicaram uma mão cheia de discos magníficos bem representativos do género, sendo a meu ver, os melhores cultores do género, ou pelo menos os que mais aprecio.
No final dos anos sessenta, um outro grupo americano que publicou outra mão cheia de êxitos inconfundíveis na voz de John Fogerty, tinha marcado os palcos e gira-discos desse tempo. Os Creedence Clearwater Revival, tinham misturado o rock n´roll com o country e o soul, numa amálgama fantástica de som acústico e eléctrico e que durou até ao início dos setenta. Por isso, os ouvidos gerais estavam preparados para a novidade.
Apesar disso, em Portugal, não há notícias dessa moda, embora os Creedence fossem muito credenciados nas vendas de Proud Mary ou Have you Haver seen the rain. Durante a primeira metade da década de setenta, sucederam-se discos impressionantes de qualidade neste género musical, todos provindos do sul da Califórnia e à roda de Los Angeles.
Em seguida ao álbum de Bob Dylan( então com 27 anos), Nashville Skyline, de 1969, e tal como o anterior, gravado em Nashville , terra por excelência do Country( Johnny Cash aparece a cantar logo na primeira canção, em dueto com Dylan), Surgiram ainda os Crosby, Stills & Nash, que acrescentaram depois o Young , de Neil, para publicarem uma outra obra prima aparentada ao género: Déja Vu, em 1970, em que se notavam as harmonias vocais e as composições dos quatro músicos, com o destaque impressionante para uma das melhores composições do género: Teach your Children.
Em 1967, David Crosby, fizera, aliás parte dos Byrds.
Porém, em 1969, quase na mesma altura de Nashville Skyline de Dylan, saiu o Lp dos Flying Burrito Brothers, The Gilded Palace of Sin. Quem não escutou tal disco que começa com Christine Tune em acordes acústicos e se estende no rendilhado líquido da pedal steel de Sneeky Pete Kleinow, num ritmo que os Eagles mais tarde vieram a retomar e explorar, não conhece bem toda a beleza etérea do Country Rock.
O disco não dispensa uma única canção para o olvido fácil e a voz de Gram Parsons é a marca de água que também tinha acompanhado as canções do LP dos Byrds, Sweetheart of the rodeo.
Este LP, originalmente gravado em Nashville, tinha como voz principal a de Gram Parsons no seu estilo inconfundível. Perante a saída deste, logo após a gravação, Roger McGuinn, regravou as vozes, apagando a de Gram Parsons que voltou a ouvir-se apenas em 1990, com a publicação da caixa de 4 cd´s The Byrds e a apresentação dessas versões originais, o que se repetiu já em 2003, com a apresentação luxuosa do disco Sweetheart of the rodeo, em edição duplamente cuidada, da Sony/Columbia/Legacy, onde se podem ouvir versões das canções originais em fase de trabalho e com vocais e instrumentais variados.
Roger McGuinn continuou os Byrds, após a saída de Gram Parsons, deixando entrar um dos maiores guitarristas da música popular: Clarence White, cujo trabalho artístico se pode ouvir nos discos que se seguiram, particularmente Dr. Byrds & Mr. Hide( particularmente o instrumental Nashville West que serviu por uns tempos, de indicativo ao programa Música da América, animado por Jaime Fernandes, na antiga Rádio Comercial de finais dos setenta), onde também colabora outro músico entrado logo a seguir e que ajudará a marcar a sonoridade personalizada dos Byrds de então: Gene Parsons. Este, tinha colaborado antes com Doug Dillard, noutro disco fundamental do género: The fantastic expedition of Dillard & Clark, de finais de 1968.Uma das canções celebradas nesse disco é Train Leaves here this morning, escrito por Gene Clark em parceria com Bernie Leadon que viria a integrar os Eagles, logo no começo, sendo esta música uma das que compõem o ramalhete do primeiro disco do grupo.
E é precisamente através desta canção que se pode descobrir a particularidade da música dos Eagles. A instrumentalização usada na versão original do grupo de Dillard & Clark e na adoptada pelos Eagles, difere pouco. Em ambas a sonoridade é predominantemente acústica, embora a a voz e a guitarra de Gene Clark seja acompanhada por outra em contraponto e por um som afastado de bandolim. Na versão dos Eagles, podem ouvir-se as guitarras acústicas em duplicado ou mesmo a triplicar, numa sonoridade atapetada e ritmo ligeiramente mais suave que preparam o ouvinte para a diferença: a vocalização harmónica e perfeita dos quatro músicos. A produção musical em estúdio, de Glyn Johns faz a diferença entre as versões e basta comparar as duas para perceber uma das razões do sucesso dos Eagles, em detrimento do eventual sucesso de grupos que os precederam, com as mesmas raízes musicais, a mesma verve na escrita e até o mesmo talento. A música dos Eagles, como escreveu o crítico Robert Christgau, é “suave e sintética” e escreveu ainda que era “brilhante mas falsa e nem sempre brilhante”. Experimente-se ouvir Lyin´eyes ou Peaceful Easy Feeling, ou mesmo Tequila Sunrise, todas incluídas no Greatest Hits. Música suave, brilhante, se o adjectivo pode significar alguma coisa nestes domínios do som e…porventura falsa, porque apresenta esse hibridismo musical com uma imagem ( no lp Desperado, de 1973) de rebeldia oca e de cartaz. É um conjunto de sonoridades cativantes, pelas harmonias vocais e as melodias fáceis e inesquecíveis pelo brilhantismo. Foi assim que me ficaram sempre no ouvido, aliás.
Os Byrds, a seguir à cisão de 1968, apesar da altíssima qualidade dos músicos que continuaram o grupo, em termos musicais, pouco mais fizeram de relevante, com excepção do Lp Dr.Byrds& Mr. Hide de 1969.
Contudo, por outro lado, a carreira musical de Gram Parsons, só então expandiu em qualidade artística, culminando com a publicação de dois LP´s fundamentais para a compreensão do Country Rock: GP e Grievous Angel, de 1972 e 1973; este último publicado em Janeiro de 1974, já depois da trágica morte do músico, tornado em cowboy cósmico.
Bernie Leadon, até integrar os Eagles em 1972, tocou ainda com outros músicos da localidade sul californiana, nomeadamente Linda Rondstadt, cujos primeiros LP´s datam de finais dos sessenta, com músicas magníficas como é o caso de Different Drum, de 1968.
Bernie Leadon , o músico mais country dos Eagles, saiu em finais de 1975, insatisfeito com o rumo do grupo e em ruptura pessoal com alguns membros, particularmente um dos líderes, Glenn Frey.
Para o lugar do coutry-rocker entrou Joe Walsh, outro rocker-country, de guitarra e pedal wha-wha à cintura, para além de a invenção particupar da talking box, um device que sincronizava a voz com o som da guitarra, numa sonoridade bizarra, explorada mais tarde por Peter Frampton, no seu disco, também de 1976, Frampton Comes Alive. Joe Walsh chegou ainda a tempo de colaborar no álbum mais célebre do grupo e o que exemplifica de modo sintético e estado da música rock, em meados dos setenta: Hotel California é um magnífico disco, cujas músicas, porém, não chegaram a tempo de integrarem o Greatest Hits.
Quando este disco saiu, em Junho de 1976, os Eagles, com quatro álbuns publicados, eram já um dos maiores grupos da música rock, com concertos em estádios e um estilo de vida em fastlane e o disco apenas veio confirmar a brilhante carreira anterior. .

Ao longo destes trinta anos, o grupo manteve-se em actividade, cantando as músicas de sempre, do mesmo modo de sempre por todos os cantos do mundo.
Em 2004, em Melbourne, na Austrália, gravaram um desses concertos em dvd, onde se pode ver um Joe Walsh imparável nas facécias e na habilidade impressionante no modo como encavalita acordes nas guitarras. Pode ainda ver-se e ouvir aquilo que torna única a sonoridade dos Eagles. Tal como os Crosby Stills Nash & Young, o fizeram durante os anos dourados do início da década de setenta, o modo de cantar dos membros do grupo é escalonado em harmonias aperfeiçoadas, singelas ou em cascata suave, com as vozes dos quatro músicos que se completam de molde a que a singularidade da vocalização de Don Henley ou Glenn Frey, os mestres da banda, venha acompanhada pelas guitarras acústicas, sem notas dissonantes e em simbiose, apenas entrecortada pelos contrapontos dos solos eléctricos num ritmo relaxado de quem saboreia uma bebida fresca ao pôr do sol, observando o voo de uma gaivota.
Roger MacGuinn, o grande génio da passarola dos Byrds, tem hoje um blog ( ou dois, contando com outro sobre novidades tecnológicas…), o que revela que não se afastou do comum dos mortais, gozando os rendimentos eight miles high.
Os Eagles têm um site oficial e vários de aficionados.
Os Byrds têm um site que é um catálogo deste tipo de música e merece a visita só por si.
Os Flying Burrito Brothers avançaram pelos setenta e oitenta, sem brilho especial, mas com a saudade de Gram Parsons, o grande inovador destes sons voadores.

Publicado por josé 22:26:00  

26 Comments:

  1. zazie said...
    parabéns José, excelente post!
    josé said...
    Ahahah! Obrigado.Não imagina o gozo que me deu escrever isto depois de consultar os meus arquivos pessoais, pelas datas precisas e conjugação de nomes e - principalmente - a audição dos discos que aqui referencio.
    Não escrevi este texto de cor, porque conheço de cor estas músicas que estes indivíduos criaram e puseram a circular.

    Muitas delas, ouvi-as precisamente nos anos setenta, na mesma altura em que foram saindo, mas outras, já o foram com muito atraso. Só conheci a integralidade da obra imprescindível dos Byrds, nos anos noventa com a republicação da sua discografia.
    Os Flying Burritos idem. Só há meia dúzia de anos deitei a luva a um disco fantástico para mim: The Last of the Red Hot Burritos, de 1972, precisamente e que julgo que nem está publicado em cd.
    Seir capaz de escrever um livro inteiro sobre estas músicas e estes músicos que me alegraram a minha vida musical ao longo dos anos.
    São os meus heróis: despretensiosos, inventivos e que lograram compor sons muito agradáveis aos ouvido.

    A seguir( lá mais para a semana que vem) vou escrever sobre outro dos grandes: Neil Young. Publicou agora um disco que é um panfleto contra o...Bush!
    Entretanto, fico com a sonoridade dos Burritos em Devil in disguise.

    PS. Quem é que gosta verdadeiramente desta música e a ouviu efectivamente?!

    Pergunto-me porque acho que deve haver pouca gente. Tanto pior- para quem não ouviu, claro.
    zazie said...
    os arquivos do José são uma mina. Acha que há pouca gente que os tenha ouvido e goste? não sei... acho que toda a gente gostava na altura. Ainda os conserva em vinil? os meus foram-se quase todos.
    Lembra-se da capa do Thick as Brick? bem que o meu irmão queria a tradução das letras

    ":O))

    Posso guardar este post, José?

    beijocas
    josé said...
    Guardar, nem se pergunta.

    Mas viu o blog do Roger MacGuinn e da mulher?
    Fantástico. A essência do americano empreendedor e livre de circular daqui para ali e se fixar onde lhe agrada, perpassa naquele blog.
    E ainda agora, começaram um outro projecto sobre as experiências folk dos anos sessenta.
    OS textos são de entusiasmo. O tipo colecciona uma série de coisas, incluindo rádios transístores ( verdade- estão lá as fotos).

    Enfim, um tipo com um historial daqueles, em termos musicais superior aos Rolling Stones, e... vai a ler-se, continua ligado à terra.
    josé said...
    O Thick as a Brick era dos Jethro Tull e tenho-o na versão original...espanhola. Em vinil, claro, mas com o jornal que vinha anexo a falar do pequeno génio.

    Música inglesa, muitas vezes tributária dos blues americanos e introduzidos por Alexis Korner e os Bluesbreakers.
    NO caso, esse tipo de rock era o chamado rock progressivo muito do agrado dos críticos da paróquia que nem sabiam muito bem escrever mas que se desenrascavam na pretensiosidade.
    Fernando COrdeiro, Jorge Cordeiro,Tito Lívio,J.M. Lage, Arnaldo Jorge Silva...quem os conhece?
    josé said...
    Quem quiser ouvir os Byrds em mp3, com alta resolução ( embora a possível nesse formato), pode ir a este sítio fabuloso que um indivíduo português e de mais de cinquenta, aproveita para colocar em linha, de borla e em serviço público, alguns discos originais.

    Já por lá estiveram o disco ao vivo de Chico Buarque com Maria Betânia, precisamente o que continha a versão original de Tanto mar e que não se encontra agora em lado algum.

    Desta vez, o disco do dia é o Untitled dos Byrds.

    Vão lá! Vale a pena a visita.
    josé said...
    Caro sniper:

    Muito há a escrever sobre esses tempos heróicos. Neste postal tentei circunscerver-me a um género musical desenvolvido pelos Eagles, mas inventado por outros que mencionei, tendo citado as obras mais importantes, para mim.
    Não me estendi muito por causa do espaço, mas apetecia-me alargar aos Crosby Stilss Nash & Young, o primeiro grupo que me caiu no goto e que me fez comprar a Rock& Folk logo em 1974. A composição Teach your Children, acompanhada a pedal steel guitar por Jerry Garcia, dos Grateful Dead, marcou-me para sempre.
    Já que falou nos Grateful, concordo com o valor da música que produziram e no estilo country rock passou-me a referência e não apontei um dos álbuns mais significativos que é o American Beauty, com Ripples à cabeça.
    Mas podia citar o anterior também e os que foram publicados nos anos setenta, na Arista, salvo erro.
    Porém, como frisei, restringi o artigo ao country-rock mais castiço e redneck, sem grandes misturas bluesísticas.
    Se entrasse por aí, tinha que trazer os Allman Brothers e os Jefferson Airplane e outros Hot Tuna.

    Quanto ao filme Easy Rider, mesma coisa: é o retrato de uma época que acabou em Altamont e parece-me já um reflexo desse espírito. A música pesada dos Steppenwolf só o confirma.
    josé said...
    Fica em lista de espera, meu caro.
    A MPB que eu conheço é toda da mesma época e foi toda ouvida na mesma altura.
    José Nuno Martins foi o mestre, com Os Cantores do rádio, mas há outros: onde pára o Duda Guenes? Grandes charlas que se ouviam na Rádio Comercial, animadas por este profundo sabedor da MPB.

    Então fica aqui um cheirinho:

    O bichinho vicioso, pegou logo dos setenta, com Roberto Carlos, mas como era foleiro, esmoreceu até ao início dos setenta. Aí apareceu Ouro de Tolo de Raul Seixas. Foi um relâmpago, por causa da letra e da música que é muito próxima do country rock, aliás.

    Mas depois, apareceram Chico Buarque e principalmente Caetano Veloso. Há um disco deste último( acompanhado de Gilberto Gil) chamado Temporada de Verão, ao vivo, em 1974 que tem dois ou três clássicos: Felicidade foi embora e também O relógio quebrou, esta de Gilberto Gil.

    Além desses, e pouco tempo antes, Os Secos & Molhados com João Ricardo ( de Ponte de Lima) e Ney Matogrosso a cantarem Rosa de Hiroxima e outras, em dois discos fundamentais.

    Depois, apareceu o oceano da beleza musical em expressão portuguesa: Milton Nascimento. Foi paixão à primeira com o disco CLube da Esquina nº2 e depois( que eram anteriores mas só ouvidos depois) com Minas, Gerais, e um disco ao vivo chamado Milagre dos Peixes que tem a a composição San Vicente.
    Quando me lembro da sonoridade de Saudade dos Aviões, fico nos anos setenta, à espera da Pan Air que já acabou.
    E tem mais. Muito mais.

    Assim que tiver tempo, vou contar como descobri a sonoridade em português e passei a gostar de ouvir João Gilberto e António Carlos Jobim que detestava pelo tom monocórdico e aparentemente singelo de mais.

    Já falei em Taiguara?!
    Não?! Então, vou embora que me perco e não faço o que tenho aqui à frente.
    james said...
    Amordaçaram o papagaio do meu bairro...

    ":O))
    josé said...
    A música tem uma linguagem universal e que dispensa palavras- excepto na popular em que o seu uso se recomenda como condimento importante.
    No entanto, no rock tradicional derivado do wopbabalumabelambambum, as palavras são um adereço e uma redundância muitas vezes onomatopaica e de efeito quase visual.
    Chuck Berry a cantar Johnny be Good, acompanha as palavras ( muito engraçadas, aliás) com danças variadas e acordes únicos que inventou.
    Este conjunto formado entre as palavras engraçadas, os acordes únicos, milhentas vezes repetidos com variações mínimas e a dança que dá corpo ao ritmo é a essência do rock n´roll e do rock abreviado.
    De uma eficácia a toda a prova: ora ponham lá a rodar mentalmente o disco Johnny Be Good...go, go Johnny go! Johnny be good!

    A Justiça é outra coisa.
    É por exemplo, o arquivamento de um processo de alguém que não pagou a tempo, contribuições à Segurança Social em nome dos trabalhadores e o fez a destempo, mas com as desculpas que a lei concede...
    zazie said...
    Ó Atento, seja um bocadinho mais honesto que não lhe fica mal Você pode embicar com o José por mil e um motivos corporativos de velhas querelas entre advogados e MP ou por outras questões de cor e partidarite que mais lhe agrade, o que não pode é dizer que ele não sabe do ofício. Bote aqui uma bacorada que o José tenha dito, para a gente ver, sff. É que eu de si, por acaso, já as apanhei e nem sou de Direito...

    Quanto ao resto também acho que a música é factor de interesse comum em que melhor nos podemos entender. E ainda bem.
    josé said...
    Eu ajudo:

    Aqui há dias escrevi que os juízes começam as sentenças por dizer tabelarmente "O tribunal é competente"...foi uma bacorada que escrevi, por estar distraído e nem reler duas vezes o escrito.

    Quanto ao exemplo de Justiça que dei, podia dar outro:
    Representar e defender ausentes relapsos que são accionados por dívidas com pagamento mais do que devido.

    E ainda outro:

    Atender assistentes sociais que não percebem bem o alcance de um pedido judicial para avaliar psicologicamente uma criança de modo a habilitar o tribunal a decidir uma regulação de exercício de poder paternal.
    zazie said...
    o que é que estava de errado? que os juízes têm de se pronunciar sobre a competência do referido tribunal para julgar um caso ou que não começam a frase assim?

    ";O)
    zazie said...
    Já agora aproveito para fazer a pergunta: qual é a lógica de se dizer que uma pessoa cujo processo acabou por não ir a julgamento é “inocente até prova em contrário”?

    Esta figura não se aplica apenas a quem aguarda julgamento? Quem não tem processo ou é mandado para casa está abrangido por alguma figura legal? Nesse caso até quando?
    Na altura o atento insistiu comigo nesta ideia e só me lembrei que quem não está sob alçada da justiça nem aguarda julgamento terreno só pode ser inocente até prova do contrário no Final...
    “:O.

    Se calhar também estou enganada. Mas tinha para mim que um julgamento serve precisamente para isso, para pôr termo à tal figura de “até prova em contrário”. E quem não é julgado não é automaticamente dado como inocente (nem como culpado, aliás)
    josé said...
    Zazie:

    O que estava errado era dizer-se que os juízes nas sentenças começam por dizer que " o tribunal é competente"

    Se tivesse dito "nos despachos saneadores" já não me corrigiria.

    Mas foi um pormenor, no contexto geral em que escrevi, ao significar que o tribunal deve apreciar a competência material do tribunal como atinente a um pressuposto processual.

    Quanto às picardias, atenham-se nas músicas que a linguagem é de harmonias e melodias, em ritmos variados.
    Mesmo as dissonâncias, em música têm o seu lugar. E há o acorde do diabo, também...é um acorde em tom menor e fácil de identificar: é bizarro qb e inserido numa harmonia desafina o resto.

    Quanto a desafinanços, ontem ainda ouvi uns cantares com som muito mal apanhado e que passou na RTP1 num programa demasiado mau para poder ser relatado aqui.
    Alguém notou, mesmo assim, que as músicas entoadas em marcha pela avenida fora, soavam todas, mas mesmo todas desafinadas?!

    Que RTP é esta que passa um programa destes?
    Conheço uma pequena aldeia, no Norte mais ao norte que faz muito melhor- e com meios muito mais contados! Até fazem concursos de quadras populares!
    josé said...
    De facto, muito bem atento.

    Trata-se de um intervalo, com audição bizarra.

    Assim, de momento, lembro-me dos King Crimpson de Larks Tongue in aspic, salvo erro e desse acor...eh, intervalo dissonante, numa certa passagem.

    Sobre King Crimpson e o rock progressivo inglês, alemão e italiano, ainda um dia hei-de escrever, se tiver tempo.
    josé said...
    E por falar em King Crimpson, vim agora do Aspirinab onde se relata que Robert Fripp o músico dos Crimpson, foi convidado a gravar as sonoridades que irão emoldurar as janelas do próximo Windows Vista.

    Em 95 tinha sido Brian Eno...
    zazie said...
    Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
    zazie said...
    Thanks José, estou esclarecida
    ......................................

    “para pôr em causa a minha honestidade e dizer que eu digo barbaridades”

    Ó atento, deixe-se de patetices. Você gosta de chatear e eu também gosto de lhe responder a esse gostinho, não posso?

    Mas já agora diga-me onde estão os meus disparates. Esclareça-me, sff. Não tenho problema nenhum em aceitar que digo bacoradas em assuntos do meu âmbito muito menos os teria em matéria em que sou leiga. Mas explico-me sempre.


    Ora o atento diz que eu disse bacorada mas não explicou. E eu recordo-lhe o tema, embora para o caso tanto faça, a questão é igual para toda a gente. O atento teimou comigo que o Paulo Pedroso estava na condição de “inocente até prova em contrário” . E eu disse-lhe que não me parecia correcta essa ideia porque ele já não está sob alçada da justiça. Não aguarda julgamento. E que só os julgamentos atribuem sentenças de culap ou inocência (incluindo a de falta de provas) e que quem não se sujeita a julgamento não pode invocar o veredicto que não existiu.

    Em que é que isto é bacorada?

    Então fica-se na situação de presumível inocente ad eternum?

    uma pessoa que cometa um crime e que não se soube e por isso não há processo também é inocente até prova em contrário?

    Explique-se lá e depois enxofre-se. Mas explique-se primeiro, sff.

    e onde é que está a primeira bacorada? a das 4.59? o José já esclareceu e não vi onde estava bacorada numa pergunta natural.

    E depois dizem-me ali em cima que eu é que tenho manias de pedantices nos debates.

    Dizer que alguém disse bacorada e não esclarecer onde e o motivo é que é coisa que nunca fiz.
    zazie said...
    pois, deve ser o acorde do diabo que até ficou mudo

    ehehehe
    zazie said...
    Ora aqui fica uma ajuda.
    http://www.dgsi.pt/bisp2.nsf/0/b5d1be448dfbf12080256c48004d0c44?OpenDocument


    e aqui: “É descabido o lançamento do nome do réu no rol dos culpados, antes do trânsito em julgado da decisão condenatória, eis que afronta a garantia constitucional da presunção da inocência. (ut inc. LVII do art. 5º da CF)”

    http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/dh/volume%20ii/apela290105741.htm

    antes, nunca depois nem quando este não existe. Percebe-se que é uma figura que tende a proteger o arguido enquanto o julgamento não é feito.

    O que não percebo é como é que o Atento justifica que quem não é arguido continue a beneficiar de uma presunção de inocência fora do processo. Em casa, à lareira, com os amigos, com o caraças.

    Por essa ordem de ideias uma pessoa que tivesse apanhado com processo e escapado do julgamento ficava inocente de tudo até à morte.

    Até podia assaltar um banco ou dar em serial Killer que, segundo o atento, era um presumível inocente...

    A presunção de inocência aparece sempre como uma figura ligada a um processo por resolver. Já assim o era na Idade Média e podia depender do rei essa protecção. E existe até o trânsito em julgado. Existe até ao veredicto.


    Onde é que isto nega o que eu disse e prova que as baboseiras são minhas e não são suas, Atento?
    zazie said...
    Atento:

    Se há coisa que não estou para aturar na blogosfera nem em lado nenhum são desonestidades intelectuais.

    Você chegou aqui, olhou para o que eu escrevi, tomou nota da hora e disse que eram baboseiras.

    Eu desafiei-o a explicar-me em que é que eram baboseiras.

    Você agora desconversa.

    Por mim estamos conversados.

    Como não negou, nem respondeu, nem retirou o que me chamou, depreendo que posso concluir que é assim que pensa.

    Pois bem, não se admire se daqui para a frente passe a usar estes comentários como a posição do "atento" perante a presunção de inocência.

    E depois não se arme em "inocente" que não disse isto.

    È que eu fui citada pelo JPP como você foi e uma das acusações mais gravosa prendia-se precisamente com este facto.

    Nunca em lado nenhum deturpei as palavras de ninguém e tenho por hábito ser honesta nos debates.

    Por isso já sabe, se o passar a citar é com o seu anuimento.


    E passe bem que a si é que não contratava como advogado. Pode crer. Nem à borla.

    ";O))
    zazie said...
    mas essa citação serve para quê?

    é claro que eu assumo que disse isso. E quando você reagiu expliquei os motivos.

    Não anda para aqui a chamar nomes às pessoas por gozo. Posso às vezes ser menos simpatica nos debates mas há sempre um argumento ou uma questão teórica no meio.

    Pedi-lhe para me explicar. Você não explicou. Eu expliquei-me e justifiquei-me.
    Se você estava certo que o que eu estava a dizer estava errado o mais que tinha fazer era explicar onde.

    È assim que se faz quando se é honesto.

    Eu sei sempre reconhecer um erro.

    E mais, também sei pedir desculpa.

    Agora o que não sei nem nunca estive interessada em saber era mandar para um ar uma boca, dizer que alguém estava a dizer coisas erradas e depois virar as costas.

    Não sou de compreensão lenta. Bastava você ter escrito uma mera frase a explicar-se que eu já tinah entendido.

    No meu caso até sou capaz de perder muito tempo a explicar os meus argumentos às pessoas. Por vezes até à exaustão. E só depois, se não compreendem ou se armam em parvas é que desligo.

    Tenho por mim que isto são regras tácitas nestas janelinhas. De outro modo para que se havia de perder tempo nisto?

    é capaz de me dizer?

    Já me aconteceu de deixar de comentar em mais do que um blogue por estes motivos.

    Uma das vezes a pessoa escreveu um texto gigante, e trabalhoso para legitimar um argumento.

    Poucas pessoas se deram ao trabalho de o ler. Eu dei-me porque ela me pediu para o comentar. Até copiei aquilo para word e estive mais de meia hora a lê-lo e outro tanto (ou mais) para responder ponto por ponto.
    Qual foi a reacção da "piquena" teórica?

    Disse que eu não tinha entendido e que me estava a repetir e foi-se embora

    ehehe um disparate.
    Vocé agora está a fazer figura idêntica. Pega nas minhas palavras para dar cobertura às suas. Com a diferença que eu já perdi uma boa parte da noite a justificar as minhas e você chega aqui e vira as costas.

    Por isso repito: se o citar não venha dizer que não é esta a noção que tem de "presunção de inocência" ou "inocente até prova em contrário.

    Fique bem atento e mude de nick que atenção não me parece ser o seu forte.
    zazie said...
    e para que não volte a deturpar as minhas palavras aqui fica bem claro o motivo em que não o entendo:

    o atento teimou comigo que o Paulo Pedroso pelo facto de não ter ido a julgamento era "inocente até prova em contrário".

    Eu achei que essa figura só fazia sentido para quem aguarda julgamento.


    1- Até agora não foi capaz de refutar esta simpes questão e insiste em dizer que são disparates meus.

    2- Ser inocente até prova em contrário para o atento é uma figura jurídica que se aplica a quem foi mandado para casa e já não vai a julgamento.

    3- Não é capaz de me explicar quando termina essa qualificação, motivo pelo qual lhe pergunto se então se deve ficar à espera do Julgamento Final.


    Foi isto.
    zazie said...
    Também tenho razões para me parecer estranha essa ideia e a defesa dela por parte de um advogado.
    E sou capaz de as explicar:

    1- Dá-me ideia que a figura de “presunção de inocência” não deve ser apenas um lugar comum para o “público” não pensar que fulano é culpado de algo que ainda não foi provado.

    Deve ser uma questão mais técnica que me parece que deve ter a ver com direitos e regalias que uma pessoa que é envolvida num processo merece até que o dito tenha desfecho.

    Até porque quem acusou pode vir a tirar a queixa ou negar tudo em tribunal.

    2- Por esse motivo, não entendo que essa noção se aplique a quem não está envolvido em processo.

    Se assim fosse era uma espécie de “doutrina” pública que nem precisava de Tribunais para nada. Bastava vir o Presidente à televisão e dizer que por Constituição nenhum cidadão deve ser alvo de boatos ou difamações.

    Só não podia dizer que as pessoas não eram livres de pensar o que bem entendessem.

    3- Não compreendo como é que todos os cidadãos que não estão sob a alçada de um processo de justiça tenham de o estar por uma figura técnica da mesma.

    Para isso existem os confessores. Esses é que dizem que está absolvido até à próxima e esperam pela confissão do domingo seguinte...
    zazie said...
    E pela resposta o que li vai ao encontro do que eu disse!

    "Depois de "sair fora" do processo, obviamente deixa de ter a qualidade de arguido e portanto já não faz sequer sentido falar dessa presunção."

    Exactamente! foi sempre isso que disse e está aí em cima para quem quiser ler.

    O atento é que insistiu que o PP, depois de ter sido mandado para casa continua como "arguido" pois insistiu comigo que sobre ele recaía a presunção de inocência- que era inocente até prova em contrário.

    O que o atento acaba de mostrar é que estava errado. Não eu.

    No entanto devo-lhe dizer que não sei a diferença de grau entre quem é pronunciado e vai e a julgamento e quem não é pronunciado por se ter considerado inexistência de matéria para o mesmo (depois de muito recurso).

    Por outras palavras- entendo que quem é julgado possa sair com prova de inocência por vários motivos- seja por falta de provas, seja por retiro de acusação.

    Assim como sei que pode ser acusado e pagar pelo facto por se ter entendido que as provas levavam a essa conclusão.

    Agora quem não vai a julgamento e não é confrontado com nada, nem sequer com a acusação (que até tem direito a continuar a acusá-lo em tribunal no depoimento de outros) é tido por inocente?

    Não sei. Logicamente fico com a ideia que ao se retirar um processo fica-se na qualidade de cidadão. Não se é arguido. E que isso não diz absolutamente mais nada.

    Como não diz de toda a gente sobre a qual não recaiam culpas nem acusações julgadas por tribunal.

    Não é assim?

    De qualquer modo mais uma vez obrigada. Não ando para aqui com interesses em chamar nomes às pessoas mas sempre fui muito curiosa nestas matérias.

    Quanto mais não seja pelo facto de já ter andado 8 anos em tribunal e mais recentemente ter ganho outro processo. E sei que há advogados que nos podem estragar um caso.

    Acredite que há. Se não fosse assim chatinha já me tinha lixado...

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