Um ano, dois equívocos

O Paulo Gorjão e a Constança Cunha e Sá continuam entretidos num curioso ping pong acerca do balanço que pode ser feito do primeiro mandato de Marques Mendes. Os termos argumentativos de um lado e de outro são absolutamente representativos do que está mal na análise (política) portuguesa. Ficam-se pela espuma.

Constança Cunha e Sá acha que é preciso contemporizar com Mendes por causa de... Santana Lopes (já só falta daqui a pouco apontar o argumento para o futuro e 'agitar' com o fantasma do dr. Menezes, outro da mesma estirpe). Já o Paulo Gorjão aparece com uma tese um bocadinho mais elaborada, acusando Mendes de desnorte estratégico e déficit de oposição. Tendo 'razão', a uma e a outro convinha que caíssem no real. É que o PSD, como qualquer partido, não existe no vácuo. Existe num contexto determinado, num país real. E não, a culpa não é toda do Dr Lopes. O Dr. Lopes foi um corolário (desastroso) de uma série de fenómenos que vinham muito de trás, alguns mesmo do tempo do Dr. Cavaco, ou até antes, e que se mantém inalterados. Foi eleito - sem oposição - em Congresso, e quem o elegeu, quem o 'elevou' - por acção e omissão - continua por aí. Não perceber isso é não perceber nada.

Depois, e é isso que que escapa ao Paulo Gorjão, como escapou outro dia ao VPV, não basta - para ser credível - ao PSD passar a ser apenas muito bom no marketing - em política a memória é muito curta, e estamos a demasiado tempo das eleições. O que falta ao PSD é outra coisa - é consistência. Não é aparecer com diferentes luminárias, a defender casuisticamente, num Governo sombra ou noutra coisa qualquer, isto e aquilo, é ter consistência programática que o torne de novo credível. Dito isto , eu não acho que falte a Mendes uma estratégia. Ele, manifestamente, tem uma. E essa estratégia, decalcada da de Barroso, baseia-se simplesmente em resistir, na premissa de as alternativas serem 'piores', até o 'poder' estar de novo à vista. É pouco, mas funcionou com Barroso.

E depois, há algo que os analistas sistematicamente esquecem - da última vez que Mendes 'ousou', ao vetar Valentim e Isaltino e ao comprar uma guerra com Jardim (e nem falo do veto ao OE) - qual foi o retorno ? Zero, desde o desdém das reservas morais, de Rio a Pacheco até Ferreira Leite, até à indiferença dos colunistas... Dito isto, entre Mendes e uma starlet 'à Marcelo' que durante uns meses ofusque o estado do PSD profundo, prefiro o Dr. Mendes. Não compromete, não envergonha e, sobretudo, não tem pretensões a apresentar o partido como aquilo que não é.

E, neste momento, doa a quem doer, o PSD não está preparado para voltar ao poder. De facto, não o está desde que Cavaco se foi embora, não aprendeu nada dos erros dessa época (o único que aprendeu foi mesmo Cavaco), e sobretudo não tirou ainda nenhuma conclusão acerca do que se passou com Barroso e Santana. As raízes, as sementes , estão todas lá. Ora, eu, do meu partido, não espero que ele ganhe sempre, por definição. Espere é que seja sempre o 'melhor', em qualquer circunstância. Se for para jogar mal, então é melhor deixar estar lá os outros. Assim, não me envergonho.

Pedir por aí que se pinte a loja e retoque a montra quando o stock continua o mesmo parece-me manifesta ingenuídade. A vida política portuguesa não precisa de 'animação' (para isso chamem o Marcelo e o Portas) precisa que lhe mudem as regras. E, essas regras não podem ser só mudadas, de 'cima', por este ou por aquele dirigente partidário. Só mudarão quando houver uma pressão real, de toda a sociedade a dizer que está farta. Até lá, 'no dice'. Mendes está a jogar estritamente 'by the book'. Do livro errado, talvez, mas do mesmo livro, florentino, do Paulo Gorjão e da Constança Cunha e Sá. Ou estarei enganado ?

Publicado por Manuel 17:08:00  

1 Comment:

  1. Anónimo said...
    ARROGÃNCIA NA ANÁLISE DOS OUTROS :

    O Paulo Gorjão e a Constança Cunha e Sá continuam entretidos num curioso ping pong acerca do balanço que pode ser feito do primeiro mandato de Marques Mendes. Os termos argumentativos de um lado e de outro são absolutamente representativos do que está mal na análise (política) portuguesa. Ficam-se pela espuma.

    Eles são só espuma. Depois procura-se na GLQL onde está a água do mar e o que se encontra é um lugar comum: as coisas só mudam quando a sociedade fizer uma "pressão real" para mudar... Grande novidade! Indigencia argumentativa e arrogância não falta ...

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