A Visão da Sábado
quinta-feira, janeiro 19, 2006
A revista da Cofina, que sai agora à Quinta-feira e que se intitula Sábado, decidiu investir todo o esforço de uma semana de investigação jornalística, no apuramento da identidade de proprietários de números de telefone que se encontram numa listagem apócrifa, em apenso ao processo Casa Pia. “ A Sábado ligou para os números no Envelope nº 9-leia os diálogos”.
O que se pode ler, então?
Nas páginas interiores, despidas de grandes revelações, no artigo sóbrio e ponderado, aparecem 16 numerários identificados e anónimos. Um dos diálogos é assim:
“Sabia que o seu número de telefone de casa consta do processo Casa Pia?
- Soube através do jornal 24 Horas.
- “O que pensa disso?”
- Penso que vou pedir esclarecimentos às autoridades competentes porque, atendendo ao teor da notícia, parece-me tratar-se de um procedimento ilegal.”
Outro, assim:
“Foi publicado o conteúdo de um ficheiro com uma série de números de telefone cuja factura foi pedida pela investigação do processo Casa Pia à PT. Este número é um deles.”
(...)- Não sei de nada. Este telefone foi pedido há seis meses.
No miolo do artigo vestido com alguns factos, vem uma declaração cândida e presumivelmente inocente do advogado info-excluido Ricardo Sá Fernandes que defende um dos arguidos do processo:
“Em Janeiro de 2005, quando Carlos Cruz começou a depor no julgamento, pedi para ver os registos de todas as chamadas feitas pelos arguidos e pelos seus familiares. Não sei nada de informática e pedi a um técnico para fazer o cruzamento de dados, para tentar perceber se havia algumas chamadas dos arguidos uns para os outros. Não havia. Não me apercebi da existência de outros números, muito menos do Presidente da República ou do procurador-geral. Copiei os ficheiros e entreguei-os a vários colegas da defesa.”
E principalmente, aparece, em dois pequenos períodos, na viragem da pág.45 para a 46, esta verificação extraordinária:
“Não se sabe, para já, se os investigadores do Ministério Público fizeram o tal clique e controlaram as chamadas feitas pelos titulares dos cargos de soberania. Ou se, simplesmente, não conseguiram descobrir os números escondidos no ficheiro apesar de na investigação terem o apoio de peritos informáticos.” !!!
Isto que não se sabe, porém , deu para que se escrevesse nos Bastidores da revista Sábado, assinado pelo director Miguel Pinheiro:
“Quem esta semana entrasse na redacção da Sábado podia achar com razão, que nos tínhamos tornado num call center. (...) Tanto trabalho só podia Ter sido provocado pelo procurador-geral da República. A lista de telefones privados de altas figuras de Estado que foi enviada pela PT aos investigadores...bla bla bla” (...) no artigo assinado pelos repórteres Rui Gustavo e António José Vilela que publicamos a partir da página 40 procura explicar todos os mistérios deste lamentável episódio”
Todos?! E então os principais e mais importantes, ficaram explicados?! Que vergonha de jornalista!
E a fls. 12, em editorial, a revista repisa o assunto, em colectiva indignação:
“ Chegue o inquérito da PGR à conclusão a que chegar – à hora do fecho desta edição não tinha chegado a nenhuma-, sejam os investigadores do processo Casa Pia uns incompetentes ignorantes ou uns perigosos espertalhões ( as duas únicas hipóteses possíveis), pelo menos uma coisa é certa: o comunicado que Souto Moura emitiu na passada Sexta-feira é negligente e mentiroso. Negligente porque o Procurador não tinha investigado ainda nada e, mesmo assim, numa altura de crise que exigia bom senso, escreveu um papel com sentenças definitivas. Mentiroso, porque hoje já se sabe que, efectivamente, para lá de qualquer dúvida, o Envelope 9 tem mesmo as disquetes com centenas de números privados de altas figuras do Estado.”
Este escrito colectivo é a imagem de uma revista portuguesa de grande informação que se quer digna, profissional e competente!
Vejamos o comunicado da PGR de Sexta-feira 13. Diz expressamente:
“Na edição de hoje do jornal “24 horas” foi publicada uma notícia, da autoria dos jornalistas Jorge Van Krieken e Joaquim Eduardo Oliveira, com o título na primeira página “Até os telefonemas de Sampaio foram investigados no processo Casa Pia”. De acordo com essa notícia, o Ministério Público solicitou à PT e juntou aos autos facturação detalhada de números de telefones da rede fixa instalados em residências de vários titulares de órgãos de soberania e pessoas que detêm ou já detiveram elevados cargos públicos, integrando essa notícia uma listagem dos nomes dos titulares dos telefones em causa e do número de chamadas efectuadas através desses telefones. A facturação em causa, ainda segundo a mesma notícia, estaria em cinco CD’s juntos aos autos, guardados no envelope nº. 9. 2. Tal notícia é falsa. (...) 3. Tal facturação detalhada foi solicitada à PT, por despacho do Ministério Público, a coberto de despacho do Juiz de Instrução Criminal competente, e reportava-se, exclusivamente, ao telefone fixo da pessoa indicada, a qual, à data, estava a ser investigada. 4. Não foi, em momento algum, pedida a facturação detalhada dos telefones instalados nas residências citadas das pessoas em causa, não existindo – nem podendo existir – no processo qualquer despacho a solicitar à operadora PT o envio desses elementos.
E é. Efectivamente. Redondamente falsa.
Os factos já conhecidos, permitem saber – e a Sábado investigou...- que os elementos que o jornal apasquinado, 24 Horas, publicou como sendo a expressão da mais pura verdade, não o eram de todo.
O facto de alguém da PT ter remetido os elementos agora apocrifamente revelados, não significa que os mesmos tenham sido vistos, mesmo que estivessem à distância de um clique, como diz a Sábado; e muito menos investigados.
Ao escrever que “O envelope nº. 9, a que se reporta a notícia, contém 5 disquetes onde se encontra registada a facturação detalha de um único telefone fixo atribuído a um dos indivíduos constituídos arguidos no processo, o Dr. Paulo Pedroso”, isso significa que só disso houve conhecimento no processo.
O facto de as disquetes poderem conter outros dados, se não forem do conhecimento da investigação, tornam, imediata e irremediavelmente, o comunicado mentiroso?!
Tembém é rotundamente falso que “Até os telefonemas de Sampaio foram investigados no processo Casa Pia”. Não foram nem poderiam ser e ninguém das defesas ou do ataque ou do lado dos árbitros viu tal coisa no processo.
Onde está então a mentira da PGR apontada a dedo pelos editorialistas da Sábado ?!
A direcção da Sábado sabe ler português?! Sabem os jornalistas (?!) que a compõem o que significa o verbo investigar aferido a um processo crime? Sabem o que significa ligar a expressão “os telefonemas de Sampaio” à actividade dos investigadores do processo e o que isso implicaria se fosse verdadeiro?!
Não sabem ou não devem saber. Nem leram a reportagem dos próprios jornalistas e que publicam... na revista!
Se lessem, recolhiam a prosápia e dedicavam a capa da revista a assuntos de pesca. Actividade em que provavelmente se sentirão mais versados. Em águas turvas, porém- porque foi o que sucedeu.
Depois disto, torna-se perfeitamente compreensível que na pág.16 apareça o sempre presente nestas alhadas, Pacheco Pereira, a perorar sobre “uma história mal contada”; que apareça na pág. 18 a opinião de João Marcelino, o intrépido repórter do Correio da Manhã das capas sensacionalistas; na pág. 50 o relatório minoritário de Nuno Rogeiro; na pág. 71 o primeiro plano de Filomena Martins (?) que define tudo como “mais uma rábula da justiça” e depois se põe com considerações dolosas de meter dó; na pag. 81 o caso, cara e conta de Sérgio Figueiredo que reclama responsabilidades para pagar o escândalo, ficando por saber se as vai pedir na mesma se se vier a descobrir que foi alguém da PT que meteu a pata na poça e se o jornal e a revista também tiverem molhado os pés; na pág. 92, a opinião avalizada de um tal Alexandre Pais que inventa a nova designação de “perturbador-geral da República” para acrescentar irrisão ao comentário insosso; na pág 120 o Homem a dias, Alberto Gonçalves também lava a roupa suja da sua opinião singela de sabidolas de blog para elucidar o público leitor que “O 24Horas revelou que os telefones de altas figuras do Estado foram vigiados pelo Ministério Público durante ano e meio.”!!!
Na pág. 5,7,9 e 11 da revista , o BES paga uma quota parte a quem isto escreveu.Na pág. 93 é o DN e o JN, quem paga;
Aqui fica também a declaração: ao dar 2,75 euros por esta revista, também deixei lá o óbulo. Em troca, em vez de informação isenta, competente e séria, apanho com esta pasquinada em que todos os artigos de opinião têm o mesmo sentido; todas as reportagens vão na mesma direcção e nem as fotos desviam a atenção desta vergonha jornalística . Basta. Não há mais euros para a Cofina, do meu bolso.
Há um pormenor delicioso na reportagem da revista. A notícia do 24 Horas foi comunicada pelas assessorias do PR e do PGR, por ocasião do lançamento do livro “Jorge Sampaio- um cidadão igual a nós. “ Igual?!!
Publicado por josé 23:12:00
Eheheh...
Como diria o outro: Safa!...
Lagarto lagarto!
5 disquetes levam 60 vezes mais do que isso.
Se os ficheiros forem "zippaddos", então nem se fala - são as tais 80.000 chamadas, claro.
Ou seja:
Alguém recebe 5 disquetes com ficheiros "zippaddos" e acredita que só estão ali umas centenas de linhas?
Bem... se for a porteira do meu prédio... talvez.
Ela sabe que um ficheiro Excel com 80000 registos é impossível...
O Excel está limitado a 65536 registos!