crónicas de uma desilusão anunciada

A vida política indígena atravessa mais um momento (a)típico. Fala-se da crise, dos sacríficios precisos para a debelar, até de novos amanhãs que cantam, mas tudo soa a falso, a efémero e conjuntural. Nunca, nem nas últimas legislativas, se discutiu tão pouco a realidade, tal como ela é, como nestas eleições presidenciais. E se nas últimas legislativas havia, de facto, uma boa e pertinente desculpa, o país livrava-se de Santana Lopes, que se pelo menos não desculpa Sócrates o contextualiza, agora simplesmente não devia haver 'desculpas'. Mas há-as, e para todos os gostos. Graças às presidenciais o Governo atravessa um novo estado de graça onde tudo - mesmo tudo - lhe é literalmente permitido, chegando-se ao ponto de assistirmos impávidos a episódios que não ficarão muito atrás de outros, nos tempos idos do Dr. Lopes. Nas esquerdas engole-se tudo em seco, para não estragar a convergência, pulverizada em quatro (!) candidaturas, contra Cavaco, e à direita, com o pretexto balofo de não hostilizar o eleitorado de Sócrates, pura e simplesmente ignora-se tudo. Sobre as esquerdas outros falarão melhor, e com mais habilitações, mas quem pensa que é silenciando toda ou quase toda a actividade política do PSD e do PP até às presidenciais, com vista a não perturbar a 'alegada' estratégia de Cavaco além de louco, irresponsável, e politicamente analfabeto, presta um péssimo serviço a Cavaco e ao País. Nestas últimas semanas as únicas coisas coisas que de facto 'aconteceram' foi a infeliz entrevista de Cavaco ao JN, com a sugestão de um novo secretário de estado, foi o debate e a 'educação' de Soares, uma estranha tese do Dr. Soares sobre a comunicação social onde só lhe faltou apelar à auto-censura desta de cada vez que uma sondagem desse Cavaco como vencedor, e é agora a questão (hipócrita e onde estavam todos, sem excepção, melhor bem caladinhos) dos financiamentos das campanhas e... pelo meio um estranho e convergente consenso de regime que passa por desconversar sobre a GALP e os espanhóis. Sobre a crise, sobre a estagnação da economia, sobre o futuro concreto, nem uma palavra. Todos, de uma forma ou de outra, prometem que com 'eles' lá será diferente para melhor, mas pela amostra que vamos tendo, não se percebe mesmo como. Estas presidenciais eram o momento para se falar a sério e com rigor, livres dos espartilhos partidários, da crise. Da crise de valores, da crise do sistema político, da descrença neste de uma parte substancial da população, eram o momento ideal para reaproximar, pela sua natureza desintermediada, o sistema político, na pessoa do seu agente máximo, dos eleitores. Acontece rigorosamente o oposto. Eurominas ? - ignora-se. Manuel Pinho/GALP/Eni/EDP/Iberdrola/Pina Moura/BCP/BES/Durão Barroso/Carlos Tavares/António Mexia/Goldman Sachs/PLMJ/Vitorino/etc ? - mandam-se umas larachas sobre os espanhóis, omitindo que o problema é um 'bocadinho' mais complexo e ultrapassa em muito o extraordinário polimorfismo de Pina Moura e tudo fica arrumado. E é assim dia após dia.
Como é impossível manter este estado de coisas por tempo indeterminado, qual panela de pressão, a realidade, mais dia menos dia, vai acabar por voltar à ordem do dia. E aí vai ser lamentável, volvidos um par de meses sobre as presidenciais, discutir a legitimidade do PR para fazer isto ou aquilo, para falar mais ou menos grosso, pela razão pura e simples que independentemente da expressividade dos resultados quase tudo aquilo que devia ser dito, ou pelos menos discutido, em campanha de facto não o foi. Jorge Sampaio', um figurante secundário, que chegou a PR por força do acaso e que nunca ninguém levou a sério é que tem razões para se rir...

Publicado por Manuel 17:25:00  

1 Comment:

  1. AM said...
    A realidade?! talvez noutro país...
    não deve ser por acaso que ninguém comentou...

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