médio-oriente

A análise da situação no médio-oriente é um dos pontos fracturantes que alegadamente divide a (nossa) esquerda e a direita. Para os 'especialistas' tudo é cristalinino, tudo é claro. Claríssimo. E quando os factos não batem certo com as verdades 'deles', bom, ignoram-se. Bush, afinal, tem as costas largas...

Aínda na Veja desta semana pode ler-se uma entrevista feita a Bassem Eid, um palestiniano de 47 anos, pai de oito filhos e morador de Jericó. Em 1988 Eid começou a trabalhar para uma ONG israelita que investigava abusos das tropas de Israel nos territórios ocupados. Em 1996, com a ajuda de doadores europeus, fundou o Grupo Palestino de Monitoramento de Direitos Humanos, que denuncia violações de direitos humanos cometidas pelos próprios palestinianos e que têm como vítimas os habitantes da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Por causa da sua actividade o ex-jornalista é vitima de constantes ameaças à sua vida. Alguns excertos:

Estamos vivendo um período de terror que nada deve aos piores momentos da ocupação militar israelense. (...) A matança promovida por grupos armados contra integrantes de facções rivais, debaixo do nariz das forças de segurança palestinas, responde pela maioria das mortes. A violência sob a chancela oficial também é alarmante. Há casos de pessoas que ficaram três anos detidas sem acusação formal. Tivemos palestinos mortos na prisão e outros ameaçados, torturados e perseguidos como se fossem bandidos. São pessoas acusadas de colaborar com os israelenses, mas o único crime da maioria dessas vítimas foi divergir da Autoridade Palestina.

A vida dos palestinos na Faixa de Gaza melhorou após a retirada das tropas israelenses?

Se alguma coisa mudou, foi para pior. Por incrível que pareça, os palestinos tinham mais segurança. As tropas israelenses impediam que os grupos armados agissem livremente. Depois da retirada, os terroristas do Hamas impuseram a lei do terror aos moradores de Gaza. Além disso, passaram a lançar mísseis contra as tropas israelenses do outro lado da fronteira. Estas respondem com tiros e acabam atingindo civis.

Yasser Arafat, o presidente da Autoridade Palestina até morrer, em 2004, foi um ditador. Ele usou a ocupação israelense todo esse tempo como desculpa para seus erros. Aliás, a mania de responsabilizar os outros pelos próprios fracassos é uma característica da sociedade palestina. O que os israelenses têm a ver com as violações de direitos humanos cometidas por palestinos contra palestinos em nossas prisões? Nada, mas insistimos em culpá-los. Arafat governava de acordo com seus interesses pessoais, e não com os do povo palestino. Ele comandava pessoalmente os grupos armados que alimentavam a intifada. O pior de todos (os erros cometidos por Arafat) foi a roubalheira que ele patrocinou. Arafat tomou posse como presidente da Autoridade Palestina em 1996, mas já era corrupto desde que assumiu a liderança da Organização para a Libertação da Palestina, trinta anos antes. O mundo fechou os olhos porque Arafat sempre foi peça-chave para um acordo de paz com Israel. Desde 1996, estima-se que mais de 60% da ajuda financeira internacional aos palestinos tenha sido desviada.

O problema é que ele (Mahmoud Abbas) tem o DNA ideológico de Arafat. Ambos fazem parte da mesma geração de líderes palestinos que surgiu e cresceu sob regimes autoritários do Egito, Síria, Argélia, Iraque e Jordânia. Esses políticos nunca praticaram nenhum tipo de democracia. A liderança israelense e a palestina passaram a depender do conflito para sobreviver politicamente. Foram assinados vários acordos de paz, e sempre um dos lados acaba tomando a iniciativa de violá-los. Não acredito que a liderança palestina esteja interessada em fazer a paz com Israel. Tampouco vejo empenho do governo israelense em selar um acordo definitivo. É duro, mas essa é a realidade no Oriente Médio. Tivemos (os palestinos) várias oportunidades de fechar um acordo definitivo, inclusive os que contemplavam a criação de um Estado independente. Mas o rancor pelo sofrimento vivido e o orgulho sempre falaram mais alto, e acabamos desperdiçando todas essas chances.

O direito de retorno dos refugiados ao território que hoje constitui Israel é uma bandeira usada mais pela Autoridade Palestina do que pelos próprios refugiados. A insistência de incluir essa exigência como questão inegociável foi um artifício utilizado por Arafat em 2000 para irritar os israelenses e mantê-los sob pressão. O que realmente interessa a esses refugiados e descendentes é obter emprego, moradia digna, hospitais e escolas para os filhos. O que nós, palestinos, precisamos é de uma economia robusta, para termos acesso a uma vida mais digna. O mundo acredita que o Oriente Médio será um paraíso se houver paz entre israelenses e palestinos. Não é bem assim. O ex-premiê israelense Shimon Peres acertou quando disse que o desenvolvimento econômico da região. (...) Por isso, considero mais importante priorizar o desenvolvimento econômico dos palestinos do que a criação do Estado independente.


via Gândavo

Publicado por Manuel 17:53:00  

2 Comments:

  1. sabine said...
    Caro Manuel: existem muitas verdades e a questão israelo-palestiniana é demasiado complexa para uma só verdade estar totalmente correcta.
    Em relação ao testemunho palestiniano: concordo que yasser Arafat foi um ditador. Um ditador a juntar aos condicionalismos israelitas.
    Tenho muita pena dos palestinianos e israelitas, por passam o tempo a matar-se uns aos outros pelas piores razãoes!
    André said...
    Não me surpreendem estas acusações. Só provam o que, num post que aqui escrevi quando da reitrada israelita em Gaza, tinha avisado -- na altura, questionei: «Veremos como estão os palestinianos em Gaza daqui a alguns meses, para saber se o mal era mesmo dos israelitas».

    Estou, por isso, totalmente de acordo com os pressupostos do post aqui deixado pelo Venerável Irmão Manuel.

Post a Comment