uma história cor de rosa

É espantosa a forma como são tratadas na comunicação social as notícias sobre certos acontecimentos. A forma como se elegem alguns casos e se faz por ignorar outros... A diferença de critérios é abissal e não pode ser inocente.

Vejamos alguns casos recentes. Segundo foi relatado pelo jornal Público, na edição desta segunda feira, 31 de Outubro, um alto quadro do Ministério Público, que foi secretário de Estado da Justiça num governo de Guterres é suspeito de ter dado uma preciosa ajuda a Fátima Felgueiras. Os factos foram denunciados a Souto Moura, mas parece que não tiveram qualquer consequência. E ainda houve umas pressões sobre testemunhas, etc e tal. Pois bem, a TSF agarrou este caso com unhas e dentes e durante todo o dia não se calou com o assunto. Em todas as aberturas de noticiário, a cada meia hora, lá vinham as pressões e as denúncias no caso Felgueiras. Nos telejornais, evidentemente, o assunto não podia passar em claro. O país todo ficou preso (se é que ficou) com mais umas tranquibérnias no caso de Fátima Felgueiras. Como se, para nós, tais factos constituissem uma grande surpresa. Já todo o país percebeu que a Dona Fátima só está em liberdade porque beneficiou e continua a beneficiar de grossas cumplicidades na máquina judicial e no próprio Governo socialista.

Em contrapartida, o mesmo jornal Público, há cerca de um mês, no dia 23 de Setembro, fez a denúncia de um caso escabroso, a que já aqui, aqui e aqui, nos referimos e que envolveu seis "notáveis" socialistas (José Lamego, António Vitorino, Alberto Costa, Vitalino Canas, Narciso Miranda, José Junqueiro e Luis Patrão) um caso que ficou conhecido (mas pouco ...) por Dossier Eurominas, em que o Estado Português foi prejudicado em 12 milhões de Euros, mas que não teve qualquer reflexo na comunicação social. Alguns comentadores fizeram-lhe referência, mas tudo acabou rapidamente, sem grandes perturbações.

E na passada sexta feira, o semanário "O Independente" publicou uma entrevista com o advogado José António Barreiros, em que este fala de um caso, tanto ou mais escabroso que o do Dossier Eurominas, passado em Macau, há cerca de 17 anos, com o actual ministro da Justiça, Alberto Costa, que revela o baixo carácter deste cavalheiro e a sua evidente cumplicidade com a empresa Emaudio, uma criação do clã soarista. Ao tempo, a Emaudio estava empenhadíssima em "sacar" a televisão de Macau ao património do território, mediante uns truques baixos que o entrevistado não revelou, mas que um dia destes posso aqui contar com mais pormenor. Desta denúncia, nem uma palavra ecoou na rádio. A TSF não lhe pegou. A Antena 1 também não. Não passou nas televisões. Logo, não existe. É assim que se controla a opinião pública.

Conforme se compreende, o que verdadeiramente conta é o eco que uma determinada notícia encontra na rádio, sobretudo nas rádios de noticiários frequentes, que de meia em meia hora voltam à carga com os assuntos. Quais são essas rádios? Principalmente a TSF e a Antena 1. Quem controla essas rádios? Pessoas ligadas ao Partido Socialista !

Ora, se atentarmos bem nestes três exemplos, não custa perceber que o caso de Fátima Felgueiras, não obstante toda a máquina tenebrosa que está por detrás, tem como figura central uma pilha-galinhas de âmbito regional, que mais tarde ou mais cedo desaparecerá de cena. Os outros dois casos fiam mais fino. Envolvem altas figuras do Partido Socialista, alguns deles membros do Governo ou deputados da Assembleia da República. O caso de Alberto Costa, actual ministro da Justiça (imagine-se em quem mãos se encontra a Justiça portuguesa!) é mais revelador e comprometedor. Naquela aventura da televisão de Macau é o próprio Mário Soares que está envolvido. É ele o principal responsável pela golpada que a Emaudio estava a preparar-se para fazer em Macau. O governador, Carlos Melancia, foi colocado por Soares em Macau. Era conivente com o esquema, assim, como todos os outros elementos, membros do PS, envolvidos na operação. Esta golpada, por sinal falhou, mas outras tiveram melhor desfecho para eles. A jóia da coroa foi a Fundação Oriente.

Não surpreende, por isso, que a TSF e a Antena 1 tenham ignorado os dois casos que comprometem altas figuras socialistas. Sobretudo no caso da Emaudio e da aventura de Macau, nem o mais leve suspiro. Está em causa o grande patriarca Mário Soares, ainda por cima um dos actuais candidatos à presidência da República. Quanto ao caso de Felgueiras, embora envolva umas quantas cumplicidades socialistas, a figura central é a mediática Fátima, que consegue atrair mais atenções do que os cúmplices dos bastidores. Os danos são mais fáceis de controlar. Algumas cabeças rolarão, mas de personagens menores. Falar do caso de Macau é que nem pensar. O grande peixe que poderia vir à rede seria o próprio Mário Soares.

(..) A agitação em torno do caso de Felgueiras e de outros que hão-de aparecer, não é inocente. Eles têm necessidade de inundar o circuito noticioso com questões menores, mais popularuchas, que permitam desviar as atenções dos casos que podem beliscar a imagem dos socialistas no governo e, principalmente, a imagem do grande timoneiro, agora em campanha eleitoral. (...)

Sokal Bricmont

Publicado por Manuel 16:36:00  

2 Comments:

  1. n/d said...
    O que todos estes casos têm em comum é a sua comlexidade, o facto de a sociedade/espectadores não terem a correcta percepção do que foi violado e o que isso implica. Repare-se na diferença de tratamento e reacção deste casos face ao caso do favorecimento da filha do ex-ministro dos negócios estrageiros. Aí tudo era claro, todos se identificavam com a situação, aqulquer um a entendia.
    Ora perante casos tão subtis e complicados que são referidos não é possível à comunicação social explicá-los e expô-los em toda a sua dimensão. As únicas entidades com os poderes e meios (já para não falar nas responsabilidades...) são: o Ministério Público, PJ, Assembleia da República, Presidente da República. São estas as instituições. Todas com competências diferentes, mas quer no plano político quer judicial, são os órgãos que deveriam intervir na denúncia, na promoção das investigações, na publicidade dos casos através de comissões e recepções, na investigação em si mesma, etc.
    Aquilo que presenciamos é o constante silência de qualquer uma destas autoridades, principalmente do MP (descontado os comunicados insultuosos para qualquer cidadão, como aquele a que o Público faz hoje referência, a propósito do caso Felgueiras). Compare-se este deserto, esta resignação (forçada), este silêncio, com o recente caso nos Estados Unidos, onde embora a política esteja sem dúvida presente, mas podemos observar o FBI, os tribunais e o MP a desempenharem as suas funções.
    Não podemos culpar a comunicação social, devemos sim é culpara e exigir contas às instituições que têm essas responsabilidades e não cumprem.
    Geosapiens said...
    ...pelos vistos a palhaçada do Retail Park de Alcochete...agora travestida de Polvo...é a nova moda...veremos o que estes palhaços...mais conseguem fazer...
    ...primeiro foi o célebre e-mail do Miguel Sousa Tavares...que este negou...com menos repercussões...sobre a família Soares e os terrenos da OTA...agora as bacoradas deste tamanho...
    ...eu não o apoio...ao Mário Soares...mas haja saco para estes gajos de Extrema-direita (sejam estes travestidos em comunistas)...não estão bem onde vivem...vão para o Paquistão...lá não votam...e não há Soares...

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