Um desafio

Decorre hoje, em Lisboa, uma "manifestação" politicamente incorrecta. Ao contrário das últimas, esta não pretende derrubar governos, proclamar direitos, berrar diferenças ou pura e simplesmente exibir rotinas proclamatórias. Encher as ruas de Lisboa com milhares de pessoas unidas pela imagem de Fátima e pela fé na Luz, na pequenina mas revigorante Luz que teima em iluminar os corações mais incrédulos, é, de facto, um desafio. A ignorância atrevida de alguns verá nisto a evidência do mais perigoso reaccionarismo. A esses felizes "iluminados" respondo sempre com a palavra cosmopolita e livre de João Paulo II que não me canso de repetir aqui: "não tenhais medo, abri o vosso coração a Cristo". E, também a pensar neles, desafio à leitura de um livrinho de Joseph Ratzinger, editado pela novíssima Aletheia, A Europa de Bento na Crise de Culturas. "A tentativa, levada ao extremo, de modelar as coisas humanas prescindindo completamente de Deus, conduz-nos cada vez mais para o abismo, para o total esquecimento do homem. Deveríamos então inverter o axioma dos iluministas e dizer: mesmo aqueles que não conseguem encontrar o caminho da aceitação de Deus deveriam procurar viver e orientar a sua vida "veluti si Deus daretur", como se Deus existisse. É este o conselho que já Pascal dava aos amigos não crentes; é o conceito que gostaríamos de dar também hoje aos nossos amigos que não acreditam. Assim ninguém fica limitado na sua liberdade, mas todas as nossas coisas encontram o apoio e o critério de que têm urgente necessidade. Aquilo de que mais precisamos neste momento da história é de homens que, por meio de uma fé iluminada e vivida, tornem Deus credível neste mundo. O testemunho negativo de cristãos que falavam de Deus e viviam contra Ele ensombrou a imagem de Deus e abriu a porta à incredulidade. Precisamos de homens que mantenham o olhar voltado para Deus e aí aprendam a verdadeira humanidade. Temos necessidade de homens cujo intelecto seja iluminado pela luz de Deus e aos quais Deus abra o coração de modo a que o seu intelecto possa falar ao intelecto dos outros e o seu coração possa abrir o coração dos outros. Só através de homens tocados por Deus, Deus pode voltar para junto dos homens."

Publicado por João Gonçalves 15:37:00  

9 Comments:

  1. FM said...
    A verdade é que nunca o homem prescindiu completamente dos deuses, independentemente dos nomes que lhe deu em cada momento histórico. Está por provar que, por tal facto, foi mais feliz. Os deuses tem morrido a um ritmo assustador, quase ao mesmo ritmo das esperanças nos ditos deuses. O facto de o cardeal José Policarpo consagrar Lisboa ao deus dele não espanta: pior seria se só consagrasse o bairro das Marianas, onde um deus faz muito mais falta.
    Mas ofende-me um deus assim. Não quero a minha cidade deificada nem partidarizada nesta luta de deuses mais ou menos importantes.
    Deus, qualquer deus, terá vergonha de um acto assim...
    zazie said...
    «Não quero a minha cidade deificada nem partidarizada nesta luta de deuses mais ou menos importantes.»

    ia jurar que quando a tua cidade é tomada pela propaganda estridente e pornográfica eleitoral, desde que seja do teu partido não te queixas assim...

    há quem tenha sempre um gostinho muito acentuado por tudo o qúe é divindade menor
    FM said...
    Zazie,
    Podes jurar como te apetecer que isso não faz com que seja verdade. Tanto me repugna a conspurcação religiosa como a civil/política.

    A proposito...as divindades também morrem, sejam menores ou maiores.
    zazie said...
    qual conspurcação relgiosa? uma procissão nas ruas da cidade é conspurcação. Olha, então vai lá para os subúrbios de Franças a ver se aprendes o que é uam conspurcação.
    EWra lindo, estes ateus militantes a impedirem liberdade de culto.

    Conspurcou-te o quê? o carro? a mobília de casa? a ida ao cinema?

    não há pachorra para intolerâncias de fanáticos
    zazie said...
    querias Lisboa a ser consagrada em memória histórica a quem?

    ou tens problemas pela existência de história? se tens também tens bom remédio- dedica-te à sociedade robótica que essa nem deuses, nem procissões- é limpinha e vazia como os preconceitos
    zazie said...
    por acaso ainda ont´´em à noite assiti a um cerimónia e récita poética na sé. Estava cheia de todo o tipo de pessoas: desde artistas a grupos de miudagem da zona às mais variadíssima classes sociais e diferentes grupos étnicos. E tudo em paz, apreciando a beleza da música do órgão para no fim acabarem muitos deles em alegres patuscadas.
    Isto para mim é que é um bom exemplo de "integração" e forma apcífica de juntar as pessoas e viver a cidade.
    Mas os ateus militantes são uma espécie de fanáticos à parte. Para além de défice de entendimento do humano aidna carecem do mais básico sentido estético e gregário.

    São gente demasiado amargurada numa raiva de orfandade
    FM said...
    Zazie,
    Leio-te com gosto. Tanto que deixo passar aquela de ateus militantes. És muito preconceituosa.
    Repara que nas sociedades humanas a religião é apenas uma anomalia que nasce e morre. A ideia de um deus tem milenios, mas os deuses morrem, como os homens que os criam. As procissões são manifestações externas da religião sucessivamente adoptadas por quase todas as religiões.
    Não absolutizes nem te iludas.
    Olindo Iglesias said...
    Comparar o Cristianismo, a sua mensagem e a sua base teológica, com os cultos animistas africanos ou o culta pagão da antiga Roma, representa má vontade ou ignorância.
    João Pedro said...
    Os Deuses partem e morrem? é talvez por isso que o nascimento de Cristo marca a divisão de duas eras na história. E que a Igreja católica, com mais de mil milhões de fieis, existe há dois mil anos.

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