Maximiano, Rodrigues, fala. E de que maneira!

Rodrigues Maximiano, magistrado do MP, jubilado ( ou seja, em situação de reservista) deu uma entrevista à Pública.
Uma curiosa entrevista e que deve ser lida de fio a pavio.
Diz que esteve 9 anos na IGAI e que saiu porque achou que já era demais. Mas que o pretexto imediato foi um desentendimento grave com um ministro- Daniel Sanches- um ex-colega do MP...
A "espécie de guerra surda" que se instalou, não fica suficientemente explicada quanto às causas e motivos. Aguardemos.
Diz ainda que "o problema da polícia portuguesa é dos seus quadros. Dos seus oficiais superiores." Não explica. Fica no ar uma hipótese que merece estudo. Os jornalistas que leiam!

Continua a dizer que não concorda com a greve que os magistrados fizeram, nesta altura, mas que uma vez deliberada, fá-la-ia! Interessante...
E aqui explica porquê: " A atitude do poder político em relação aos magistrados é o de apoucamento. Amesquinhar, descredibilizar. Ostensivamente." Diz o óbvio, parece-me, mas que poucos jornalistas entendem. Porque a pergunta que coloca a seguir tem uma relevância fundamental: "
Quando , num Estado de direito democrático, os tribunais não têm o respeito da cidadania, o que é que fica de pé? Só o Governo."

Exactamente! E é esta a questão fundamental que não passa para a opinião pública. É essa a questão que toda a magistratura deveria mostrar como sendo a fundamental!

E continua a explicar ( e a explicação vale a pena ouvir e levar a sério):
"O poder político do fascismo ( o ´fassismo`) nunca tratou o poder judicial como um verdadeiro poder. Tratou-o como uma reserva. Antes de 25A, para satisfazer pretensões de hegemonia do poder político; depois, como qualquer coisa que fica ali, encostada ás boxes."

E põe o dedo na ferida de um assunto que lhe é familiar: o DCIAP. Diz:
" O DCIAP, cuja competência abrange o país inteiro no que respeita a crime de colarinho branco, crime organizado, terrorismo e crime transnacional, a directora não tem uma secretária, uma telefonista, não recebe os jornais, se recebe a visita de uma entidade estrangeira, paga o almoço do seu bolso, não tem viatura distribuida ( os carros são-lhe emprestados pela polícia), tem seis, sete magistrados para o país todo e estrangeiro. E um quadro de funcionários que não digo porque é ridículo."
O culpado? " O Governo"! Arrasador! Isto é que deveria arrasas qualquer ministro da Justiça, na comunicação social habituada a arrasar tudo em títulos!
E Maximiano diz uma coisa extraordinária que muita gente sente e que se fosse verdadeira( como eu e muitos julgam que é), deveria fazer manchetes de jornal: " "Olhando para trás, estes anos todos, tenho uma grande reserva sobre se o poder político alguma vez teve interesse em combater o crime organizado."!!!
E porquê?- pergunta o jornalista.
"Porque se estivesse interessado nisso desenvolvia um processo autofágico."
Simples"! Directo! E não se chama josé ou manuel: chama-se Rodrigues Maximiano, magistrado assumidamente de esquerda, apoiante da cadidatura de Mário Soares ( que seria bem escusado)! E diz o que tem de ser dito, com todas as letras!

O resto da entrevista é sobre assuntos menores: o apoio a Mário Soares, por exemplo. Desnecessário. Até porque um dos aspectos que não foi focado na entrevista, é o assunto triste do fax de Macau e o livro de Rui Mateus.
Maximiano, quer queira ou não, tem essa espinha atravessada na...carreira.
E era escusado, pois é dos melhores magistrados que temos.

Publicado por josé 18:32:00  

3 Comments:

  1. Adelaide Martins said...
    E não se poderia colocar o texto no Blog...?
    josé said...
    Poder...podia. Mas teria que ser scaneado e o Público hoje, só custa 1 euro e 40.
    Além disso, tem outros motivos de interesse: a entrevista de David Justino, por exemplo, vale o custo.

    No entanto, o mais importante da entrevista, do meu ponto de vista, está aí.
    Gomez said...
    Desconfio que o título da entrevista poderia ser "Quem quer casar com a carochinha?".
    A oportunidade deste vistoso pronunciamento do PGA jubilado, (mas "disponível", como a próprio faz questão de afirmar), permite a interpretação de que se trate de "marcação do terreno", tendo em vista uma possível indigitação para futuro PGR.
    A confirmar-se esse cenário hipotético, uma coisa tenho como certa: Portugal não precisa de um PGR "íntimo" da classe política e que faz questão de alardear preferências políticas. As especiais exigências de isenção que devem rodear aquele alto cargo, não são compatíveis com tais aparências, ainda que apenas de aparências se trate e sem estar em causa a idoneidade subjectiva do magistrado em causa.
    A credibilidade do MP, que tão abalada anda, seria certamente prejudicada. Isto independentemente de o hipotético indigitado ser, ou não, "dos melhores magistrados que temos" (José dixit).

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