sobre os 'porta-vozes' de Cavaco

A propósito de uma não-'notícia' , ontem, no Público, relatando a alegada dificuldade que o inner circle cavaquista, na pessoa de Pedro Lomba, estaria a ter em 'angariar' escribas para o blog oficial da candidatura, há algumas notas, a montante e jusante, que se afiguram pertinentes. Por demasiadas vezes o principal drama de Cavaco Silva tem sido mesmo os cavaquistas. Logo, seria bom que a entourage cavaquista, antes que seja necessário o próprio candidato recordar-lho, se fosse lembrando permanentemente de duas ou três factores básicos.

O primeiro, é a de que a candidatura é supra-partidária, nacional, plural e interclassista, nascendo da vontade profund a dos portugueses, e não da de um qualquer directório ou élite, partidário ou não. Por vontade das 'élites' Cavaco jamais seria candidato, muito menos Presidente da República, ponto. O segundo, é de que um apoio a Cavaco não deriva nem implica uma qualquer simpatia automática para com as ideias da área política de que este é oriundo, mas tão somente a convicção firme e profunda de que, no presente contexto, Cavaco Silva, sobretudo pelo que fez desde que deixou de ser primeiro-ministro, é a personalidade com o melhor perfil para Presidente da República nesta fase difícil que o país atravessa.

É , pois, preocupante, e redutor, um certo exercício de estilização que se vai notando. Não há, não tem que haver, uma plataforma política comum a todos os apoiantes da candidatura que ultrapasse o óbvio - o desejo de ver Cavaco em Belém, e a subscrição do manifesto político da candidatura, muito menos parece curial querer passar a ideia de uma 'frente' comum (de direita) monolítica, lembrando tempos idos. A grande mais valia de Cavaco é precisamente a diversidade e ecletismo da sua base social de apoio, a qual está muito para lá deste ou daquele espartilho ideológico. O pior serviço que os cavaquistas poderiam prestar seria, a exemplo de Soares, o de cederem à tentação de reduzir tudo, já basta Marcelo, a um elaborado jogo de xadrez, florentino e palaciano, onde conta tudo, menos o que realmente interessa aos portugueses. Cavaco tem, hoje, condições únicas para reconciliar os portugueses com a política, reaproximando-a, e ao debate político, dos cidadãos. Seria dramático, e penoso, se fossem os seus próprios acólitos em excessos de 'estilo', zelo, 'profissionalismo', até de micro-management, a inviabilizar que tal aconteça, cedendo à tentação de reduzir, e resumir, a campanha aos do costume, no formato do costume, numa redutora batalha esquerda/direita.

Cavaco Silva já disse que só ele era o seu próprio porta-voz
. Por isso, deixe-se que, naturalmente, de entre a sua base de apoio, quem tem ideias, protagonismo, visibilidade, e o seu próprio espaço, já conquistado, o use , sem artificialismos, para passar a 'mensagem', e as ideias, que interessam. Dessa forma, essas ideias , diversas e plurais, valerão mais, terão muito mais força, mais visibilidade, mais impacto, no seu meio próprio e natural.

Para terminar, e regressando à não-'notícia' inicial, parece razoável a existência de um blog pessoal do Professor Cavaco, onde este relate a sua vivência no dia-a-dia da campanha. Também parece razoável um outro, colectivo, onde transpareça o esforço da equipa que no dia-a-dia mantém a campanha na rua. Quanto ao resto sugere-se um 'planet' onde sejam agregados os textos que, quer na comunicação social tradicional, quer na blogosfera, são publicados sobre a candidatura. A entronização de 'comentadores' oficiais, escolhidos a dedo e 'sized to fit', seja qual for a lógica e a liturgia, é algo que não acrescenta e só diminui.

Publicado por Manuel 15:03:00  

0 Comments:

Post a Comment