equivocos & presidenciais... (reloaded)
terça-feira, outubro 25, 2005
Enquanto o candidato oficial do partido do Governo, a Presidente da República, sente necessidade de explicar que 'também' ele garante a estabilidade política, o que não deixa de ser sintomático e revelador, continuam os balanços sobre o cavaquismo. A este propósito convém recordar uma prosa já antiga, publicada em Julho, onde se tentei colocar as coisa na sua devida dimensão.Até porque, sendo legítimo não gostar, de Cavaco, convinha que se dissesse explicitamente a verdadeira razão porque não se vota em Cavaco, a qual me parece ser, na esmagadora maioria das vezes, estritamente ideológica e derivada da tradicional 'superioridade intelectual' das esquerdas, mais do que baseada numa análise concreta e racional...
Já o escrevi, por aqui, em tempos - que tecnicamente não sou um cavaquista, mais, duvido muito que o cavaquismo, tal como é apresentado por detractores e adeptos, alguma vez tenha existido. Dito isto, é penoso, verdadeiramente penoso, assistir recorrentemente a uma espécie de coligação entre uns e outros com vista a reescrever o passado, que nunca é apresentado como foi mas ou mitificado ou diabolizado. Por estes dias é dislate, atrás de dislate, uns donde se esperaria, outros nem tanto.
O Prof. Cavaco, e a sua governação, é assim apresentado ou como a fonte de todas as virtudes, ou como a raíz de todos os males, não havendo, ao que parece, espaço nem para o meio termo, nem para um mínimo de sensatez. Falta a uns e a outros um mínimo de humildade, a uns, reconher que Cavaco foi de facto o melhor primeiro-ministro da Democracia Portuguesa, e a outros, que tendo sido um excelente primeiro ministro, e até por via da sua qualidade humana, cometeu erros, alguns grandes.
Parece contudo, que não é por via do que Cavaco fez ou deixou de fazer enquanto foi primeiro-ministro que agora - em meu entender - deixa de ser a personalidade adequada para exercer o cargo de Presidente da República. O prof. Cavaco é - no momento - o presidente da república ideal essencialmente por aquilo que fez, e não fez, sobretudo desde que deixou de ser primeiro ministro.
Alguns apontarão a alegada frieza do personagem, outros a alegada falta de cultura, outros ainda o não elitismo do natural de Boliqueime como factores que o desqualificam para o cargo mas, no balanço das virtudes e defeitos, e até por via da sua própria evolução pessoal, Cavaco personifica o cocktail ideal que se espera do próximo presidente da República.
Ao contrário do que se pode dizer de outros - vide o Dr. Soares - nunca, mas nunca em tempo algum, se viu o professor Cavaco interferir desde que abandonou a actividade política activamente na mercearia política. Desligou-se completa e cabalmente do PSD, deixando-o entregue ao seu destino. Todas as intervenções do Professor Cavaco o foram dirigidas ao país, e ao sistema político em geral, abstraídas de questiúnculas partidárias, e grosso modo sempre dessa forma foram - a seu tempo - assim interpretadas. Mais, foi o primeiro a chamar a atenção para o monstro - em tempo de vacas gordas - pelo que não deixa de ser soez a acusação de que o pai do dito é afinal ele (factualmente Portugal e Espanha só começaram a divergir com Guterres já Primeiro-Ministro...). Dito isto, só por má-fé ou manifesta ignorância é que se pode insinuar que Cavaco será - por definição - um Presidente belicoso vocacionado para salvar e vingar a honra das direitas (mas quais ?). Cavaco, ao longo do tempo, sempre demonstrou um apurado sentido de estado e de responsabilidade que o levaram aliás a ser acusado por (ex?!) correlegionários seus de traidor já que ainda no Verão passado pôs claramente os interesses do país - face aos delírios santanistas - à frente dos da força política de que foi líder.
Há - é claro - um fantasma que persegue o Prof. Cavaco - os proclamados cavaquistas. Acontece que ao contrário de outros, e mais uma vez temos a inevitável comparação com o Dr. Soares, nunca o Prof. Cavaco fez questão de ter uma corte, uma quota, ou uma seita, à diposição, nunca, do Além, negociou lugares ou deixou que os regateassem em seu nome, percebendo sempre, e em todo o momento, rigorosamente qual era o seu lugar. É verdade que deixou um estilo, estilo esse pessoal e intransmissível, impassível de ser imitado. O cavaquismo é se o quisermos uma mistura blended de competência e eficâcia, associada a uma gestão política apurada e nunca - como muitos, até auto-proclamados cavaquistas, o querem pintar - uma mera associação de tecnocracia com carisma.
A votos em Janeiro de 2006 vai um Homem, apenas é só um Homem. Um ex primeiro-ministro que não enriqueceu à custa da política, que não se deslumbrou com o poder, e que enquanto o deteve fez o melhor que pode e soube. É verdade que cometeu erros - a sua falta de sensibilidade - à época - para áreas fundamentais como a educação e a saúde - onde teve tantas políticas (divergentes) como ministros ainda hoje saem caro ao país, sendo que - registe-se - ninguém ao tempo questionou verdadeiramente essas mesmas politicas. É verdade que se enganou em algumas escolhas pessoais que fez, quem não engana ? É fácil - dizer-se agora - que com os recursos de que Cavaco dispôs se faria melhor. Talvez se fizesse, mas outros tiveram tantos ou mais recursos e nem aos calcanhares lhe chegaram. Dentro do - humanamente - possível ninguém fez mais, e melhor, que ele.
Por outro lado Cavaco tem uma característica rara num político - o desprendimento, total e absoluto, pelo poder. Nunca o acusaram de pôr o PSD, e os seus interesses, à frente dos interesses do País, e - recorde-se - quando em consciência achou que não tinha mão no PSD saiu. E se o PSD ao fim destes anos todos ainda não se libertou de alguns dos tiques que levaram Cavaco a afastar-se, ninguém em seu pleno juízo pode acusar Cavaco de verdadeiras responsabilidades. Os tabús, os incompreendidos tabús, são, e foram, apenas e só a corporização da rejeição aos timings do sistema e do politicamente correcto.
Desenganem-se pois aqueles que veêm em Cavaco o salvador, ou o derradeiro redentor. Não é por isso, ou para isso, que Anibal Cavaco Silva deve ser Presidente da República.
Devê-lo-á ser porque - em tempo de crise - Portugal e os portugueses precisam de um referencial de estabilidade, de credibilidade, de alguém que saibam, tenham a certeza, que não tem agendas secretas ou camufladas. De alguém que mais do que deixar uma derradeira herança quer apenas e só servir Portugal.
Mas, há ainda uma outra classe de razões para se desejar que o Prof. Cavaco chegue a Presidente da República. É um facto que o actual sistema político funciona mal, tem vícios, e está, mais dia, menos dia, condenado ao fracasso, e também é um facto que per se não se regenerará tão cedo. Ora, a candidatura de Cavaco Silva não será nunca partidária, uma boa parte do aparelho do PSD abomina-o até, mas popular, basista, não será a esquerda vs a direita, mas sim o confronto entre diferentes maneiras de ver Portugal e o mundo, reconciliará pois os eleitores com o eleito, porque sendo desintermediada e livre de vícios aparelhístico-partidários.
Queira Cavaco e, nesta campanha presidencial que se avizinha, pode iniciar uma autêntica revolução - desde logo ao nível do financiamento - aceitando só e apenas , com toda a transparência, doações dos seus apoiantes, desde logo ao nível da participação, fugindo à habitual triagem aparelhistico-partidária, desde logo ao nível dos temas já que pode falar de tudo sem constrangimentos.
O Prof. Cavaco tem hoje - como ninguém - condições objectivas e subjectivas, de fazer o que o país mais precisa - de pensar sobre si próprio - sem auto-censuras politicamente convenientes - e de olhar para o futuro. Dele não se espera que seja tutor ou fiador de coisíssima nenhuma, apenas que seja um garante de progresso e desenvolvimento.
Associada a este upgrade qualitativo - nomeadamente quando comparado com o perfil do ainda titular do cargo - teremos a inevitável, e que só peca por tardia - requalificação do sistema politico-partidário, à esquerda e à direita. À esquerda por cairem de vez os mitos, à direita, porque o Prof. Cavaco será, não duvidem, o primeiro a distanciar-se, e a exigir distância e responsabilidade, até porque qualquer neocavaquismo para o poder ser terá de ser primariamente descavacaínado...
É, para terminar, redondamente falso que o embate entre o Dr. Soares e o Prof. Cavaco seja o embate entre duas figuras do passado. Se pode ser dúbio que o Dr. Soares tenha evoluído nestes últimos 10 anos (e convinha que ele precisasse de novo a sua interpretação dos poderes presidenciais até para o Dr. Sócrates poder dormir mais descansado), não se percebendo o que pode ter a acrescentar, só por manifesta cegueira é que se pode arguir que o Prof. Cavaco não evoluiu, e sobretudo não aprendeu com muitos dos seus erros passados.
Face ao panorama e para alguns, a tentação abstencionista poderá até ser grande mas, na hora da verdade, a pergunta a que é preciso responder é uma e uma só - num momento de aperto, de crise, de incerteza, em quem se confia para tomar uma decisão dura (e que tanto pode passar por exemplo por deixar cair como por segurar Sócrates, a quem já muitos no PS querem de facto e desde já dar a cicuta), difícil mas necessária ? Em Cavaco? Em Soares ? Quem estará mais livre, e imune a pressões ? Tudo o resto, não sendo assessório, quase que passa para segundo plano.
É por tudo isto, e com o à vontade de quem já criticou e há-de, com certeza, voltar a criticar, que eu não posso deixar de votar no Prof. Cavaco.
Publicado por Manuel 13:10:00
gostava de saber onde é que a filha, uma jovem estudante na época, foi arranjar 50 mil contos (a preços da época em que Cavaco tomou posse pela 1ª vez como 1º Ministro) e mais os custos das obras de remodelação da Farmácia aqui na Nova Campolide.
Seria das bombas de gasóleo de Boliqueime?
Podia não ter enriqueciso "muito",
mas o suficiente para passar despercebido, (ok?)
mas, p/e. se pensarmos melhor, ele coexistiu durante 10 anos com o sr Major das batatas,,, pacificamente
que
p/e. se deixou apanhar,,,
Quanto ao resto... e à referência ao senhor major das batatas a linha de argumentação é absolutamente espantosa. A Cavaco é imputável tudo o que de estranho e mirabolante aconteceu naqueles anos (quer soubesse, quer não soubesse, quer pudesse interferir, quer não) já sobre Soares, qualquer pergunta 'extra', como por exemplo sobre Macau, onde teve intervenção explícita e directa, terreno fértil muito para além das meras especulações e suposições, é vista como uma provocação... Q.E.D.
Os apoios apaixonados é nisto que dão: perde-se a razão.
1º apontamento
...tradicional "superioridade intelectual" das esquerdas...
Uma coisa lhe digo, caro Manuel: nunca um governo de esquerdas nomearia Pedro Santana Lopes secretário de estado da cultura.
NUNCA !
2º apontamento
qual a necessidade de reforçar o duelo cavaco/soares ?
uns por umas razões (os tabus) outros por outras (macau e etc.) NÃO SERVEM A DEMOCRACIA (?) PORTUGUESA.
Um pelas "pulsões" messianicas (Hitler sofria do mesmo mal, e veja-se no que deu...)o outro sofre do mal dos euricos, e também não serve.
O que resta? não sei ! só sei que estes dois, NUNCA !
OS DOIS !!!!!!!!!!!!!!!!!!
O Cavaco pode ser um português em quem confio mais do que no epicurista MSoares. Pode. E é.
Mas daí, até ser um presidente da República por mérito, vai uma distância como a que separa a lagartixa de um jacaré para usar um termo comum apropriado por um certo blogger.
A derrocada moral deste país, em termos de anomia que se generalizou, começou exactamente com Santana e o CCB.
Nessa altura muita gente se escandalizou com o facto de a obre ter sido orçamentada em alguns milhões de contos e ter sucessivamente passado fasquias e mais fasquias de poucas vergonhas de obras a mais.
Quem pagou efectiva e realmente a sede nacional do PSD, em Lisboa?!
Enfim, nem quero comentar mais.
Sobre este assunto, fico arrumado. Só se me esquecer...
vc é um bocado "ingénuo" não é? (ou tem algum tio na Banca)
uma jovem de 20 e picos anos, acabadinha de sair da escolinha consegue um empréstimo de 50 mil contos em 1987?
a vender gasóleo?
deve ter sido é do negócio das chiclets junto à caixa registadora
ps - e o que é que o facto de alguém se pronunciar sobre isto tem a ver com "civilidade"?