'os imbecis'

O Professor Marcelo Rebelo de Sousa revelou ontem na RTP que tem uma teoria muito própria que explica determinadas resultados eleitorais: a chamada "dinâmica de vitória" que beneficia os candidatos que conseguem em campanha mobilizar os eleitores e se apresentam na frente das sondagens dias antes da eleição. Tal "dinâmica" teria dado a vitória a Rui Rio no Porto, por exemplo. Nem com Judite de Sousa a recordar-lhe o falhanço clamoroso das sondagens em Lisboa em 2001 e a disparidade de números nas projecções deste ano o Professor recuou. O que a teoria de Marcelo deixa transparecer é a noção muito recorrente em diversos comentadores, na imprensa e mesmo em alguns responsáveis por campanhas políticas de que os eleitores são, numa palavra, imbecis, e pautam as suas decisões por raciocínios simples, próprios de quem tem cabecinha fraca. Assim, iludem-se com campanhas barulhentas e coloridas, vendem-se por esferográficas e autocolantes e votam em quem já ganhou. Esta noção, para além de já ser velha e relha, é prima daqueloutra, absurda e muito em voga até há pouco tempo, de que o eleitorado age como um indivíduo e de que não gosta de "pôr os ovos todos no mesmo cesto".

Mas será tão difícil entender que quem não se interessa ou voluntariamente se alheia da eleição não vai ser convencido por pirotecnias eleitorais? Pura e simplesmente, não vota. Como é que alguém como Marcelo, à revelia de todas as evidências e experiências passadas, considera que os 5% de indecisos são o retrato fiel do comportamento dessa entidade mítica que é "o eleitorado" do Porto? Só mesmo quem vive "numa bolha , a ver o mundo passar" é que não entende que os indivíduos que votam, fazem-no bem conscientes daquilo que mais lhes convém, de acordo com critérios muito claros e objectivos. É curioso analisar que alguns dos maiores derrotados de ontem (Jorge Coelho, Carrilho, Mário e João Soares) foram precisamente aqueles cuja sobranceria mais desprezou a inteligência dos eleitores.
Poderemos até ser egoístas, venais e rancorosos quando votamos (e com certeza somo-lo muitas vezes). Imbecis é que não.

in Gândavo

Publicado por Manuel 15:56:00  

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