o resumo possível...
sábado, outubro 22, 2005
Matai-vos uns as outros!
Voltei! E logo para me irritar! No dia em que o Ministério Público lança o que chama de uma «mega-operação» de busca eu vejo na imprensa que, por causa dela, andam na Procuradoria a pôr processos-crime uns aos outros e a dizê-o em comunicado, para que conste. Mais, dizem que a dita operação ainda não conduziu, entre os buscados, à constituição de arguidos. Bravo! O saldo é positivo: uma operação destas e os únicos arguidos por junto são os próprios investigadores, por causa do triste segredo de justiça! Ah! E uma bela fotografia no «Diário de Notícias», já me esquecia.
José António Barreiros
Ainda a propósito deste assunto, algumas notas.
A primeira, para notar que não é preciso atribuir a nenhuma cabala ou conspiração aquilo que pode (facilmente) ser explicado pelo desleixo, pelo laxismo, irresponsabilidade ou pela incompetência.
A segunda, para notar que, em campos opostos, Ricardo Espírito Santo Salgado e Cândida Almeida, partilham de uma mesma filosofia de vida, a do relativismo moral. Se, na passada terça-feira à RTP, Ricardo Salgado tudo resumia a uma ou outra 'negligência', ontem a responsável máxima do DCIAP, e das operações em curso, resumiu a monomental gaffe que permitiu ao BES saber que não era o único investigado, a uma mera e inócua 'falta de atenção' numa performance televisiva das mais vergonhosas de todos os tempos para a credibilidade da Justiça portuguesa.
Recorde-se que ontem foi o dia em que Souto Moura, com a falta de tacto e habilidade habituais, veio queixar-se, a propósito da operação judicial em curso, da comunicação social, das fugas de informação e da violação do segredo de justiça, ao mesmo tempo que deixava nos jornalistas o onús, e mais um round de processos, por estes se recusarem a revelar - sistematicamente - as fontes, só que, e o mundo é cruel, agora sabe-se quem foram as fontes...
Entretanto, e a reboque da pressão mediática, e do ridículo, só hoje é que a PGR resolveu 'clarificar' aquela que deveria ter sido a primeira coisa a ser dita por Cândida Almeida - se tivesse a mínima noção das coisas e da responsabilidade do cargo que ocupa - quando confrontada com os factos - que no processo de averiguações (à violação do sigilo) anunciado por Souto Moura estaria incluído também o próprio DCIAP de modo a averiguar da inocência da gaffe.
Que não haja dúvidas - as investigações em curso são das mais importantes jamais realizadas, mas se chegarem a algum lado, não será por causa de algums dos responsáveis nominais de topo - entre os quais se inclui Cândida Almeida - será apesar deles. Falta-lhe o mínimo dos mínimos de sensibilidade para perceber o que está em jogo, e actuar em conformidade, mas, sobretudo, falta-lhes o essencial - falta-lhes a humildade, a humildade de reconhecer que são humanos, que não estão acima do povo, mas que actuam em seu nome. Ontem, em breves instantes na TV, que pareceram uma eternidade, se dúvidas havia ficaram todas dissipadas. Obviamente que ainda ninguém colocou o lugar à diposição, certamente por 'falta de atenção'.
Publicado por Manuel 19:53:00
3 Comments:
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A divulgação das buscas, antecipadamente, apresenta o mesmo grau de gravidade do que a divulgação comprovadamente ( as gravações dizem-no) efectuada pelo então director da PJ Fernando Negrão, no caso Moderna. Se bem se lembram, o mesmo disse a um jornalista, com aquele ar empertigado de pescoço garimpado, que se efectuariam buscas na semana seguinte às instalações da universidade...
Agora, o que confrange é ver, mais uma vez, a PJ a aparecer como a dona e senhora da competência técnica pela estratégia e tácticas processuais, e que até se dão ao luxo de criticar aberta mas anonimamente, a acção do MP!
Estes inspectores que assim actuam,divulgando por jornalistas aquilo que deveriam reservar, deviam pura e simplesmente passar a tratar de expediente processual e mais nada.
Mas se calhar têm toda a razão...
COmo é que se sai deste beco?!
talvez se trabalhassem mais e melhor e se em vez de se atropelarem uns aos outros para fazerem declarações aos jornalistas se preocupassem em educar os colaboradores; se apenas se pretendessem ser competentes em vez de quererem apenas ser conhecidos; talvez...