Mãos Limpas - O caso que começou em Barcelos
Uma Causa, Um Manifesto

O País atravessa, todos o sabemos, um momento díficil. São pedidos aos portugueses, todos os dias, sacríficios. É pedida a compreensão dos portugueses para a tomada de medidas que visam o saneamento das contas públicas, isto é de um Estado que gasta bem mais do que aquilo com que conta como receitas. Sabia-se, e sabe-se agora com mais certeza ainda, que verbas de larga magnitude, existiam 'por aí', naquilo que é designado por economia informal ou paralela, mas que nunca eram tributadas, lesando o Estado em milhares de milhões. Hoje sabe-se que foi iniciada uma operação que ameaça pôr a descoberto todos esses milhares de milhões. Sejamos francos e claros - não vão ser esses milhões, por muitos que sejam, que vão evitar a racionalização do Estado e as reformas de que o País precisa. Com défice, ou superávit, o país precisa de reformas e estão são pois não só inevitáveis como incontornáveis, ponto. Dito isto, que moralidade tem o Estado, o sistema, de exigir a uns sacríficios quando não faz tudo o que pode, e está ao seu alcance, para cobrar dos 'outros' o que é legítimo e espectável ?

Nos próximos dias vai-se saber se há democracia em Portugal, ou se há - só e apenas - uma elaborada oligarquia. Vai-se saber se há realmente coragem de atacar um problema de fundo pela raiz, coragem essa, que pode - é bom ter consciência disso - alterar estruturalmente muitas das 'bases' da nossa economia, e muito do que davamos por adquirido. Os mercados, a bolsa, não acreditam que nada de 'grave' ou estruturante vá acontecer, e tem razões para isso. Já começaram as guerrinhas de vaidades, os contactos informais, e os apelos aos interesses da pátria e à salvaguarda da 'imagem' do país, o costume aliás. O Governador do Banco de Portugal não vê razões para se demitir e fala-se é na demissão sumária de Paulo Macedo, da DGCI, o único que fez aquilo para que é pago. Eu não sei se as investigações irão a algum lado, muitos dos protagonistas, de um lado e de outro, não me inspiram a mínima confiança mas sei que desde a revolução dos cravos nunca houve uma oportunidade tão boa para tornar este país mais respirável, mais justo, solidário, e mais transparente.

Mais democrático, porque no limite o que está em causa, é tão somente saber se a Lei se aplica a todos, ou se desta estão excluídas as grandes fortunas, e os grandes, deste país. Curiosamente ainda não vi nenhum partido, da direita à esquerda, sussurar uma palavra. Percebe-se. Entre o sistema em que floresceram, e algo novo, emergido dos escombros, preferem o conhecido ao desconhecido. Também não vi, nas magistraturas, ninguém apelar à coesão, ao esforço colectivo, à abnegação, apelar a que não faltem meios nem recursos, a algo que pode mudar, para melhor, a face do país, e melhorar, e muito, a imagem que os cidadãos deste país tem da Justiça. Preferem fazer greve.

Por isso, torna-se imperioso que a sociedade civil se organize, a blogosfera em particular, e dê às coisas a sua devida dimensão. Podem comeaçar por linkar este texto. Os aderentes serão regularmente enumerados.

Publicado por Manuel 15:06:00  

2 Comments:

  1. xatoo said...
    Quer-me parecer que chegaram atrasados às dúvidas sobre se há ou não há "democracia"
    A escolha tem sido sempre entre a democracia da alternância remendada entre os dois parceiros do Bloco Central,
    e agora esta "proposta que ninguem pode recusar" uma versão mais musculada do mesmo Bloco Central, aconselhada pelo padrinho alem-Atlântico?

    e a escolha só pode ser:
    NEM CAVACO NEM SOARES
    para já,,,
    xatoo said...
    "a imagem que os cidadãos deste país tem da Justiça"
    é a mesma que o sistema tem de nós:
    o próprio ministro da "Justiça" que hoje temos, alguem se lembra, foi uma das figuras gradas do escândalo Emáudio.
    Uma imagem esquecida, portanto.

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